03:00

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Eu não vou mentir que não estive doente nos últimos dias, pois mesmo se eu tentasse meu rosto entrega minha angústia pra quem seja que olhar para mim. Todo tempo que passei com heeseung permeia minha mente e por mais que eu tente não me importar com isso, estou preocupado com seu desaparecimento.

Quando olhei para o relógio marcando 03:00 eu percebi que o dia passou e eu estive preso nesse quarto, recebendo mensagens, temo que comecem a suspeitar de mim.

Andei até o banheiro, está fazendo frio e eu só precisava de um banho quente. Abri  a torneira esperando a banheira encher d'água, enquanto isso tirei minhas roupas e adentrei a banheira, sentindo a água morna em contato com a minha pele, observei as cerâmicas que haviam na parede, o que eu nunca havia reparado, formavam desenhos abstratos mas que dê certo modo lembravam algum tipo de arte floral.

Flores, rostos, nuvens, duas cabeças em um único corpo:

Ali fiquei por breves minutos até mergulhar minha cabeça na água, submerso observando o teto percebi como a luz da lâmpada se tornou mais fraca, piscou algumas vezes; mas como se não bastasse a água que antes estava morna passou a esquentar, esquentou o bastante e aquilo era algo improvável, não podia não era comum.

tentei me erguer mas algo me prendeu contra o chão da banheira, a água esquentou tanto que era insuportável estar ali, minha pele ardia, estava derretendo, eu lutei para sair daquilo, gritei debaixo daquela água fervendo,mas algo segurou meu pescoço, eu não conseguia sair. Então eu fechei os olhos quando me dei por vencido e quando abri novamente, a água estava normal, a luz estava clara - eu me ergui podendo finalmente respirar fundo, respirei ofegante, observei minha pele, eu estava normal.

Enrolei a toalha em volta da minha cintura e andei até o espelho, estava embaçado, o que não é comum durante um banho de água morna.

Naquele momento eu não sabia mais distinguir a ilusão da realidade, mas pareceu real.

Limpei o espelho com a mão e assim que olhei meus olhos eu escutei alguém falar, próximo a mim.

-Tentar escapar de mim torna todas as suas funções inválidas - olhei para os lados, naquele banheiro pequeno - As suas pernas não vão te ajudar a correr, sua voz não vai ser ouvida, seus olhos enxergam a escuridão. Que graça tem entrar em um jogo sabendo da derrota?

Aquela voz não me era estranha, eu podia jurar já ter ouvido em algum momento da minha vida medíocre. Falava coisas insuportáveis, mas sua voz era doce e aveludada.

-Seja lá o que você for, eu não tenho medo.

Escutei sua risada ecoar em meus ouvidos, gargalhava alto como se eu tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo.

-Claro que não tem, acha que pode mentir para mim? Acha que não vejo você rezar todas as noites esperando que algum ser superior.

-Deus - o interrompi.

-Que seja, é inútil. Eu sei de todas as coisas que você faz, sei onde anda, com quem anda, e é lamentável, sua vida é completamente sem propósito, pra falar a verdade eu acho engraçado.

-Você nem sequer existe, pode ser um delírio da minha cabeça.

-Pense o que quiser, tem minha permissão para pedir ajuda quando precisar, posso garantir que vai ser mais válido.

-Eu não preciso de você.

-Dessa forma posso me sentir ofendido.

-Não me importo, desapareça.

666 - JaywonWhere stories live. Discover now