CAPÍTULO 36 - Suspeita

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O Corcel Alado era uma taverna popular no Distrito Alto, o setor boêmio da Capital. Ela não se destacava entre as centenas de outras casas de entretenimento da região. Tinha a fachada simples, o interior mais ainda, mas não era a pior opção por ali.

Brethen empurrou a porta para entrar no mesmo instante em que um homem a puxou para sair, e ela precisou dar um passo para o lado para o deixar passar. Ele não pareceu reconhecê-la e apenas ofereceu um aceno com a cabeça.

Àquela hora no começo da tarde, poucos clientes ocupavam as mesas espalhadas no salão e alguns dos banquinhos diante do bar. O espaço tinha cheiro de cerveja, pão e ensopado que, pelo visto, era o cardápio do almoço naquele dia.

Atrás do bar estava Jolimut, um homem alto, de ombros largos e barriga protuberante que era dono do Corcel Alado. Ele sorria enquanto conversava com um dos clientes e secava uma caneca mas, assim que seus olhos encontraram Brethen, a expressão dele mudou.

Ela era um rosto conhecido por ali, e não de um jeito bom. Já tinha acompanhado Arian até ali algumas vezes, tanto para beber quanto para encontrar com o principal fornecedor de ingredientes mágicos da região. Porém, enquanto ele usava um feitiço para se desfarçar e não ser reconhecido como o então príncipe, ela continuava sendo ela, conhecida como a guarda-costas do jovem nobre que gostava de causar problemas.

–Estava começando a acreditar que nunca mais ia te ver – disse Jolimut quando ela se inclinou sobre o bar. – Que pena.

– Meu patrão não está comigo, como pode perceber. – Brethen tombou a cabeça, se inclinando sobre os cotovelos no balcão. – Sou apenas a mensageira. Vande está por aí? Tenho um pedido para ele.

– Ele saiu para fazer uma entrega – Jolimut voltou a atenção para a caneca que ele polia nas mãos.

– Sabe quando vai voltar?

– Pela hora que ele saiu... – Jolimut deu de ombros. – Talvez uma hora ou um pouco menos.

Brethen tamborilou os dedos no balcão, infeliz por ter que esperar em um lugar onde não era muito bem-vinda. Pensou em voltar para o palácio e dizer a Arian que não tinha encontrado Vande, mas ela sabia que o motivo de estar ali era importante. Arian e Dona Sirvi precisavam dos ingredientes para a poção da verdade.

– Vou esperar – ela suspirou. – Me mê uma caneca de cerveja vermelha, por favor.

Julimut grunhiu qualquer coisa e se virou para servir a cerveja de Brethen. Quando voltou com a caneca, ela arrastou duas moedas pelo balcão, pagando a mais do que o valor da bebida. Julimut colocou as moedas no bolso sem reclamar e Brethen foi se sentar no canto do salão.

– Você sabe o que eu penso sobre isso – os sussurros exasperados de um homem algumas mesas adiante chamaram a atenção de Brethen. Ela deu um gole na cerveja enquanto tentava continuar ouvindo – Não concordo mais com essas coisas.

Quem falava era um rapaz jovem, de não mais de vinte e cinco anos, sentado de frente para um homem mais velho, esse na casa dos cinquenta. Os dois estavam inclinados sobre a mesa, com cenhos franzidos e canecas de cerveja entre as mãos.

–A gente faz um trabalho importante, Sales – disse o homem mais velho. – Você sabe disso, por mais que não goste. Precisamos de você.

O rapaz mais novo balançou a cabeça e passou os dedos pelos cabelos bagunçados.

–Minhas crenças mudaram, Bart. Não posso continuar fazendo algo que foge dos meus princípios.

–Você não pode simplesmente virar suas costas para nós. Sabe a dor de cabeça que isso vai me causar.

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⏰ Última atualização: Jan 05 ⏰

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