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Vica conseguiu passar o cartão de crédito uma última vez antes de bloquear alguns momentos depois. A compra? Duas passagens para o Rio de Janeiro, lar doce lar.

Bruno havia desmarcado o único compromisso que Vica teria na semana. Ela queria descansar, como se os últimos dois anos não fossem descanso o suficiente.

Eles moravam no mesmo apartamento, aquele no Leblon que já tinha três aluguéis atrasados e o wi-fi cortado. Viviam juntos faziam quatro anos, desde que Bruno abdicara de todos os outros cantores que assessorava para dar atenção exclusiva a Vica. Mas agora, a carreira do homem estava tão má vista quanto a reputação da cantora.

Dois falidos, e muitas dívidas para pagar.

Ao chegarem na recepção do prédio com uma quantidade exorbitante de malas, viram Didi, o corretor de imóveis, correr atrás deles como se estivesse em uma maratona. Vica nem ao menos olhou para trás, continuou a carregar a mala de rodinhas enquanto batia com os enormes sapatos altos no chão. Bruno vinha logo atrás, carregando todas as outras bolsas.

— Vocês não vão pagar o aluguel? — gritou Didi, com falta de ar. Estava bem mais calvo do que da última vez que o viram, não faltava muito para ficar completamente careca.

O elevador estava logo à frente, com a porta metálica fechada. Os outros inquilinos na recepção os olhavam com curiosidade, não era todo dia que se via caloteiros fugindo de corretores.

— Vica, vai rápido! — Bruno gritava, vendo o homem quase o alcançar.

Como em um passe de mágica, o elevador abriu, revelando duas mulheres idosas com bengalinhas de madeira. Vica sorriu como se tivesse acabado de ganhar a nova versão do iPhone.

Ao empurrar cuidadosamente as senhorinhas, ela se jogou no elevador e agarrou Bruno também. Apertou o número quinze diversas vezes e observou as portas fecharem vagarosamente.

Didi chegava cada vez mais perto. As manchas gigantescas abaixo dos olhos dele ficavam mais visíveis, assim como os lábios que precisavam urgentemente de um batom de manteiga de cacau. Ele esticou a mão para que a porta não se fechasse, mas foi interceptado quando Bruno jogou uma das bolsas entre suas pernas, fazendo-o cair.

Eles suspiraram de alívio quando o elevador finalmente começou a subir. Haviam procrastinado mais um dia de aluguel, mesmo que para isso Vica tivesse perdido a sua bolsa de pijamas.

Eles ouviram as batidas de Didi na porta durante o resto da manhã, mas não foram fortes o suficiente para acabar com a hora da soneca

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Eles ouviram as batidas de Didi na porta durante o resto da manhã, mas não foram fortes o suficiente para acabar com a hora da soneca. Vica deitou confortavelmente na cama king size, com tampões peludos no ouvido e uma máscara hidratante no rosto.

O seu quarto era de boneca, completamente pintado de rosa. As estantes estavam abarrotadas de troféus e medalhas das premiações que havia participado, e as paredes tinham quadros e mais quadros de todas essas conquistas. O Moda Sertanejo, do qual ganhara como melhor cantora revelação em 2014. A foto do Ruralzão com a medalha de melhor música de verão. A cantora mais promissora no programa Amigos do Valter. E também o chapéu de ouro de música chiclete no MultiBoiada.

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