☆Capítulo I - Cartas sem Data

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O arquiteto da Gilda deitava exausto na sua cama.

A noite anterior tinha sido muito cansativa, visto que Poe ficou trabalhando até tarde da noite. Desda queda de Mobydick e do desaparecimento de Scott Fitzgerald, mais e mais projetos são apresentados a sua mesa, tentando reparar o dano causado por tudo o que foi perdido.

Ele estava cansado, mas satisfeito ao mesmo tempo. Assim, ele teria a tarde livre por mais dois dias.

Ele já deveria ter levantado, mas usava o guaxinim Karl, que estava deitado em seu peito, como desculpa para passar mais algumas horas na cama.

O grasnar inesperadamente alto de um corvo fez o guaxinim pular assustado, arranhando o peito de Edgar. O escritor levantou com um susto pela dor das garras do guaxinim e pelo barulho alto que seu celular estava fazendo.

Ele saiu da cama com pressa, prendendo seu pé no cobertor e caindo com um estrondo no chão do quarto, com o celular na mão.

Percebendo que acordou com o pé esquerdo naquela manhã, Poe nem fez esforço para se levantar enquanto atendia a chamada.

— Alô? — Sua voz assustada chamou.

— Poe? Você consegue me ouvir? — A voz do melhor detetive de Yokohama perguntou.

— Ranpo?! — O escritor se sentou no chão do quarto ao ouvir a voz tão conhecida do detetive.  — Bom dia! Você precisa de alguma coisa?

— São uma da tarde e você tá desejando bom dia? — Ele perguntou um pouco confuso, mas rindo no fundo da linha. — Você caiu da cama? Parece que você está assustado...

— Você não precisa deduzir meu dia, Ranpo... — Ele respondeu um pouco envergonhado. — Por que você está me ligando? Geralmente, eu que ligo pra você primeiro.

— Eu recebi uma carta de Nikolai Gogol! — Ele explicou, se animando.

— O Palhaço Maniaco? — Edgar perguntou, se lembrando do baile de máscaras, mas fazendo sua cabeça se desviar do assunto ao lembrar que ele tinha passado a vergonha de ir vestido de guaxinim.

— Esse mesmo! — Ranpo parecia estão andando do outro lado da linha. — Ele roubou O Livro da base dos Cães de Caça. Quando iam para sua residência tentar recuperá-lo, os soldados acabavam todos mortos por Fyodor Dostoyevsky.

— E o que te faz pensar que podemos ir até lá sem sermos mortos? — Poe se levantou lentamente, indo até o banheiro e tentando fazer alguma coisa com seu cabelo armado.

— Nós fomos convidados, Edgar! Eles não podem expulsar seus próprios convidados! — Ranpo respondeu rindo. — Isso sim é um mistério digno do melhor detetive de Yokohama! Na verdade, eu sou o melhor detetive de todo o Japão! Ou melhor, eu sou–

— Ranpo, você é o melhor detetive do mundo! — Edgar respondeu sorrindo, mesmo que o outro não pudesse ver.

Um silêncio constrangedor tomou conta da linha, sendo interrompido pelo arrolar de Leda.

— Isso é um pombo com você? — Poe mudou de assunto assim que achou a oportunidade. O detetive de olhos verdes sorriu.

— Que tal nos encontrarmos em algum lugar? Seria mais fácil te explicar as coisas diretamente pra você! — Ranpo sugeriu, voltando a andar na rua. Ele tinha parado de andar quando ouviu o elogio de seu rival.

— Claro, onde você quer ir? — Poe perguntou enquanto vestia seu casaco.

— Vamos a uma lanchonete! Eu pago! — Ranpo anunciou, mesmo planejando fingir ter esquecido sua carteira para ganhar um lanche grátis de Poe.

Código Morse | RanPoeDonde viven las historias. Descúbrelo ahora