Mudanças.

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Minha cabeça estava pesada quando acordei, como se eu estivesse de ressaca. A cama parecia mais confortável que o normal naquela manhã.

Me aconcheguei um pouco mais e relaxei completamente. Até ouvir um murmúrio vindo do banheiro.

Virei para o lado e a cama de Vênus estava vazia. Meu cérebro entrou em alerta e me forçou a levantar mesmo contra a vontade do meu corpo.

Quando entrei no banheiro, me deparei com Vênus de pé, encarando o próprio reflexo no espelho, boquiaberta, com uma tesoura em mãos. Despertei numa velocidade impressionante depois disso.

Os cabelos vermelhos que antes batiam debaixo dos seios, agora estavam pouco maiores que os ombros. Haviam mechas e mechas caídas no chão.

– Char.. – disse num suspiro.

– V, o que..?

Ela pôs a mão na boca, em choque.

– Ah Deus, o que eu fiz!?

Quando eu menos percebi, ela estava se encolhendo, a abracei ates que ela fosse de encontro com o chão.

– V, o que aconteceu? – perguntei.

– Eu estava com tanto ódio, tanto ódio, Char. – ela chorou contra meu peito.

A abracei com mais força, a reconfortando.

– Querida, se você não me explicar a situação, eu não vou poder ajuda-la.

Sentia que o motivo de suas lágrimas estava longe de ser o cabelo mal cortado. Ela fungou algumas vezes e respirou fundo, tremendo.

– Noite passada, Eros me ligou. – falou, num fio de voz. – Eu acho que ele estava bêbado. Me xingou de todos os nomes possíveis e disse que era tudo minha culpa.

– Vênus..

– Ele disse que se eu não fosse tão insuportável, ele não me bateria. – as lágrimas grossas estavam caindo por sua face mais uma vez. – Disse que se eu não tivesse me intrometido.. vocês ainda estariam juntos. Me chamou de pirralha mimada e disse que se pudesse, me mandaria para um internato do outro lado do mundo.

Seu choro se intensificou e meu peito se apertou.

– É muito importante para mim que você entenda que isso tudo é mentira. – segurei sua face. – Você é uma criança. Não tem culpa de nada.

Ela se aconchegou contra meu peito mais uma vez.

– Ainda não entendi o motivo de você querer cortar o cabelo às oito da manhã por conta própria. – sussurrei.

– Depois de tudo que ele falou, eu o xinguei de volta, gritei tanto que fiquei rouca. – explicou. – Fiquei com tanta raiva e vergonha de ter o mesmo sangue que ele, que fiz a mesma coisa que fiz quando ele me bateu pela primeira vez.

– Foi mudar o cabelo. – concluí.

– Queria apenas cortar as pontas, nada muito radical. Mas, como pode ver, deu muito errado.

Nós duas demos uma risadinha.

– Sabe, não podemos deixar o seu cabelo assim. – falei, brincando com algumas mechas. – Precisamos de ajuda.

Segui até o quarto de Violeta e a cutuquei até que acordasse.

– Acorda, é urgente. – sussurrei. – Tipo, urgência de beleza.

Ela se levantou sonolenta, com apenas uma velha camiseta do pai. Quando entrou no banheiro e viu o estado do cabelo de Vênus, pareceu ter levado um choque.

Ay Dios. – murmurou. – Como diabos..?

– Longa história. – disse Vênus. – Pode me ajudar? Por favor.

Violeta abriu um sorriso fraco.

– É claro, querida.

Vênus molhou os cabelos, o penteamos, e acho que nunca vi tantos produtos num cabelo só.

Violeta ajeitou as pontas tortas, ela era bem mais habilidosa com a tesoura do que eu e Vênus juntas. De pouco em pouco, o cabelo vermelho fogo ficava cada vez mais... Vênus.

Alguém bateu na porta do banheiro.

– Cachos? O treinador me disse que alguma coisa aconteceu e eu vim o mais rápido que pude. – disse Henry do outro lado da porta.

O encontrei apoiado no batente. Seus olhos brilharam ao ver o novo visual de Vênus.

– V... uau! – exclamou. – Você tá incrível!

Ela abriu um enorme sorriso.

– Eu sei. Graças à Vi.

Violeta afagou o seu ombro e Henry se aproximou lentamente.

– Era isso que você queria? – ela assentiu. – Então, ótimo.

Henry a abraçou e beijou sua testa.

Ele assumiu um papel que Eros nunca quis. O de ser o irmão mais velho. O de ser família.

HEART RACEWhere stories live. Discover now