20 | chefe

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"Estou doente e estou cansando também
Posso admitir, não sou à prova de fogo
Eu sinto isso me queimando"

The beach —  The neighbourhood.

Me sento sobre a cadeira da boate, estava lotada e depois desta semana sem vir parecia que havia me desacostumado em ficar tanto tempo rodeada de luzes coloridas e música alta por horas

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Me sento sobre a cadeira da boate, estava lotada e depois desta semana sem vir parecia que havia me desacostumado em ficar tanto tempo rodeada de luzes coloridas e música alta por horas. Remexo nos papéis de cardápio onde está escrito diversos copos de bebida.

Sinto alguém se aproximar e logo Rick se põem ao meu lado, com uma cara séria e os músculos tensos, dava para reparar de longe o seu nervosismo.

— o que foi? — eu questionei, com as sobrancelhas juntas.

— o chefe, ele virá essa noite — ele murmura e então suspira, se encostando na bancada.

Em todo o tempo em que trabalhei aqui, jamais pude ver o rosto do chefe, nem mesmo ouvia falar sobre ele, o que de fato era estranho contando que ele era o dono dessa boate e não vir aqui era estranho. Eu fiquei observando o movimento enquanto minha mente viajava para longe, ainda com esse papo na minha mente.

Poucas vezes ouvia ser mencionado, na maior parte era nas "reuniões" pequenas que fazíamos aqui, o que era quase nunca. Já ouvi ser chamado de babaca, pedófilo e tarado pelas garotas dessa boate, outras até o chamavam de assediador longe de ouvidos que podem escutar e fofocar diretamente para ele sobre esses rumores.

Eu não gostava de pensar nisso, o medo se apossou de mim na mesma hora em que os pensamentos ruins tomaram conta, eu não podia passar por toda essa merda novamente. Talvez desta vez eu não seria forte igual fui na primeira vez.

Porra, e tudo piorou quando um homem de terno entrou pela porta de entrada, sendo seguido por alguns caras atrás. Ele andava observando o lugar e quase na mesma hora tive a certeza de que era ele.

— aí está ele — meu amigo murmurou em meus ouvidos, quase temendo falar essa frase.

Ele se colocou diante de nós dois e encarou a nossa alma, parecendo tranquilo fisicamente. Seu olhar se atraiu em mim, o que me fez engolir em seco com medo absurdo tomando conta a cada respiração minha. Eu não quero parecer assustada, na verdade eu ODEIO parecer assustada.

— quem são vocês?

— Talissa — murmuro, em uma voz alta que quase foi ofuscada pela música — e é esse Rick.

— Talissa... — ele suspira logo após ter dito meu nome, o que pareceu estranho o ouvindo falar — meu nome é Derin.

Sinto a sensação se tornar presente, a mesma sensação de algo me observando, olho ao redor disfarçadamente, observando cada centímetro da boate até me deparar com aquela sombra escura, a qual parecia me comer com os olhos.

Eu logo tratei de desviar, observando o Derin conversar com Rick, e tento sair aos poucos para não ter que ficar perto desse cara que me passa a sensação estranha.

Eu dei as costas mas antes que pudesse me afastar, uma mão rodeia meu braço e sinto bile subindo entre minha garganta. Eu me viro, com um sorriso falso e desconfortável para ver a visão de Derin me observando e medindo com um olhar nojento, agora estamos sozinhos sem a presença de Rick e meu coração fica ainda mais acelerado.

Olho ao redor, meus olhos vão até o local onde a sombra estava antes, mas ela parece ter sumido. Eu não sei porque acharia que ela estivesse ali me protegendo igual quando era criança, mas eu gostaria de acreditar mesmo sendo uma ideia idiota de se pensar.

— não terminamos nossa conversa, querida — a forma em que ele murmurava as palavras me fez estremecer de medo.

— não precisa encostar para conversar — falei de forma rude, puxando meu braço do seu aperto.

— vejo que é mal criada — ele me encara agora de maneira diferente, o semblante relaxado passou para um com desdém — esperava que fosse mais receptiva com seu chefe, ou se esqueceu que estou em um lugar bem mais alto que você na pirâmide?

— aqui não tem pirâmide, por ser chefe não significa que deva encostar suas mãos em mim, eu não ligo se você que manda aqui.

— eu posso te fazer perder o emprego em um estralar de dedos, então, como vai fazer para se sustentar? Vai se prostituir? Vender seu corpo para conseguir colocar comida na mesa? — ele ironiza, o sorriso nojento crescendo em seus lábios.

O sangue quente ferveu enquanto as minhas mãos se fecharam em punhos, mas antes que pudesse ao menos responder ele, sinto o cheiro de colônia forte e de cigarro preenchendo o cheiro das bebidas fortes do local. Não precisei olhar para trás para saber que era Damien perto de nós, o calor do seu corpo se parou atrás de mim e pude sentir Derin vacilar por um tempo.

— está tudo bem aqui? — a voz rouca do garoto tatuado sai quase em forma de ameaça e quando me permiti observar ele, seus olhos estavam vidrados no rosto velho e barbudo de Derin.

— está tudo bem, de qualquer forma, vou voltar ao meu serviço — ajeito o avental e coloco meus cabelos para trás, seguindo meu caminho até o balcão.

Damien sempre estava perto, independente da situação e de onde eu estiver, parece que sempre posso sentir o seu perfume e colônia forte de longe, o que de fato é assustador.

Rick não estava mais aqui e em seu lugar estava uma garota ruiva, magra e de olhos claros como o céu. Ela cheirava a simpatia e inocência e me pergunto o motivo de uma garota que parece tão boa estar em um local nojento como esse.

Mas a vida é isso.

Não importa o quão boa você pareça ser, sempre haverá enrascada no caminho que seguir, algum trauma, algum empecilho que te prende no lado obscuro da vida. As pessoas fortes conseguem voltar, e eu gostaria de ser forte, gostaria de esquecer os traumas que me assombram, e seguir a minha vida dando sorrisos verdadeiros. Mas esse não é meu caso, mesmo que eu queira e ore por isso, apesar de que ache que Deus não fará mais nada em minha vida.

Eu gosto de me sentir feliz, mas isso acontece quando estou chapada, ou bebada.

Ou quando estou com Enora e Damien.

DAMIENWhere stories live. Discover now