Capítulo 28 ( FINAL)

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☆ Reino Lunar ☆

Capítulo Final

Aurora ♡
   
    Uma tempestade se aproxima, a batalha que mudará a minha vida está prestes a começar. Sabíamos dos empecilhos, da tormenta, da busca insaciável de um príncipe para obter o que tanto deseja. Se a sua futura Rainha fosse capturada o que séria do Reino? Crescentilya depende de mim, de suas Estações para se reerguer e retornar a ser uma nação forte e temida como as histórias ditas pelos meus protetores. Na regência do Eragon e Enos, a antiga Reino Lunar era uma potência, o que a fazia ser grandiosa.
    No entanto, impérios caem quando são regidos por quem não nasceu para governar.
    Nós vivemos ou morremos para tomar o trono. Apenas um vai ficar no final de tudo.
    A fúria é como um veneno nas minhas veias. Meu corpo tinha conhecimento que a minha transformação estava perto e quanto mais próxima mais o desejo de lutar queimava o meu íntimo. Ansiando por uma vingança, por uma guerra. As chamas vorazes incendiavam o meu luto, destruía pouco a pouco os meus medos e anseios e, eu permitia a entrada desse poder. Permitia que me consumisse. Não quero me sentir fraca, não quero ser. Não vou ser a menina indefesa, não mais.
    Uma canção suave, como tambores ressoavam nos meus ouvidos anunciando que o ressurgimento da magia estava perto. Eu sentia. Então entendo, que não preciso morrer fisicamente para o poder se manifestar, bastava estar vazia por dentro. Essa também é uma morte.
    Diante de mim estavam as Estações, prontos para um embate e nenhum deles estavam dispostos a perder. Eu contemplava os vossos poderes, o pulsar e emanar. Das mãos do Seth viam-se os pequenos choques, os raios evidenciando a sua justiça. As sombras do Luc bravias e famintas tomavam o seu redor em busca do alimento, o medo. A magia da Serena, a névoa púrpura, circulava o seu corpo como um anel, como uma enorme áurea brilhante. A luz em torno do Uriel resplandecia com incandescência e iluminava como se fosse mil estrelas juntas.
    Os Sirius e Rafe estavam do outro lado, tão traiçoeiros quanto o gelo sob nossos pés. As espadas Acrux desembainhadas e prontas para nos matar.
    “Uriel, você pode tirar a Amber daqui? Enviá-la com a sua magia para a casa dela?”
    Cara de anjo voltou seus olhos sobrenaturais para mim, parecia surpreso. Mas eu estava determinada e não iria ficar parada apenas olhando. Com ou sem treinamento, eu vou lutar. Posso deixar a Fênice tomar o controle do meu corpo, não me importo mais. Aliás, se já posso me comunicar por telepatia tão facilmente, então posso acompanhá-los.
    “Você pode?” Insisto firme. Uriel sabia o que eu queria. Ele não titubeou quando disse:
    “Posso.”
    “Então faça.”
    Olho uma última vez para a Amber, seu corpo frio, inerte e opaco. Não tinha mais o brilho da vida. Fecho seus olhos e lhe dou um beijo na testa.
    Uma lágrima escorre e cai sobre a sua bochecha. Vou vingá-la. Eu prometo.
– Perdão. Sinto muito por não conseguir salvá-la Amber. – Digo.
    A magia do Uriel a envolve e a faz sumir dos meus braços.
    Levanto-me, sentindo os olhares de todos sobre mim.
– Fênice? O corpo está no seu domínio, menos a minha consciência. Faça isso por sua Princesa. – Ordeno, a voz privada de emoção.
    A fera cantou a sua fúria dentro de mim e logo senti cada um dos meus membros serem dominados e manipulados por ela. Brevemente, serei eu no controle de tudo. Meus pés se desgrudaram da superfície e plano sobre o gelo indo ficar ao lado do príncipe sombrio. Aqueles olhos prateados estavam felinos quando me perscrutou de cima abaixo. Um pequeno sorriso orgulhoso dedilhava em seus lábios.
    Não via contrariedade no semblante das Estações a respeito da minha decisão. Afinal, eles sabiam que de um jeito ou de outro, eu entraria nessa batalha.
– Está pegando fogo, Donzela. – Ele disse.
    Eu sentia a magia em meus olhos e corpo. As tatuagens dos meus braços estavam visíveis agora, tão vivas e iluminadas quanto antes.
– Você ainda não viu nada. – Falo, me afogando na sua intensidade.
– Eu pagaria para ver.
– É mesmo?
    Seus olhos brilharam fazendo suas pupilas dilatarem.
    Seth pigarreou, chamando a nossa atenção.
– Não hesite quando eles atacarem você, entendeu? – Dirigiu-se a mim. – Os Sirius não vão matá-la porque a Majestade quer você. No entanto, vão fazer de tudo para que fique ferida.
– Não vou deixar nenhum deles saírem vivos.
– Ótimo. Agora você entendeu o verdadeiro significado de uma futura Rainha.
    Suas palavras demonstravam confiança em mim, contudo, seus olhos sobrenaturais me pediam para tomar cuido.
– A Princess vai lutar? Não tem medo de se machucar? – Questionou Rafe com deboche.
    Ele estava no meio daquele batalhão de Sirius. Usando-os como um escudo.
– Espero que se contente com esse sorriso, porque será o último, seu covarde. – Destilo, e as chamas consomem a palma da minha mão.
– Uau! – Vi aqueles olhos escuros demonstrar a ambição. – A chama está louca para emergir de você, Princess.
    Uriel e eu nos entreolhamos. Tenho a certeza que ele também lembrou da conversa com os outros Sirius. Ian comentou sobre essa chama. Mas o que isso significava?
– Do que está falando? – O ruivo indagou, dando um passo a frente.
    Serena e Seth pareceram meio confusos, mas optaram por ouvir o diálogo.
– Pensei que as Estações fossem espertas. – Zombou, passando por detrás de um Sirius. Parecia uma cobra, buscando um ponto mortal para dar o bote. – Nunca ouviram falar sobre a chama escarlate? Acham que somente a Fênix é o seu poder? A Lua de Sangue a presenteou também. Foi por isso que as fadas vieram. A Estação da Fênix deu magia a Eragon, Enos, mas não habitou neles porque a Lua de Sangue não os deu a chama. O que nos faz pensar: por que com você é diferente, Princess?
– Você recebeu essa honra por causa da sua mãe. – Diz Luc, sua atenção atenta no Rafe.
    Ele estava ouvindo os pensamentos do garoto. Junto às sobrancelhas.
– Não entendo. O que a minha mãe tem haver com isso? – Pergunto.
– Tem tudo haver Princess. – Ele apareceu na segunda linha de trás para frente, com um sorriso sagaz. – Ela é humana. O que os humanos fazem quando veem seus bebes correndo risco de vida ainda no ventre?
– Seja direto Rafe. – O príncipe sombrio cuspiu seu nome.
    Luc já sabia o que ele queria dizer e me pareceu tenso?
    O Sirius riu, jogando a cabeça para trás.
– Ela rezou para a Lua de Sangue e pediu que lhe desse a vida em troca da dela. – Contou. O chão se partiu sob meus pés. – Sua mãe foi uma tola. Você já tinha poderes antes mesmo de nascer, Princess. Não iria morrer. Mas ela não sabia disso, não tinha o conhecimento de quem era filha. Para se ter a chama escarlate há-se um preço.
– Não pode está falando a verdade. – Sussurro descrente.
    Então olho para o Luc e seu semblante contraído confirmava tudo.
    Não! A mamãe não pode morrer.
– Agradeça a sua mãe por tal dadiva. – Rafe diz.
