41. Um dia de cada vez

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📄LUNA

Talvez eu estivesse mais nervosa do que qualquer pessoa. A cirurgia havia começado por volta das dez da manhã e já eram duas da tarde. Roí tanto as minhas unhas que o canto delas até começou a sangrar e só então eu parei com aquilo e comecei a caminhar pelo hospital com o intuito de encontrar outra coisa que acalmasse a minha ansiedade. Encontrei alguns panfletos sobre parto e comecei a folhea-los.

Distraída com o panfleto em mãos, ergui a cabeça ao notar uma movimentação saindo da sala de cirurgia. Eles estavam saindo com um paciente deitado em uma maca que tinha seu rosto coberto com ataduras, com exceção da boca e do nariz. Eles disseram que o procedimento seria mais rápido no doador, então eu deduzi que aquele paciente era ele.

Devagar, caminhei pelo corredor acompanhando-os de longe para não ser notada. Vi em que quarto o paciente ficou internado e esperei que os enfermeiros saíssem de lá e o deixassem sozinho. Assim que isso aconteceu, fui até a porta e a abri um pouco, espiando pela fresta. Não dava para ver quem era, eu teria que entrar e olhar o nome na ficha se quisesse descobrir. Parecia errado, mas eu estava realmente curiosa para saber quem havia se submetido a algo assim.

Entrei e fui até a prancheta que estava sobre a mesinha ao lado da cama. Como o efeito da morfina não havia passado, eu poderia ficar ali sem me preocupar de que a pessoa pudesse acordar. E mesmo que acordasse ela não me veria pois além dos olhos vendados estava cega.

Assim que eu li o nome meu queixo caiu e minhas pernas tremeram por uma fração de segundos. Era inacreditável! Vinnie ficaria arrasado quando descobrisse.

— O que você fez, Maria? — meus olhos se encheram de lágrimas.

Por mais que aquela mulher tivesse me infernizado por longos meses, ela tentou ser melhor nos últimos dias e eu sabia o quanto ela era importante para o Vinnie. Imaginei como ele ficaria quando soubesse o que ela fez, mas nenhum cenário criado pela minha mente parecia ser tão fiel ao que eu sabia que aconteceria.

Deixei a prancheta no mesmo lugar de antes e saí do quarto, retornando para o corredor de espera do lado de fora da sala de cirurgia. Sentei-me em um dos bancos e apoiei meus cotovelos em meus joelhos, segurando minha cabeça entre minhas mãos. Estava surpresa com aquilo. Por mais que ela fosse a mãe dele, ainda era uma grande coisa e eu não imaginava nenhuma pessoa fazendo isso por alguém, nem mesmo uma outra mãe. Maria sempre o amou demais e sempre fez coisas que ninguém teria coragem, isso era fato.

Demorou mais uma hora até que os médicos terminassem a cirurgia. Me aliviou quando me disseram que tudo ocorreu bem e que agora só esperariam o resultado.

Nada de piadas com cavidades oculares vazias, Vinnie.

Fiquei no quarto ao lado da cama enquanto ele ainda dormia sob os efeitos dos anestésicos. Não parei de pensar sobre Maria se sua doação, fiquei totalmente inerte nisso. Eu deveria ser a transmissora dessa informação ou deixaria ele acreditar que eu continuava sem saber de nada? Talvez a segunda opção fosse melhor, já que eu não fazia ideia de como contar aquilo de uma maneira delicada.

Quando Vinnie começou a resmungar mostrando já estar acordando, eu fiquei de pé e me aproximei da cama.

— Boa tarde, Bela Adormecida. — brinquei, segurando a mão dele.

— Ei... — sorriu de canto ainda com a voz sonolenta. — Onde eu estou?

— No quarto do hospital.

— Por que eu estou cego?

— Você está vendado. — tentei não rir. — Ainda não sabemos se você está cego.

Your Skin ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora