Ultraviolence

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Eu quebrei a porra do nariz dela.

Um erro de calculo. Eu não queria, deixei-me levar pela ocasião. Claro que arquei com todas as despesas. Os melhores médicos (e mais discretos), as melhores acomodações e serviços ao seu dispor. Tudo para que ela cogitasse me perdoar. Caso não perdoasse eu não sobreviveria.

Ela se recuperava no hospital e eu não podia vê-la. Questão de sigilo da minha parte.

"Palavras são só palavras, assim como dinheiro é só dinheiro". O que ela me disse envenenava minha mente, como uma semente de Belladona plantada que agora rompia de meu cérebro, arruinando tudo.

Eu era feito somente palavras e dinheiro e ela queria mais. O que eu poderia dar-lhe? Me sentia um tolo por presenciar a solidão como uma sombra a cada passo que eu dava sem ela.

Antes, eu era um cara acostumado com a ausência. Nasci filho único de um pai alcoólatra e uma mãe fria e distante emocionalmente. Toda a merda fodida de ser humano que eu era foi o melhor que consegui fazer por conta própria e eu me orgulhava disso.

Então como ser melhor? Como ser melhor quando eu estava completamente destruído e arruinado?

Eu sentia falta dela, não importava para onde as drogas me mandassem. Nada era o suficiente. Nunca chapado o bastante para esquece-la, nem que fosse um pouco. Ela estava lá, nas formas e nas estrelas e nos borrões. Sua presença ganhando mais força e a angustia, mais intensidade.

Foda-se o sigilo. Foda-se tudo. Eu iria ver a minha mulher.

~ ♥♠♣♦ ~

Entrei no quarto dela sem muita cerimonia.  Carregava um buque de rosas na minha mão e a postura de um magnata. Passaram-se 15 dias desde o pequeno incidente e eu vibrava em expectativa para ver seu rosto. Como estaria? Eu havia desfigurado a minha madame? Eu me odiaria para sempre se esse fosse o caso.

- O que faz aqui? - Ela perguntou assustada ao me ver parado na frente da sua cama.

O rosto dela estava levemente inchado, tinha arroxeados embaixo dos olhos. Ainda estava linda, mesmo com a atadura no nariz. Parecia cansada, mas ainda tinha aquele olhar de pura determinação e o ar de prepotência. A elegância negando-se a deixá-la, até mesmo naquele estado.

- Eu vim te pedir desculpas apropriadamente, Carmen. - Sussurrei envergonhado, entregando-lhe as flores.

- Desculpas pelo o que? - Ela me surpreendeu com a resposta, rindo abertamente para mim. - Está tudo bem. Acidentes acontecem. - Completou, colocando o buque na mesinha de cabeceira, dando pouca ou nenhuma atenção a ele. - E amar você é realmente difícil, Senhor Turner.

Estranho. Não era exatamente a reação que eu esperava. Fui o caminho inteiro até lá decorando um lindo discurso sobre evoluir como ser humano e essas merdas de promessas, todas tão difíceis de se cumprir.

- Acidentes acontecem? - Me aproximei com cautela - Só isso? - Sentei-me na beirada da cama confortável do hospital requintado.

Ela estava em um enorme quarto só para ela, com vista panorâmica para a cidade.

- Eu senti a sua falta. - Sussurrou manhosa pra mim, fazendo um biquinho. - Era mais isso o que faltava? - Ergueu a sobrancelha em desafio.

- Depende.

- Depende? - Riu cheia de humor. - Depende do que exatamente, Senhor Turner? - Cruzou os braços.

- Se você está sendo sincera comigo ou não. - Respondi olhando em seus olhos.

- E se eu não estiver? - Ela me provocou, sem medo. - Você me bateu e eu senti como se fosse um beijo, Daddy. Machucou, mas pareceu amor de verdade.

Ela era assim. Cheia de veneno, mas abençoada com beleza e fúria.

- Então eu vou ter que quebrar outro ossinho seu... - Fui subindo a mão ameaçadoramente por seu braço, sentindo a textura da sua pele arrepiar, cada pelinho ficando em pé lentamente. - Ou vou ter que te fazer engolir as minhas verdades.

- Me fazer engolir, é? - Ela se inclinou para mim suavemente.

A ameaça fazendo ela acender-se como a porra de um isqueiro. O perigo era um poderoso afrodisíaco para a nossa conexão inexplicável. Era a lenha que fazia a nossa fogueira crepitar com força.

- Engolir somente verdades ou mais alguma coisa? Eu gosto de engolir... Sabe... - Ela falava sem desviar os olhos dos meus. - Engolir mais e mais... Bem fundo... Sentir descer pela minha garganta... As suas verdades, é claro. - Sorriu amarelo no final, piscando com falsa inocência.

- Carmen... Não me provoca. - Avancei nela, agarrando seus cabelos, puxando fortemente os fios. - Você não está em condições médicas de engolir o que eu quero fazer você engolir junto com as verdades...

Ela continuava a me olhar sem pudor algum, debochando da situação toda e eu só conseguia lembrar de como aquela boca realmente era boa engolindo...

- Eu consigo, baby... -Disse orgulhosamente. A mão encostando sutilmente no meu pau, por cima da calça que eu vestia.

Eu saltei do seu toque quente. Nem percebi a mão dela aproximando-se de lá, tão envolvido eu estava naquele jogo de sedução.

Eu não podia deixar ela me tocar ali, pois, uma vez que ela começasse o incêndio, não teria mais volta.

- Nós não podemos. - Falei em tom de comando.

- Você está parecendo muito preocupado com o meu bem estar para alguém que quebrou meu nariz, benzinho. - Uma cutucada de leve na ferida. Ela não tinha me perdoado... Ainda. - O que mudou nesses 15 dias, em?

Tanta coisa tinha mudado. Por fora, tudo estava exatamente como era: Eu continuava com a minha cara apática e fachada de assassino, pois meus negócios dependiam da minha má índole, mas por dentro eu estava sendo reestruturado, peça por peça, pedacinho por pedacinho.

Nas ruas de Coney, o que valia era o poder, acima de qualquer dinheiro. Era tudo uma questão de ordem e disciplina. Quem tinha mais mortes na conta, sempre levava a melhor sob qualquer cifrão.

Mostrar-se fraco era cavar a própria cova. Não existia espaço para chorões dentro daquela jaula de selvagens e eu estava me pondo em risco ao deixá-la abrir brechas e mais brechas no meu coração, permitindo luz entrar em minha alma.

O problema é que com a luz, vem a visão de tudo o que está de errado. Todas as desgraças escondidas embaixo do tapete aparecem e você percebe que a bagunça é maior do que imaginava.

- O que mudou, Carmen, é que agora eu me importo com você. - Foi só o que eu me permiti dizer, mas por dentro, meu coração sussurrava:

"Eu me importo pra caralho e isso tá me deixando doente".

- Eu amo quando você usa a sua Ultraviolência. - Ela começou a engatinhar na cama em minha direção. - Você é o líder da minha Seita.

Meu império estava prestes a desmoronar, como um castelo de cartas. Eu podia sentir a cada vez que adentrava mais no mundo hipnótico dela. A solução seria uma garrafa de bebida, para embriagar-me até o mundo desaparecer ou as pessoas se esquecerem de mim.


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N/A

Mommy Noel tá on aqui e chegou com presentinho kkkkkk 

Feliz natal, anjos, me desculpem pelo capitulo pequeno.

Eu só voltei pq precisava extravasar um pouco e a escrita é o que me impede de coringar as vezes.

Todo ano eu sou obrigada a participar dessa palha assada chamada confraternização de amigo secreto kkkkkkkkkkk só queria deixar meu ranço registrado mesmo.

XoXo

They all like CarmenWhere stories live. Discover now