The Archer.

14 2 0
                                    

Fui acordada pelo som do meu celular vibrando na cômoda ao meu lado. Eram duas da manhã e o nome de Henry iluminava a tela do aparelho.

– Vai dormir. – murmurei.

Vênus dormia pesadamente na recém-comprada cama de solteiro do outro lado do quarto, abraçada com uma almofada. Fiz questão de falar baixo mesmo assim.

– Estou aqui fora. – sua voz era um tanto falha.

Me sentei na cama, já mais desperta.

– Henry, o que aconteceu?

– Podemos.. só dar uma volta?

Suspirei.

– Estou descendo.

Calcei as pantufas azuis e felpudas que estavam no pé da cama e saí de casa em silencio total.

Ele estava ali, de pijama, encostado na picape preta. Me abracei pelo frio noturno, mas sentia que ele era quem precisava de um abraço.

Quando ele finalmente notou a minha presença, o ar ao meu redor se encheu de melancolia. Seus olhos tinham um brilho triste. 

Me aproximei lentamente e ele abriu a porta para mim, com um sorriso desanimado.

– Oi.

– Oi, Cachos.

Ele não ligou o rádio, não havia música ecoando pelos alto-falantes. Nenhum dos dois fez questão de mudar isso.

Encostei a cabeça no vidro gelado da janela. Não perguntei para onde estávamos indo, apenas aproveitei o silencio e me encolhi no banco do passageiro, tentando entender o porquê de Henry Di Laurentis me ligar no meio da madrugada quase implorando para que déssemos uma volta.

Os dedos dele batucavam um ritmo ansioso contra o volante.

Depois de alguns minutos, estávamos na reserva estadual Torrey Pines. O carro foi estacionado em um lugar aonde tínhamos uma vista quase perfeita do mar.

Henry desceu do carro ainda mudo. Hesitei por um instante antes de tirar o cinto de segurança e segui-lo. Ele se sentou no chão irregular e encarou a imensidão do mar. Me sentei ao seu lado, abraçando os joelhos.

Mas o oceano não me era tão atrativo no momento.

– Vamos continuar jogando o jogo do silencio ou você vai me dizer o motivo de estarmos aqui às duas e vinte da manhã? – saiu quase como em um sussurro.

Ele finalmente me encarou. Seu olhar encontrou o meu, então desceu para os meus lábios e de volta aos meus olhos.

– Acho que é hora de conversamos sobre a minha família. – murmurou. – Algumas semanas atrás você estava olhando para a minha tatuagem. Você não é exatamente discreta, Cachos.

Olhei para baixo, envergonhada.

– Wendy é talvez a pessoa que mais amo no mundo inteiro. Quando ela tinha onze anos, foi diagnosticada com diabetes. Ainda me lembro do quão envergonhada ela ficou quando começou a usar a bomba de insulina.

Ouvi as ondas quebrando nas pedras, metros abaixo de nós. Era calmo. Era tranquilo.

– Ano passado, Wendy perdeu muito peso, ficava nauseada com mais frequência. Chegamos a achar que ela ia morrer. – sua voz falhou e os meu olhos começaram a arder. – Então, pedi para que ela escrevesse o próprio nome, e agora, eu o tenho gravado na minha pele, para sempre.

Senti a bile na garganta.

No ano passado, competimos na estadual e passamos por poucas e boas durante os treinos. Henry teve que lidar com a pressão de competir e com a incerteza do que aconteceria com a sua pessoa favorita no mundo todo.

HEART RACEWhere stories live. Discover now