The clocks

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Boa leitura!

26 – The Clocks

Neil sempre foi uma pessoa ansiosa, do tipo que estava em todo momento aguardando as piores coisas acontecerem, independente do contexto.

E a situação atual pedia desespero.

Ele tinha um namorado humano, e toda a perspectiva de que isso fosse sempre continuar bem havia se esvaído muito depressa e com muitos problemas.

Andrew queria se tonar imortal.

Ele havia dormido a noite toda, os braços fechados ao redor de Neil com muita firmeza e teve um sonho completamente perturbado.

Foi uma das raras vezes que Neil pôde ver o reflexo de seus sonhos, e assistiu muito aflito a confusão mental dele.

Andrew parecia fugir de algo. Corria, desesperado no meio das árvores, a respiração arfante e os olhos nublados. Parecia assustado, pela forma que olhava ao redor.

--Neil sorriu fraco e sincero ao ver que ele tinha algo sobre o ombro – um grilo.

Muito melhor do que isso, era um grilo com a cabeça de Aaron.

Neil era apaixonado por cada detalhe de Andrew, inclusive o caos de sua mente.

O grilo-Aaron estava irritado, e parecia reclamar. Andrew estava ignorando, e continuava correndo. A expressão dele era de pavor puro, e foi só muito tempo depois na floresta que Neil percebeu; ele não estava fugindo.

Estava procurando.

Ficou claro quando ao longe Neil viu ele mesmo, fugindo para longe de Andrew.

Neil não soube o que fazer diante disso, olhando o cenho fechado de Andrew adormecido, e se perguntando quanto ele precisava estar ferido para pensar que aquilo era minimamente provável.

Ecoou em sua mente a voz dele dizendo que Neil não precisava ficar com ele para sempre, enquanto seus olhos tentavam demonstrar indiferença.

Tudo o que pode fazer foi apertá-lo mais forte, e esperar aquele sono tumultuoso passar.

Andrew estava quieto demais ao abrir os olhos pela manhã, e passou pelo menos duas horas fingindo dormir, com o rosto afundado no pescoço de Neil sem dizer nenhuma palavra. Apenas respirava compassado, os dedos passeando por dentro da camisa do ruivo, contornando cada cicatriz de forma vagarosa.

Neil queria dizer algo, mas não conseguia pensar em nada bom o suficiente. Então, de tempos em tempos, apenas virava o rosto para o lado e pousava um beijo sobre os cabelos loiros bagunçados e torcia para que isso fosse o suficiente.

Andrew não verbalizou uma resposta, mas a cada beijo ele se esticava um pouco mais sobre o ruivo em retribuição, se espalhando sobre o namorado de forma confortável.

Ele parecia que poderia ficar o dia todo daquela maneira, mas Neil se preocupava com ele demais para deixar que continuasse assim. Então os fez levantar, e após tomar um banho, desceu as escadas para fazer algo para Andrew tomar café enquanto deixava ele terminar de criar coragem para tomar banho e conversar.

Neil gostava disso. De sentir que fazia algo para Andrew, desde a coisa mínima e ínfima.

Depois de muitos anos de existência sem precisar se preocupar com necessidades biológicas, como alimentação e sono, ou prazeres pequenos como sair para tomar sorvete e aproveitar um jantar em lugar legal, muitas vezes ele deixou de sentir que era algo humano, mesmo nas pequenas coisas que ainda restavam.

Neil descobriu que gostava disso. De se levantar pela manhã, tomar um banho refrescante e ir preparar o café da manhã. Compartilhar a mesa com Andrew, enquanto falavam sobre qualquer coisa juntos. Dividir momentos simples, onde se sentia alguém como qualquer outra pessoa. Com um significado. Com propósito.

Canção da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora