46 - Surto

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Olá. Aviso de conteúdo erótico e algo que alguns podem considerar relação sem consentimento. Distúrbios emocionais podem ocasionar reações inesperadas e difíceis de interpretar. O conteúdo não tem o intuito de incentivar qualquer ato contra a vontade ou qualquer tipo de abuso. Se você se sentir desconfortável, pode deixar seu comentário ok? Eu gostaria de saber. 

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Ana voltou para a pousada e foi direto para o chuveiro. Estava decidida a voltar à Donatore no dia seguinte para acompanhar a história do bilhete de perto. No banho, ela pensou em Lucas e em como ele reagiria com sua decisão, e se sentiu inquieta e aborrecida.

– É a minha vida! Eu tenho o controle sobre mim mesma, e mesmo que você venha com essa pose de policial fodão para cima de mim, não vai me manipular!

Rindo de si mesma porque estava falando sozinha, Ana se enrolou em uma toalha e, enquanto procurava uma roupa leve nas gavetas ao mesmo tempo em que simulava diálogos hipotéticos e inúteis, ouviu um bater enérgico na porta.

– Quem é?

Ela não entendeu por que ninguém interfonou, e ficou irritada pela violência das batidas. Mais um pouco de força e não haveria mais uma porta para bater.

– Ana, abre a porta!

Ana sentiu o corpo formigar. Que inferno de corpo que tinha vontade própria! Ainda estava sentida com Lucas, não queria falar com ele, nem o ver, e ele estava tentando derrubar a porta, então ela não queria lidar com esse lado bruto dele agora. "Mentira! É o que você mais quer, sua cara de pau."

– Ana, abre a porra da porta!

Ana bufou. "Abre a porra da porta... Entra na porra do carro... Será que ele não conhece a palavra 'por favor'?"

E aquela que tinha total controle de si mesma e não se deixava manipular, abriu a porta para Lucas, que entrou como um tornado no quarto usando sua melhor versão de "policial fodão".

"Ok, foi uma decisão consciente, não manipulação, e nem foi porque o corpo agiu por vontade própria e foi até a porta antes de o cérebro acordar. De maneira alguma... "

– O que foi? – ela conseguiu perguntar, mesmo com a garganta seca.

Lucas se virou para ela com a testa franzida, o cabelo todo bagunçado, os olhos insuportavelmente brilhantes e o peito subindo e descendo numa pose de notável irritação. Ele parecia um gigante, e ela começou a ter absoluta certeza de que ia morrer do coração antes dos 40 anos se não aprendesse a controlar o pulso toda vez que o via.

– O que pensa que está fazendo? – Ele praticamente cuspiu a pergunta.

– Como assim, o que eu penso que estou fazendo?

– Desde quando você conhece o Ricardo? E Nancy? Você trabalha para eles, não é?

Ana ficou chocada, e permaneceu tanto tempo estática que só percebeu que tinha a boca aberta quando sentiu a saliva quase escorrer.

– Você está falando sério?

– Diga a verdade! Eles vieram atrás de você, não é? Quanto eles te pagaram?

Ana sentiu como se seu peito estivesse trincado. Não era possível que Lucas estivesse pensando em algo assim. Ela reparou no olhar psicótico, na mão trêmula, nas pupilas dilatadas; ele parecia fora de si, e seria muito mais prudente mandá-lo embora, mas ela não era capaz.

– Lucas... olha pra mim...

Magoada, ela se aproximou dele e contornou o rosto que tanto amava com as duas mãos. Seu polegar acariciou o lábio inferior com leveza, e ela sentiu quando ele destravou um pouco a mandíbula. "Caramba, que homem lindo! Deve existir algum acordo no universo que determina que quanto maior a beleza, menor é a coerência. Talvez seja algum tipo de compensação, só pode..."

MaresiaOnde histórias criam vida. Descubra agora