– Chama isso de dadiva? – Rujo, sentindo meu coração chorar.
– Você não faz a mínima ideia do que carrega, Princess. – Desdenhou com seriedade. – Dentro de você há uma coisa muito poderosa. É isso que a Majestade quer de você.
    Ele se moveu novamente e passou para a terceira fileira.
    Minha visão turvou e meus pensamentos pararam. Simplesmente ficaram silenciosos. O impacto de suas palavras me deixou inerte, sem reação. A única coisa que imaginava era a minha mãe morta, nos meus braços. Não! Meu irmão parecia tão abismado quanto eu. Se estamos partindo dessa dimensão é para que a Meredith, inclusive ela, fique bem. Céus! O que vamos fazer? A tristeza e a fúria estão me engolindo nesse momento.
– O que acha de irmos atrás da sua preciosa mãe? Poderíamos acelerar o processo.
– Não ouse! – Exclamo enraivecida.
    Num piscar de olhos estava diante dos Sirius, os mesmos apontaram as Acrux para mim do qual não temi. Mesmo estando ferida por dentro de múltiplas maneiras, ainda podia lutar. Não importa quantas chicotadas ainda tenho que levar.
– Se encostar um dedo nela, eu mato você. – Digo entre dentes. Não estou brincando. Ele riu.
– Já ouvi isso antes. Aliás, para quê gastar energia com a sua mãe se o destino dela é morrer de todo jeito?
    Rafe parou a muitos passos de mim. Pela visão periférica acompanho as Estações se aproximarem, deixando os Sirius atentos. O garoto ria e ria esnobando a minha capacidade de arrancar o seu pescoço.
    Ainda planando no ar, cravo meus olhos num dos Sirius, o de cabelo azul. Ele me olhou de volta com um sorrisinho sínico nos lábios, me subestimando também.
    É você quem será o primeiro a morrer, seu primata.
    Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, a Fênice capita meus pensamentos. Da mesma maneira que apareci diante deles, sumo de vista e deslizo sobre o gelo como se fosse uma pena, leve e sem emitir ruído algum. Passo por entre as pernas dos meus inimigos e subo agarrando o pescoço dele e com a outra mão, seguro seu pulso quebrando-o. O estalar e o grito de dor do sujeito reverberou no ambiente.
– De onde ela surgiu? – Alguns disseram surpresos.
– Não sei. Não a vi passar. E ela estava bem na nossa frente. – Outros proferiram.
   Os Sirius estavam paralisados assim como as Estações. Sem esperar para que revide, desfiro um soco no seu estômago e o mesmo se contrai, cuspindo sangue. Havia chamas nos meus punhos e a força da Fênix era monstruosa. Tiro a espada de seu domínio, giro com os calcanhares e cravo a espada no seu peito.
– O que o faz pensar que não é um Lunar? – Minha voz sai fria, prazerosa aos meus ouvidos. – O mesmo efeito que a Acrux tem numa Estação também tem sobre vocês, seu imbecil.
    Ele me encara surpreendido, por essa não esperava. Mas a Fênice é inteligente. Com toda a raiva que sinto, arranco a espada vendo o sangue jorrar e aplico um chute no ferimento fazendo-o voar e cair a metros de distância na neve. Agora com os nossos pensamentos conectados, sentia que podia pensar com certa amplitude.
    As Estações continuam sendo Lunares, independente de serem diferentes dos Sirius. Mas ambos são a mesma coisa, nasceram no mesmo Reino.
    Giro a espada por entre os dedos. No meio do lago, me volto para todos. Um circulo de Sirius sedentos por vingança me rodeia, mas assim como eles, eu também não estava disposta a recuar.
    A Fênix está adorando isso. Sua agitação está causando uma adrenalina alucinadora dentro de mim. A ave tinha experiência em guerra. 
    Luc riu e bateu palmas, admirado.
– Não vai nos convidar para a festa? – Ele se posicionou do meu lado, tão rápido quanto um relâmpago. – Também quero arrancar algumas cabeças.
– Por favor, esperem por mim. – Diz Serena, saltando sobre a cabeça dos sujeitos. Ela caiu graciosamente na superfície, ao meu lado.
– Não me deixem de fora. – Uriel falou animado. Usou sua velocidade e ficou do lado dela.
– Preciso dizer que não posso perder essa. – Seth correu e seus movimentos foram quase que invisíveis. – Faz um bom tempo que não me exercito.
    Rafe nos olhou com ódio.
– Mate-os, menos a Princess. – Proclamou num rugido.
    Eles avançaram contra nós. Serena e Uriel se dividiram entre os Sirius e os massacravam como máquinas de batalha. Eram velozes e precisos em seus golpes. Alguns Sirius eram traiçoeiros, manejavam bem as espadas com uma ágil rapidez também, contudo, aqueles dois eram fatais no que faziam e formavam uma bela dupla.
    Desvio de um golpe que seria na barriga e giro no ar passando por cima das três cabeças. Aproveitando a desatenção deles, Seth desliza sobre o gelo com os dois joelhos e usa um único raio partindo-os ao meio. Pouso na camada fria, afasto as mechas do cabelo do rosto e vejo os corpos no chão.
   Sorrio, dando um aceno camarada de cabeça para meu irmão que retribuiu os gestos. Logo, Seth se encaminha para outros usando seus raios que saiam de suas mãos. A medida que ele desferia contra os inimigos, todo o seu corpo brilhava devido a sua magia. O cabelo branco e os olhos também entravam em contraste com a neve.
– Amor? – Luc atraiu a minha atenção para ele.
– Sim? – Giro a espada, erguendo o queixo.
    O príncipe sombrio usou suas sombras atingindo os cinco Sirius que viam em minha direção. A sua obscuridade invadiu as narinas, olhos e boca dos sujeitos fazendo-os ir ao chão, agonizando na tormenta e não demorou muito para morrerem.
    Ele surgiu na minha frente, seus olhos nos meus, fixos de modo ardente.
– Você está uma coisinha feroz e tentadora com essa espada. – Ele disse, com um sorriso nos lábios.
– Era isso que queria me dizer? – Indago gostando disso, e vendo mais Sirius se aproximar de nós. – Não acha a situação inconveniente?
Inconveniente? Você está me tentando. Isso é conveniente.
    Seguro a gola da sua camisa puxando-o para mim. A Fênice estava me deixando ousada?
– Nossos inimigos estão vindo. Acho melhor se concentrar. – Bato em seu peito.
    O príncipe sombrio mordeu o lábio inferior e passo por ele encostando as minhas costas nas suas.
– Juntos? – Falo, manejando a espada.
– Eu fico com os da frente e você com os de trás. – Diz.
    Suas sombras se unindo as minhas chamas. Destinados. Nunca pensei que um dia estaríamos nessa posição, batalhando juntos. Foi isso que a Predição previu? No entanto, não sabemos se seremos a salvação ou destruição. Mas estamos aqui, lutando por nossas vidas e para que Eris não tenha domínio sobre o Reino.
    Nos olhamos e assentimos, e fomos em direções opostas. Usando meu corpo, a Fênice brincava com os Sirius. Em um momento, ela usava os socos, em outros as pernas e em outros a espada. Tudo impiedosamente. Raivosa, sedenta, selvagem.
    Dois deles me cercaram e atenta a esses dois que estavam na minha frente, mal consigo ver o movimento de um outro atrás de mim. Esse, agarrou a minha cintura num aperto forte e recebo um soco no estômago do de cabelos castanhos. Ofego. Prendo a respiração e desvio os sentidos da terrível dor. O loiro ao seu lado, ergueu o punho e o soco seria bem na minha cara, senão fosse pelo raio do meu irmão que atravessou o seu braço deixando um enorme buraco.
    O Sirius baixou ligeiramente o membro, urrando de dor. Seus olhos partiram na direção do Seth, raivosos, que parou diante dele. Com o olhar ameaçador, a Ordem sinalizou com a cabeça em negativa e tão rápido quanto o flash acertou o peito do oponente com a pressão do seu poder. O rapaz caiu longe, morto.
    Então, uso a cabeça e dou uma bofetada no nariz do Sirius que me segurava, ele cambaleia, mas não me solta. Movimento as pernas e estimulo para frente para pegar impulso e para isso, uso o tórax do meu inimigo. O rapaz recua muitos passos e subo com as pernas para cima, empregando a técnica. Aplicando a levitação, giro com o Sirius e caímos no gelo. Escorrego e uso a espada para impedir que continue deslizando.
    Limpo a bochecha suja de sangue e meus olhos se atém no Rafe. Ele estava por entre os Sirius, escondido. Que sacana! Enquanto os outros morriam, o infeliz se aproveitava.
    Apoio a ponta da espada no gelo e me levanto. Meu vestido estava rasgado na linha da minha coxa e meus braços sujos com o sangue da Amber.
    Vejo o sorriso do Rafe e isso faz meus poros queimarem.
– Você está bem? – Seth pergunta, depois de ter finalizado aqueles dois.
– Estou. – Digo, sem tirar os olhos do insolente.
    Serena, Uriel e Luc lutavam a nossa direita.
– Quer destruir a fortaleza dele? – Meu irmão abriu um sorriso sinuoso.
– No que está pensando? – Indago.
    Seu raio atingiu mais um e minha espada rasgou mais um.
    Retornamos a atenção um para o outro.
– Eu posso voar e desferir os raios de cima para baixo e você pode usar a espada e as chamas para finalizar os que ficarem de pé. O que acha?
– É um bom plano. Mas o que garante que a sua magia não vai atingir o Rafe? Eu o quero vivo.
– A sua garantia sou eu, e acredite, não haverá erros.
    A Ordem piscou o olho para mim e sorri assentindo.
– Combinado?
– Sim.
– Se prepare.
    Respiro fundo, manejando novamente a espada.
    Seria bom se minhas chamas cobrissem a lâmina. Penso. Num instante, as mesmas fazem isso e a Acrux incendeia. O fogo se alastrando por minha mão. Fênice. Sorrio e agradeço intimamente.
– Gostei disso. – Seth apontou, voando sobre nossas cabeças.
    Contemplo a Ordem estender os braços para o alto e seus olhos evidenciaram descargas elétricas. A região treme com a gravidade do seu poder chamando a atenção dos outros. Os cabelos brancos iam na direção do vento. Ele parecia um deus da mitologia nórdica. O vento tornou-se impetuoso, as nuvens se juntaram e escureceram, relâmpagos e raios passaram a rasgar o céu numa violência catastrófica.
– Eles vão torrar. – Serena chegou perto de mim, seus olhos violeta brilhando. – Veja o espetáculo.
    Acenou com o queixo. Raios, múltiplos deles saíram das nuvens sobre os Sirius fazendo-os despencar e caírem como se fossem um dominó. Alguns permanecerem de pé, assim como o Rafe. O garoto estava assustado. O tempo dele estava acabando.
– Essa é a minha deixa. – Digo, vendo-a sorrir.
– Mostra para eles quem você é.
    A beldade se virou e atingiu um Sirius que vinha por trás.
    Uso a velocidade e corro deslizando no gelo. Analisando a minha investida, Rafe mudou de lugar e se escondeu no meio dos outros. Lenta demais. Que infeliz! Impilo meu corpo e deito a coluna girando a espada na mão como se fosse um pião. Vou colocando um a um no chão, causando cortes profundos. Tudo acontecia muito rápido e imagino no que vou me tornar quando chegar à fase completa.
    Paro, quando os vejo estirados na superfície rachada. Em breve esse gelo se partiria. Observo ao meu redor e vejo que faltava pouco para terminar.
    Uriel pousa do meu lado.
– Lembre-me de nunca procurar briga com você, Auri. – Pronuncia, limpando a bochecha suja de sangue dos Sirius.
– Ainda quero treinar com você. – Falo. Cara de anjo ergue uma sobrancelha.
– Para quê? Vou apanhar. Será vergonhoso.
– Não seja modesto. Eu vi você usar o Pólux com destreza e agilidade.
     Ele tomou a minha frente e paralisou um Sirius e depois o jogou na direção de uma árvore. O mesmo caiu de cara no gelo.
– Está vendo? – Indico. – Não tenho chances e sabe disso.
– Não se subestime, Auri. – Toca em meu ombro, com o olhar atento. – Veja o que está fazendo sem possuir cinquenta por cento da sua magia. Está massacrando, para uma principiante sem treino.
– Isso porque a Fênice está no controle.
– Tem certeza? Talvez seja você mesma. A Fênix pode ter o controle agora, mas o poder é seu.
    Dito isso, o ruivo sumiu se materializando ao lado da Serena.
    O príncipe sombrio vem para o meu lado.
– Como vamos atrai-lo? – Questiono enfurecida. – Esse inepto não para de se esconder.
    Ouço a risada dele perante meu xingamento.
– Aliás, você está bem? – Olho nos seus olhos prateados.
– Se refere as sombras? – Seu polegar toca a minha bochecha e assinto. – Eu estou no controle. Estou dando a elas o que querem.
– Não vai interferir em você? – Me preocupo. Ele perscrutou meu rosto.
– Não. Estamos basicamente em um acordo mútuo.
    Isso não é o suficiente para mim.
– Basicamente? Isso quer dizer que não é concreto. – Argumento. Luc suspira.
– Eu vou ficar bem. Nós vamos. – Assegurou, e olhou para frente. – Vou deixá-lo vulnerável e concluímos com isso certo?
– Está bem.
    As sombras estavam maiores e mais violentas e cresceram tomando quase que todo o seu domínio. A escuridão brigava com a luz e ele se afastou.
    Fiquei de prontidão.
– Aurora! Cuidado! – Grita Serena e me viro rapidamente.
    A cena passou em câmera lenta diante dos meus olhos. Uma Acrux foi lançada na minha direção e a espada vinha com toda velocidade fazendo a lâmina brilhar. Droga! Estava muito perto. Então espalmo à espada para frente visando impedir o ataque, mas que iria me atingir de qualquer jeito. Antes que eu pudesse se quer pensar em desviar, Serena brota na minha frente de braços abertos e a Acrux atravessa seu peito.
    Não! Meus olhos saltam e ela expele sangue pela boca.
– Serena! – Berro em desespero e jogo a espada de lado. – Serena! Não, não, não!
    Seguro seu corpo antes que caísse no gelo. Sento-me com ela em meus braços, minhas mãos tremiam e meus olhos transbordavam às lágrimas. A minha amiga tossiu e engasgou. A ferida começando a matá-la.
    Ouço o bramido de dor do Uriel e sua luz se expande destruindo os Sirius com quem lutava e levando metade do lugar pros ares. Rapidamente ele se projeta do outro lado segurando o rosto dela. Lágrimas caiam dos seus olhos.
– Ei, me escute. Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. – Dizia, repetia. Fez a arma evaporar do seu peito e seu sangue manchou ainda mais o vestido preto. – Rena não vou deixá-la partir está me ouvindo? Não vou. Não posso.
    Serena tocou em sua bochecha e sorriu, um sorriso de despedida.
– Não Serena. – Eu balançava a cabeça. – Por favor, não vá. Você é a minha única amiga. Por favor!
    Seth e Luc ficaram na nossa frente, e o príncipe sombrio nos cobriu com suas sombras. Estavam tão chocados e inertes que não conseguiam proferir nada. Cara de anjo suplicava e sua voz embargada e dilacerada reverberava nos meus ouvidos.
– Desculpa. – Ela disse, olhando para ele carinhosamente. Lágrimas despontavam de seus olhos humanos. – Queria que tivesse me dado a aliança.
– E eu pretendo lhe dar. Suporte mais um pouco. Em breve estaremos no Reino e encontraremos uma cura. – Encostou sua testa na dela. – Eu vou aos confins do mundo, entre o céu e a terra. Só não desista. Não me deixe. Eu não vou suportar sem você, Rena.
– Eu amo você. Vou sempre amar você.
    Essas foram as suas últimas palavras antes de fechar os olhos.
    Não! Céus, não! O grito estridente do Uriel fez algo lá fora ruir, seu poder explodiu de uma forma da qual nunca tinha visto antes. Era dor. A crua e dilacerante e fria dor.
    A mão dela escorregou da minha e meu olhar atordoado se perdeu. Se perdeu no seu corpo sem vida, no seu rosto branco e sem brilho. Por que quando as pessoas morriam um filme de tudo que nós vivemos com elas se passa diante de nós? É nos mostrando que nunca mais teremos aquela pessoa do nosso lado? Que somente as memórias ficam? Que devemos aproveitar enquanto há vida? Todas as minhas perguntas têm uma resposta e é: sim.
    Não aguentava mais perder ninguém, não conseguia suportar mais essa dor. Já não bastava meu pai, Amber e minha mãe? Por que também a Serena? Por que o meu destino insistia em levar as pessoas que amo? Não deveria ser assim. As coisas não deveriam terminar assim.
    Um rugido ecoou dentro do meu peito.
    Eu quero a Serena de volta.
    As chamas surgiram nas minhas mãos.
    Não vou deixá-la morrer.
    A magia me envolveu por fora, espalhou a neve e a derreteu.
    Eu sou Adhara Feeregan, Princesa legítima do Reino Crescente e filha de Enos Feeregan, neta de Eragon Feeregan, e não vou deixar mais ninguém morrer.
    Meu peito inflou e sinto as chamas percorrerem minhas veias, células, sentidos e todas as partes vivas, mortas do meu corpo. Contemplo a chama escarlate se mover como um redemoinho e Luc retira as suas sombras deixando o fogo incendiar o ar. O gelo não suporta e se rompe, desintegra. Seth nos tira do lago e nos faz pousar na neve que logo se derreteu. Via meus cabelos mudarem do preto para o ruivo fogo, sentia nas minhas bochechas formarem uma linha pequena assim como as tatuagens rodeavam meus braços.
    Minha magia banhou o Uriel, a Serena e depois disso, sou erguida no ar e pela primeira vez na vida sinto a calmaria, não mais dor, nem tristeza. Mas leveza, como se dentro de mim fluísse um rio, silencioso e tranquilo. Havia a fúria, mas não uma fúria descontrolável e sim dominável. Sinto a Fênice me acolher, abraçar o meu íntimo e abandonar a manipulação que tinha sobre mim. Agora, a magia, o poder, pertencem a Princesa.
    Isso que é morrer e ressurgir? A sensação é de estar deitada numa nuvem. De sentir o macio de um travesseiro fofinho. É libertador e cheio de quietude.
    De cima, de soslaio, acompanho a tensão lá embaixo. Os Sirius que sobraram estavam polvorosos. Rafe estava no meio deles.
    Desço lentamente e apenas com um estender de mão, elimino-os com o fogo, deixando apenas o Rafe por último. Ele até tentou correr, mas o meu campo de energia tomou a sua frente, impedindo-o de prosseguir. Era uma muralha de fogo que subia de baixo para cima.
    Sem saída, como uma barata encurralada, ele se virou e vejo a morte em seus olhos.
– Eu disse que o seu último sorriso seria aquele. – Digo, e minha voz parecia como muitas vozes juntas. – Seu fim chegou.
    O Sirius arregalou os olhos e minhas chamas o transformou em pó.
    Tudo estava finalizado. No entanto, me sinto cansada.
    De repente, sinto uma magia estranha vir de longe. Seth se encaminha para frente, seus olhos assustados, arregalados e surpresos. Algo penetrou a camada no céu e desceu com toda velocidade se chocando na superfície. A pessoa pousou de joelhos e quando levantou a cabeça seus olhos azuis se encontraram com os meus. Não acredito!
    A garota do meu sonho.
    Ela usava um traje de batalha escuro e colado, as armas, os sais de combate, estavam presos nas suas costas e uma trança de lado se destacava nos seus cabelos compridos. Ela se levantou. A garota tinha traços idênticos iguais aos do... Luc.
    Akime?
– Olá, Seth. – Anuncia, abrindo um sorriso perverso. – Você ainda continua bonito como sempre.
– Akime? – Foi a única coisa que conseguiu proferir em meio ao atordoamento.
– Em carne e osso. – Disse, e seus olhos azuis se encontraram com os meus. – Princesa, nos encontramos de novo. Mas agora está na completa transformação.
    Sorriu satisfeita. Os olhos do meu irmão não desgrudavam dela, mas também não ousava dar um passo.
– Recebeu o recado? – Ela voltou-se para o Luc. Que recado?
    Até então não tinha prestado a atenção nele e, céus! Seu rosto está tão sombrio. Não! As sombras.
– O Tigre? Foi muito perspicaz, irmã. – Ele diz, e vai para o lado dela. O quê? O que está acontecendo aqui? – Mas entendi o recado. Faça o que veio fazer.
– O que vai fazer? – Pergunto, sentindo o chão sob meus pés.
    Meu irmão estudou a garota e seus olhos cresceram.
– Não faça isso. – Seth deu um passo à frente.
– É para o bem de vocês. Para o bem de todos.
– Não!
    Meu irmão a cortou rudemente, parecia não conhecer e conhecer a mulher diante dele.
– Sinto muito, mas terei que fazer. – Akime lançou sua magia no tempo e aquele poder pareceu ir além do domínio do Luc sumindo do recinto.
– O que você fez? – Meu irmão murmurou, visivelmente decepcionado. Eu não entendia.
– O que ela fez? – Divido a atenção entre ambos.
– Akime apagou a memória daqueles que um dia conheceram vocês, inclusive a da sua mãe. Será como se ela nunca tivesse filhos. – Luc informa, sem nenhum pingo de remorso.
    Sinto como se um soco acertasse o meu estômago. Prendo os olhos trêmulos nos dois irmãos, e aquele não era o meu Luc. O príncipe sombrio estava totalmente dominado por sua obscuridade, a maldade transpirava no seu olhar.
    Então isso significa que ele não se lembrava mais de mim? E que também nos enganou esse tempo todo a respeito da morte da irmã? Luc sabia que ela estava viva desde o começo. Claro. Na primeira vez que a Akime apareceu no meu sonho, foi ele quem me tirou de lá, então sim, o príncipe sombrio tinha ciência de tudo. 
    Volto meu olhar decepcionado para a garota sentindo a mágoa rasgar meu coração, e um lampejo passou em minha consciência; a mesma casa do sonho é a mesma casa do desenho, e aquela pessoa é a mesma garota. Akime.
     Por que eles planejaram tudo isso? Seria eles, amigos ou inimigos?
    O que realmente está acontecendo?
    Caio de joelhos, exausta, acabada. Uma das poucas coisas que conseguia pensar antes de desmaiar, era na mamãe.
    Mãos seguraram o meu corpo, Luc, mas seus olhos tão conhecidos e familiares por mim, não faziam a mínima ideia de quem foi a Aurora.
    Então esse é o último sinal? Luc?
   

Reino Lunar Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin