PRELÚDIO

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Brethen acordou ao som de dezenas de jovens que acreditavam que suas vidas iriam mudar naquele dia. Ela, porém, ficou na cama por mais dez minutos, como de costume.

Seus colegas se agitavam pelos corredores dos dormitórios, ansiosos pela chegada da família real, que aconteceria a qualquer momento. Brethen se levantou com calma, se vestiu e caminhou até o refeitório, sem pressa.

Há quase trinta e cinco anos, a família real fez sua última aparição na Academia Bastat. Na ocasião, o rei Gavin, na época um príncipe que acabara de completar dezoito anos, visitou a academia para selecionar seu Campeão. Esse escolhido se tornaria a sombra e o guardião vitalício do monarca, permanecendo ao seu lado até o término da vida de quem deles chegasse primeiro ao seu fim.

Hoje, a mesma tradição se repetia, mas era a vez do príncipe Arian escolher seu Campeão, tendo completado dezoito anos há poucas semanas. Todos os alunos de Bastat com a mesma idade e que estavam prestes a se formar eram elegíveis para serem escolhidos. Brethen, porém, não era um deles.

Apesar de ter a mesma idade e ser mais habilidosa que muitos colegas, ela ainda tinha seis meses de estudos pela frente antes de se formar. Ao contrário dos outros jovens, ela entrou na academia aos treze anos, um ano depois do usual, aos doze. Seu talento natural permitiu que avançasse seis meses no curso, mas ainda ficou meio ano atrás dos colegas da mesma idade e que seriam elegíveis para se tornar Campeões do futuro rei.

A Academia Bastat era o principal centro de formação de jovens proficientes nas Artes de Batalha em Pratória. Após seis anos de estudos e treinamento intensivo, os graduados poderiam seguir carreiras como guerreiros, assassinos, espiões ou integrar as fileiras de guardas de elite. Em breve, Brethen poderia escolher – ou ser escolhida – para alguma daquelas carreiras, mas não seria hoje.

No refeitório, a informação já circulava: O rei, a rainha e o príncipe herdeiro já haviam chegado, junto do Campeão do Rei, Fausto Matroni. Eles estavam na sala da diretora, reunidos com alguns professores que, certamente, já citavam nomes dos alunos mais apropriados para o cargo.

Em breve, os alunos elegíveis seriam convocados ao pátio para formar uma linha e serem inspecionados de perto pela família real. Depois, seguiram pelo dia de aulas normalmente, para que pudessem ser observados em ação. Ao pôr do sol, o príncipe Arian Pratoris teria que escolher seu Campeão, um jovem cuja vida nunca mais seria a mesma.

O posto de Campeão era altamente desejado, em parte devido à honra de servir ao reino, mas principalmente pela perspectiva de uma vida repleta de luxo e conforto para quem fosse escolhido. Muitos dedicaram meses de esforço desde o anúncio da visita do príncipe, motivados pelo simples sonho de um dia viver no palácio. Brethen, porém, seguiu sua vida, tentando não se amargurar por ser deixada de fora.

Vinda de uma família pobre, ela era a caçula e única mulher entre seis irmãos. Ao longo de sua vida, foi limitada a duas opções: casar-se e sair de casa ou ir para Bastat. Em resumo, a expectativa era que ela deixasse de ser um fardo financeiro para a família o mais rápido possível. Naquela época, ela não desejava se afastar de seu irmão Basken e da amada cunhada Suzania, mas foi obrigada a tomar outro rumo. Assim, aos treze anos, Brethen se juntou à Academia Bastat. Já se passaram cinco anos desde então, e desde a sua partida, ela nunca mais teve contato ou notícias de qualquer membro de sua família.

Após a refeição, toda a Academia Bastat se reuniu no pátio para receber a família real. Os alunos elegíveis – vinte e dois deles, no total – formaram uma linha na frente de todos, com o restante enfileirado logo atrás, organizados por idade. Brethen foi colocada na segunda fila, formada por ela e apenas mais quatro jovens do mesmo ano.

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