Essa sou eu tentando.

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Os dias seguintes foram calmos. Henry e eu estávamos de bem, tudo estava bem. Até uma prova de física com um enorme cinquenta e dois ser colocada na minha mesa.

Cinquenta e dois? De cem?

Vênus me mostrou sua prova com um quarenta escrito em vermelho vibrante.

Física não era seu forte, mas ela nunca havia tirado abaixo de sessenta em uma prova.

No fim da aula, fui até o professor, com o estomago revirando.

– Há um erro. – afirmei.

– Como assim?

– Senhor Baltimore, sou uma aluna exemplar desde sempre. Deve haver algum erro. Talvez o senhor tenha confundido a minha prova com a de outro aluno.

Infelizmente, isso era impossível. Era o meu nome ali, a minha caligrafia por todo o papel.

– Não há erro algum, senhorita Peterson. – afirmou o óbvio.

– Então, me deixe fazer a prova novamente. Por favor.

– Lamento dizer que isso não será possível, Charlotte. Se eu fizesse isso, teria que permitir que todos refaçam a prova.

Respirei fundo e murmurei um falso agradecimento, saindo da sala corcunda e cabisbaixa.

– Ele não vai deixar você refazer a prova? – perguntou Maya, que também estava nessa aula.

Neguei.

Me sentia tonta e nauseada.

– Preciso comer. – murmurei.

Caminhei até o refeitório como um zumbi. Me sentei em nossa mesa e apoiei a testa contra o metal.

– Quem matou o seu peixinho dourado? – Violeta perguntou, vendo meu estado.

– Tirei um cinquenta e dois em física. - balbuciei.

Minha prima arregalou os olhos.

– Isso é impossível! – exclamou. – Você não tira cinquenta e dois, nunca tirou!

Coloquei a prova na mesa e arrastei em sua direção. Deitei a cabeça entre os braços, apenas querendo sumir.

– Vênus pegou uma salada para você. – disse Henry, sentando ao meu lado.

Ele pegou o papel que estava nas mãos de uma Violeta incrédula.

– Eu sou um fracasso.

– Ei! Não diga isso! – Annie me repreendeu.

Senti vontade de chorar até desidratar. A salada na minha frente não parecia nada apetitosa. Na verdade, me dava vontade de vomitar.

– Você tirou um cinquenta e dois, não matou alguém. – Henry colocou um dos meus cachos atras da minha orelha.

– Matei sim, a minha dignidade. – a vontade de chorar aumentou. – Avisem ao meu tio que não vou treinar hoje. Vou passar o dia trancada em casa estudando.

– Charlotte.. – não gostava quando ele me chamava pelo meu nome. Detestava na verdade.

Não deixei ele finalizar, me levantei e saí dali, querendo me esconder.


Subi as escadas de casa aos pulos.

Peguei todos os meus cadernos e livros e os coloquei na escrivaninha. Preparei uma enorme quantidade de café e me sentei na cadeira de escritório.

Se 3x – y² + 4 = 25 qual o valor de y?

Nomeie as diferenças entre as células animais e vegetais.

Minha cabeça já estava doendo.

Estava tudo rodando.

Se -2 e -9 são..

Quando olhei o horário no celular, já eram 18:27, haviam diversas ligações perdidas e uma única mensagem de Henry: estou aí em cinco minutos.

A mensagem fora enviada seis minutos atrás.

Ouvi a porta da frente bater. – Henry tinha uma chave da minha casa? Ou eu simplesmente deixei a porta destrancada?

– Você é louca? – perguntou assim que abriu a porta do quarto.

Ele carregava uma sacola do Starbucks e outra da farmácia.

– Estou tentando falar com você há horas! Não olha o celular não?

Senti uma pontada na garganta e meus olhos começaram a pinicar. Minha visão aos poucos foi ficando borrada.

– Henry...

Os olhos dele se arregalaram levemente e uma pequenina ruga apareceu, bem entre as suas sobrancelhas.

E então, ficou difícil de respirar. Comecei a hiperventilar. Tentativas falhas de puxar ar para os meus pulmões.

Ofeguei e ofeguei. Eu estava praticamente sufocando.

Ele se agachou na minha frente com as mãos apoiadas nas minhas coxas. Eu estava incontrolável. Não conseguia parar de chorar, as lagrimas continuavam a cair, sem a minha permissão.

Tentei focar no calor de suas mãos sobre os meus jeans. Não funcionava.

Eu soluçava como uma criança.

– Eu falhei, decepcionei todo mundo.

Henry pôs uma mecha de cabelo atras da minha orelha.

– Você não decepcionou ninguém, Char. – assegurou. – Nem ao seu tio, ou às suas primas, seus pais, Maya, Matthew, eu, ninguém.

Ele segurou meu rosto entre as mãos.

Me senti nua, vulnerável demais na frente dele.

– Eu não.. – um soluço. – eu não sei o que fazer, James Dean. – outro soluço.

– Como assim?

– Tudo na minha vida gira em torno da faculdade e do kart. – mais um soluço. – E se eu falhar? Nem ao menos consegui fazer com que um estúpido relacionamento de ensino médio durasse.

– Hey, não diga isso. A culpa não é sua, e você sabe disso. A culpa é de Eros, por ser um babaca.

– Eu.. estou me afogando aqui. Nesse imenso mar de autossabotagem.

Ele passou o polegar por uma lágrima que escorria pela minha bochecha.

– Você não vai se afogar. Eu não vou deixar. Eu estou aqui, e vou ficar até você me expulsar.

– Hen, isso é tudo o que eu sou. – saiu quase em um sussurro. – Essa sou eu tentando.

– E isso é suficiente.

Ele me ajudou a levantar e me abraçou, com força. Assim como fizera alguns dias atrás, em Torrey Pines. Era confortável, quase como um abrigo.

Apoiei meu ouvido contra seu peito. As batidas de seu coração estavam definitivamente mais calmas que as minhas. E isso me deu conforto.

Então, a ficha caiu.

Eu estava me apaixonando.

E eu odiava isso.

Odiava que, com um abraço ou um sorriso, Henry James Di Laurentis conseguia fazer com que todas as minhas barreiras caíssem.

Odiava a forma como ele brincava com o meu cabelo. Odiava os estúpidos apelidos que ele me dava.

Odiava como ele era superprotetor comigo, Vênus, Annie e Nessa. Odiava como ele falava espanhol perfeitamente.

Mas a verdade era, que eu não o odiava.

De jeito algum.

Henry James Di Laurentis realmente era uma droga.

Uma droga a qual eu já estava completamente viciada.

HEART RACEWhere stories live. Discover now