☆Capítulo III - Ratos na Casa dos Mortos

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Ao chegar em frente a casa abandonada, Edgar se preocupou uma última vez antes de entrar.

— Você tem certeza que essa é a casa? — O escritor perguntou, tentando se distrair enquanto acariciava o pelo do guaxinim em seu ombro.

— Absoluta! — Ranpo sorriu em triunfo, confirmando a dedução ao ver a pomba, Leda, entrando por uma das janelas abertas.

— Eu realmente preferiria se você não estivesse com tanta certeza... — Poe admitiu, como se estivesse com dor.

— Deixa de ser molenga e entra logo! — O detetive de olhos verdes puxou o escritor aflito pela capa e adentrou a casa escura.

Ele chegou aquela casa por meio de várias pesquisas no computador do rival enquanto eles estavam viajando. O último lugar que os terroristas foram vistos foi em uma ladeira perto da vila. Ranpo achou o lugar e chegou na cidade, seguindo Leda até a casa que eles estavam agora.

A primeira coisa que Ranpo percebeu quando entrou lá foi o cheiro. Algo desagradável adentrou suas narinas e ele teve que tampar seu nariz com a mão. Moscas voavam por toda parte, rodeando a cena que ocorrera no meio da sala.

Era uma visão perturbadora.

O rosto de Nikolai estava irreconhecível, desfigurado. O revólver fez um estrago irreparável em seu corpo, principalmente em sua face. Já Fyodor, parecia estar pior. Sangue seco já tomava uma coloração preta e manchava suas vestes. Sua pele sem cor parecia estar roxa pela falta de circulação do sangue e seus olhos estavam inchados e vermelhos, como se ele estivesse chorado.

Era uma cena horrível que obrigou o detetive a dar meia volta, batendo contra o peito de Edgar na entrada.

Por sua vez, Poe parecia mais calmo. Ele com certeza já tinha visto corpos em estados piores, sem contar que estava até alivado ao saber que não havia nenhuma ameaça viva que poderia machucar ele, Ranpo ou os animais.

— Ranpo, não precisa se preocupar, eles já estão mortos... — Edgar comentou, segurando os ombros daquele que bateu contra ele. Ele tentou manter sua voz calma para ajudar o detetive.

Ranpo não respondeu. Com a expressão fechada, ele voltou para dentro da casa.

Enquanto o detetive procurava por objetos suspeitos na cena, Poe tomou a iniciativa de abrir as janelas, na esperança de afastar o mal cheiro de dentro da casa. Ranpo, ao procurar no chão, perto da cena, encontrou uma carta.

— Poe! — Ele chamou, atraindo a atenção do escritor que brincava com o guaxinim perto de uma janela. — Eu acho que eu achei uma carta de suicídio...

Deixando Karl de lado, ele se aproximou do detetive de olhos verdes, que entregou a carta em suas mãos.

"Meu amado, Dostoy" —, ele leu, pegando a carta em suas mãos.

"Eu quero ser livre! Por muito tempo pensei que liberdade fosse uma ilusão para nossos cérebros maldosos, mas as coisas mudaram quando eu te vi.
Me convenci que iriamos dominar o mundo com sua perseverança e habilidade. Mesmo aqueles que nunca te viram temeriam seu nome, meu amado Demônio.
Eu sei que entre o céu e a terra, todos me condenariam. Entre eu e você, meu coração era mais importante, mesmo que isso custasse minha liberdade no final.
Odeio gostar de me sentir assim, meu cérebro e meu coração nunca estiveram tão livres, livres de você! Eu posso sentir minha vida escorrendo de suas mãos".

Algo no jeito que Poe lia a carta fez os olhos verdes de Ranpo brilharem. Ele lia com tanta paixão que parecia ser o propio autor da manuscrito. Ranpo se perguntou se esse era o jeito que Edgar escreveria, mas guardou seu pensamento para si mesmo. Aquilo não tinha lógica.

Código Morse | RanPoeOnde histórias criam vida. Descubra agora