A luta e o gato

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Severus andará até aquela mesma esquina, planejando mentalmente oque faria para ajudar a trouxa. Em meio a isso pensou o porquê estaria ajudando ela, talvez por redenção por ter sido um comensal da morte? Ou simplesmente porquê queria agitar a vida monótona? No momento, Snape decidiu não pensar muito nas possibilidades, já tinha escolhido ajudá-la. Olhou em volta discretamente, observou que a rua estava quase vazia. Tinha crianças brincando em uma parte perto do campo e não tão longe, cada uma segurava um enorme pedaço de galho e estavam o usando para rebater bolinhas pequenas. Severus achou a visão levemente nostálgica, brincou com algo parecido na infância.

Não poderia usar a varinha tendo certeza que nas casas pode haver algum trouxa observando as ruas. Se algum ato mágico violento dele fosse testemunhado, não poderia ser por um trouxa. A encrenca seria maior.
Severus espiou os ladrões, focou a audição e a mente dele no que ambos estão falando. Ficou de vigia, encostado na parede de uma das casas da esquina, como um profissional ficou vigiando os sujeitos sem que eles percebessem.
—Que desgraça! Eu 'tô com uma dor infernal, maldito seja aqueles dois, Viktor! Reclamou o ladrão que Snape bateu com a pedra nele, enquanto andava de um lado para o outro.
O outro, Viktor, ficou em silêncio, sentado segurando um pano na cabeça, e era ele que estava com a bolsa da mulher, estava xeretando a bolsa com desânimo com a mão livre.
—Edward, não tem nada, maldita seja a Melissa. Como ela não tem nem um dólar na bolsa? — falou com muita indignação, o tal Edward pôs as mãos na cintura e encarou Viktor.
Snape observou se eles pareciam carregar armas e, para sua satisfação, não carregavam. "Se eu ir até eles assim, estarei em desvantagem" pensou, precisaria de algo, qualquer coisa que pudesse usar para bater em dois adultos. Por sorte, ambos eram magricelas igual Severus, entretanto, dois contra um era uma grande desvantagem. Um o agarraria e o outro o espancaria, imaginou Severus. Enquanto imaginava, bateu o olho bem nas crianças e os seus grandes galhos. "Interessante!"
Imaginou imediatamente que poderia usá-los, lembrava os bastões que usavam no aikido, lembrou-se de um garoto que o ensinou utilizar bastões como armas em movimentos rápidos quando criança.
Severus, com a ideia em mente, caminhou rapidamente até as crianças. Chamaria a atenção delas e teria oque queria ("mas tem que ser rápido").

—Ei! Você ai!—ele apontou para um dos meninos que segurava o galho maior, o garoto ficou em alerta. Fitou Severus com os olhos arregalados—me dê esse galho.
—Que? Por quê?
—Apenas me dê o galho, vamos.
—Não, eu 'tô brincando com ele!— A criança falou com impaciência. Severus o encarou com uma carranca esboçada no rosto, pigarreou e estendeu a mão em um ar ameaçador. Não está pedindo, está exigindo, e rápido.
—Me dê agora, menino — falou ele, com a voz mais grossa que o normal, em um tom ameaçador e intimidador. A criança levantou as sobrancelhas e estremeceu.
—Quem é você...?
—O bixo papão — Severus andou até o menino, com um sorriso bizarro de orelha a orelha, se curvando (já que é mais alto que o garoto, se curvar e fazer uma expressão bizarra soaria mais intimidador). A criança abriu a boca mas não gritou, em choque, jogou o galho no chão e correu com as outras duas crianças para longe. Severus sorriu de satisfação, até um pensamento indesejado o atormentar de repente por ter agido como seu pai, Tobias, agiria. Preferiu ignorar oque sua mente pensava, pegou o galho e foi andando rápido na direção da esquina.
Acabou observando os dois, Viktor e Edward, atormentando um rapaz jovem, Snape logo imaginou que essa era a técnica deles: esperar na esquina até uma alma viva passar e virar uma vítima. O rapaz foi atormentado igual a moça tinha sido, porém, Snape não foi ajudar agora como ajudou a mulher. Invés disso, Severus fez movimentos com o galho para relembrar oque o seu amigo de infância –por um dia– havia o ensinado, esperou o momento certo.  Quando o rapaz fosse liberado, ele agiria.

Passou-se uns 2 minutos, ouviu um "vá embora e nem ouse chamar a polícia" e, em seguida, o rapaz concordando e indo embora por onde veio. Então, Severus começou os observar de novo. Os marmanjos estão agora de costas, o momento perfeito, estavam distraídos rindo do pobre moço indo embora correndo. Esse era o momento certo, Snape suspirou e correu até o ladrão que tinha recebido uma vassourada na cabeça, deu-lhe outra bofetada na nuca, forte o bastante para o sujeito cair no chão. "Ótimo" pensou, havia eliminado um, porém, para garantir, ou por pura maldade, Severus deu-lhe outra. Com uma risadinha, esqueceu-se do outro homem e lembrou-se de Edward assim que recebeu um forte soco no rosto. Se afastou-se instintivamente e sentiu a cabeça girar, fazia anos que não recebia um soco desses.
—MAS QUE DIABOS! SEU NARIGUDO DOS INFERNOS! EU VOU ENCHER SUA BOCA DE AREIA, SEU NOJENTO ASQUEROSO! —Edward gritou, apontando o punho para Severus. O mesmo ignorou os xingamentos, se preparou para os próximos movimentos violentos do marmanjo e tentou ignorar, também, a dor no olho (qual ele sentiu que já estava inchando). O ladrão avançou novamente, porém Severus desviou como uma sombra e, rapidamente, deu-lhe um golpe certeiro no estômago. Sabia que era um ponto fraco, iria desestabilizar o inimigo. Isso fez o sujeito cambalear, acabou vomitando todo o almoço para fora em seguida, além de sangue, Snape fez uma careta de nojo e deu-lhe outra bofetada, dessa vez, na nuca igual o outro.
Ambos caídos, o fato fez Severus sorrir com maldade. Foi em direção a bolsa da mulher, a abriu e olhou dentro para ver se lá tinha oque veio buscar e estava tudo em ordem. "Ainda bem, pois eu não iria atrás de outro nebunimitro" pensou. Começou a andar de volta para entregar mas virou-se e foi até os dois ladrões novamente.
—Isso aqui é por ter me xingado — ganhou força o suficiente para dar um chute forte nas costas do sujeito que vomitou, bem onde ele já havia se ferido anteriormente quando Snape o bateu com a pedra. E saiu andando calmamente, jogou o galho longe e, como se nunca tivesse feito essas coisas, foi andando no caminho para a mulher.

No caminho, próximo da floricultura, ouviu o miado de um gatinho, o chamou a atenção, procurou o animal e o achou, um gato preto muito pequeno e felpudo, estava perto de uma lixeira. Severus se aproximou, pensou um pouco enquanto fitou o felino miudinho. Observou que o gato poderia está sofrendo, parecia tão pequeno e não havia sinal da mãe por perto. Pegou o filhote sem falar nada e nem pensar duas vezes, apenas deu-lhe carinho e o encostou no peito.
Chegará finalmente na floricultura, onde a moça estar, avistou a mulher sentada o esperando, enquanto bebe um copo grande de água. Quando avistou Severus, ela levantou-se e sorriu.
—Moço, muito obrigada!—ela ia o dando um abraço em agradecimento, mas ele a impediu entregando a bolsa. Ter a bolsa de volta a fez sorrir mais e isso fez Snape sentir uma sensação agradável. Porém, quando ela avistou que o rosto de Severus tinha agora um grande hematoma, seu sorriso se desfez em preocupação e culpa.
—Por nada, mas será que seu irmão está bem? —Severus falou, enquanto acariciava o gatinho.
–Ah, ele está assim, eu peguei esse hoje. Não é de urgência! Mas...—Então, Severus a interrompeu com uma certa grosseria.
—Entendi. Enfim, adeus.
Ele se virou para ir embora, mas ela o puxou pelo braço. Então ele suspirou fundo.
Sim?
—O seu olho, moço!
—Estou bem, não é nada—mentiu, na realidade, o fato de ter se machucado logo no olho já o fez se arrepender do que fez. A única coisa que o deixou satisfeito, pelo menos, foi a sensação agradável de ter feito alguém sorrir.
—Certeza...? É que se você quiser eu posso...
E então, ele a interrompeu novamente.
—Se eles a pertubarem de novo, chame a polícia —Severus falou, a ignorando de propósito, não queria ninguém se preocupando com ele no momento.
—Oh, certo! Então...obrigada, muito obrigada. Mas sobre seu olho...—Severus a interrompeu, com o tom ríspido de sua voz, o homem só queria ir fazer oque veio fazer desde o início (comprar comida) e, agora, levar o gato pequeno para o pet shop, e ir embora.
—Até.
"Finalmente" pensou Snape enquanto ia embora, foi caminhando ao destino que queria ir desde que saiu de casa. Mas admitiu para si mesmo que foi um dia divertido, bater em pessoas que merecem é satisfatório. Não precisou nem usar a varinha, mas isso o fez se sentir normal demais quando parou para pensar. Se falasse sobre a Lucius com certeza o amigo o daria a maior bronca de todas, por ter defendido uma mulher que não é bruxa.
Severus foi ao mercado ainda pensando no que aconteceu, observou que os preços aumentaram, então, teria que comprar bem menos do que havia imaginado (e isso o deixou estressado). Também percebeu que chamou mais atenção ruim que o normal, algumas mulheres de meia idade começaram a comentar entre si sobre o olho roxo dele. Saindo do mercado apressado, foi diretamente a um pet shop, 8procurou coisas para o felino minúsculo para tratá-lo em casa. Porém, pensou que teria de levá-lo ao veterinário logo, logo.
Saiu de lá com mais sacolas do que quando entrou e o gatinho estava em um dos bolsos largos do sueter dele.
—Vou chamá-lo de Saturno, é meu planeta favorito. Que tal?—ele olhou para o gatinho, qual deu um miadinho em resposta—ótimo, você concorda.
Finalmente em casa, Severus sentiu-se aliviado, estava em casa e podia descansar. Assim que entrou, colocou as sacolas em um canto e pegou o gato Saturno.
—Irei arrumar o seu canto, Saturno. Seja paciente. Mas, primeiro, terei de tirar essa sujeira de você...e, verdade, resolver o meu olho.
Ele revirou os olhos.

Nota do autor:
Aikido é uma arte marcial japonesa que, ao contrário do boxe ou judô, não é uma arte marcial competitiva que tem como objetivo derrotar o oponente em competições, embora tenha técnicas de combate. O principal objetivo do aikido é defesa pessoal, utilizando a força do oponente contra ele mesmo.

O Verão Quase PerfeitoWhere stories live. Discover now