42 | vida normal.

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"Pés, não me falhem agora
Me levem até a linha de chegada
Oh, o meu coração se parte a cada passo que dou
Mas espero que nos portões
Eles me digam que você é meu"

Born To Die — Lana Del Rey.

Coloco os dois copos lotados de gelo e uma garrafa de Whisky sobre a mesa de um casal e saio tão rapidamente que mal posso escutar os seus agradecimentos

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Coloco os dois copos lotados de gelo e uma garrafa de Whisky sobre a mesa de um casal e saio tão rapidamente que mal posso escutar os seus agradecimentos. Eu olhei pela última vez para os dois, antes de voltar a bancada e sentir meu peito doer como se uma bala tivesse sido atirada em meu coração.

Eu respiro fundo buscando oxigênio e antes mesmo do próximo pedido, me vejo correndo entre o corredor extenso e pouco iluminado da boate. Eu bato minhas mãos na porta do banheiro abrindo e correndo até uma cabine. As garotas que olhavam para o seu próprio reflexo agora me encaravam com uma careta, ignoro elas.

Eu me ajoelho no chão e sinto a comida de hoje mais cedo voltar. Seguro nas laterais imundas do vaso sanitário e sem ao menos me segurar, deixo que tudo saía. As lágrimas grossas escorriam ao mesmo tempo, senti tudo vir átona nesse momento. O aperto e o incômodo no peito ainda estavam aqui comigo, me arruinando, me jogando para o fundo do poço, de onde estou tentando sair.

Eu ignoro todos os pensamentos que vinham em minha cabeça, eu tento o afastar de mim mesmo ele não estando presente, nada dessa merda funciona. Meu corpo implora por ele, meu subconsciente, eu. Tudo ao meu redor conspira trazendo ele de volta nas minhas lembranças.

Quando sinto que tudo foi jogado para fora, eu me encolho sobre a lateral da cabine e abraço meu próprio corpo, deitando minha cabeça em meus joelhos e sentindo o sentimento de vazio preencher todo meu corpo. Eu soluçava enquanto tentava arranjar uma maneira de parar isso para voltar a trabalhar, para voltar para minha vida normal.

— ninguém te faz ficar assim e fica vivo Talisa, você é a minha garota e eu vou cuidar de você até onde a minha vida merda durar. Vou proteger você como sempre deveria ter sido, e vou cuidar das suas feridas. Eu sou quebrado, mas eu posso me reconstruir e me tornar alguém melhor por você. Mas por favor, para de falar isso sobre si mesma. Eu odeio ter que ouvir você se odiando por coisas que outras pessoas tem culpa.

As vozes dele não saiam da minha cabeça, todo santo dia. Todo dia era a mesma situação, ele vêm em meus pensamentos, em meus sonhos, ele estava em todo lugar. Damien se tornou uma metade de mim, agora sinto que me perdi, sinto que perdi tudo.

Todos os anos que tive para me reconstruir depois do meu pai ter me quebrado, da minha mãe ter me feito de fantoche e me tornado alguém que nem sabia o significado da palavra amor e carinho. Agora tenho que reviver tudo de novo e me reconstruir, tudo sozinha, novamente.

No final, todos sempre ficamos sozinhos, e não há nada que você possa fazer sobre isso.

— ei, está tudo bem? — uma garota de pele negra e cabelos cacheados bate sobre a porta da cabine e eu tomo um leve susto, sentindo meu corpo se sobressair sobre o piso frio.

— está, só preciso de um tempo sozinha — murmura, minha voz saindo trêmula e grosseira.

— hm... Eu posso te ajudar, se quiser — posso reconhecer a expressão de pena em seu rosto.

— não, não quero sua pena — limpo as lágrimas com a palma da mão e me levanto do chão sujo, puxando a descarga e caminhando em direção a pia.

— calma, só estou tentando ajudar — ela murmura, levantando as mãos em rendição e eu suspiro, me arrependendo de ser grosseira.

— desculpa — eu tentei formular um sorriso, o que não deu muito certo.

Ela sorri para mim, se pondo apoiada na parede e cruzando os braços. Seu rosto estava sereno e me observava com cuidado, eu a encarei enquanto molhava minhas mãos e as lavava.

— o quê há?

— eu já perdi alguém — ela suspira, olhando um ponto específico da torneira, parecendo se recordar de algo — ele era importante para mim, me ajudou nos meus momentos de angústia.

Como diabos ela sabia?

— como...

— consigo enxergar uma garota sofrendo por um homem de longe, porque já estive no seu lugar — ela se põem sentada em cima da pia, sua saia subiu discretamente com o ato e me fez encarar o local por alguns segundos.

Observo o sorriso se formando em seus lábios e eu desvio a atenção para meu reflexo no espelho. Meu cabelo estava solto, minhas mechas vermelhas precisavam ser retocadas e meus olhos tinham olheiras fundas.

— e sabe o que me ajudou? — seu rosto se põem tão perto do meu, que o cheiro doce do seu perfume entra em minhas narinas, me fazendo absorvê-lo.

Eu olho os seus olhos avelãs esperando que ela termine o que começou, mas sinto suas mãos em meus cabelos me puxando para perto e abocanhando seus lábios com os meus. Eu recuo por alguns segundos, tentando entender o que ela estava fazendo.

Seus dedos entraram em meus cabelos e com uma simplesmente puxada para trás, senti minha pele se arrepiar. Suas pernas me puxaram para ficar ao meio delas, os olhos intensos e com as pupilas dilatadas me encararam com urgência e desejo.

— isso me ajudou a superar, conhecendo pessoas novas — ela sorri, um sorriso sedutor e faminto de desejo e malícia.

Seus lábios se esmagaram com os meus novamente e por um momento impensado coloco minhas mãos em suas coxas, apertando a região e ouvindo seu suspiro baixo. Eu não sabia o que estava fazendo, não sabia porque ainda continuava a beijando.

Eu não conhecia ela e muito menos queria me envolver com alguém agora, porque toda vez que sentia seus lábios no meu, pensava em Damien no seu lugar.

Eu sai de perto dela com rapidez, vendo a sua expressão desentendida me olhando. Eu não quero usar outra pessoa para superar ele, eu não posso fazer essa merda comigo mesma e nem com outras pessoas. Me olhando a última vez no reflexo, eu suspiro e saio do banheiro batendo a porta com força.

A música alta toma conta dos meus ouvidos novamente e me sinto desepserada chegando na bancada. Que merda eu fiz? Eu nem sei porque beijei ela.

Rick me manda para uma mesa e sem pensar muito, caminho até lá. Tento manter minha mente inquieta ocupada trabalhando para não voltar na situação de mais cedo.

...

"Nove anos eu faço minha calçada, eu faço, e ele quebra, eu faço de manhã e ele quebra de noite"

Literalmente a Talisa.

A Talisa não está grávida gente, pelo amor de Deus jorge e matheus.

DAMIENWhere stories live. Discover now