Mignonne | Gracinha

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"Percebo que podemos controlar nossas ideias, que não são nada... Mas não nossas emoções, que são tudo" uma canetada de Godard em 'Masculin, Féminin' em 1966. Apesar de que ele morreu sem saber um conceito congruente de amor, levando em consideração suas tentativas falhas de um casamento próspero. Tanto com Anna Karina, quanto com Anne Wiazemsky, que quase propositalmente. Talvez muito. Ou completamente, Cecil era uma cópia. Supostamente, o encanto incomum que floresceu sem permissão no peito de Tom, o fazendo lidar com aquela visceralidade sentimentalista que rasgavam suas entranhas. Essa ideia de cativa, não era bonita como no 'O Pequeno Príncipe', era aterrorizante. Ele não queria aceitar. Ela se fazia de enlouquecida. Emoções novas para ambos.

"Conquistei sua mãe com o meu senso de humor" Martin deu um sorriso retorcido. Era cínico. Algo ácido, mas, extrovertido. Malicioso de uma maneira cômica. O bom humor de Bill, havia sido herdado do pai. Lhe faltou um pouco quando precisaram dividir um espaço apertado e viscoso por 9 meses com alguém que constantemente o pisoteava. Deve ter afetado algo. Tom olhou indignado, apertando o queixo peludo. Inconformado. — Você achou a mamãe bonita e quebrou o braço de propósito, só pra ela te atender. — Ergueu as sobrancelhas. "E foi graças a isso que vocês estão aqui" o velhote deu risada. — E por quê esse papo agora? — Soou nervoso. E estava. "Por quê está apaixonado" tanto quanto o pai quanto o irmão falaram em uníssono.

Choque. Paralisia facial. Apenas um vão na boca entreaberta. Negativo. Negou com a cabeça. Muita negação. Impossivel. — Ela é bonita? — Questionou curioso para o gótico risonho. Que retrucou ser uma gracinha. O tipo ideal e quase impossível daquele Kaulitz tão oprimido com verdades doloridas. Só acharia alguém próximo de Cecil se voltasse no tempo. Se ergueu nervoso, andando de um lado para o outro. Antes que tivesse uma síncope ali mesmo, a porta da entrada se abriu, dando a aparecer uma figura com roupas claras e largas. Um olhar morto e cabelos louros que se seguravam apenas por uma caneta com tampa mordida. Martin deu risada e jogou um beijo voador para a esposa recém saída de um plantão.  Jane pegou o beijo e jogou tragicamente fora. Fingiu ofensa.

O caçula por 10 minutos deu risada e se esparramou no sofá, levando um chute na canela como bronca, por ficar com as pernas magérrimas no meio do caminho da mãe cansada. Enfermeira. Ela era jovem. Muito jovem em compensação ao seu esposo. Talvez, tivesse perdido sua mocidade, mas, assim que viu aquele maluco no hospital, sabia que era ele. Foi muito julgada, ainda mais pela gravidez precoce. Mas, sempre bateu o pé para as críticas. Criando seus filhos sem rede de apoio. Se tivessem visto os avós por livre espontânea vontade deles, 5 vezes havia sido muito, em 20 anos de existência. "Já viu uma obra de arte estar carancuda desse jeito, amor?" Fez charme, acariciando a nuca da alourada. — Qualquer gravura que tenha em um livro de história. — Chutou os próprios sapatos que usava para longe, soltou o sutiã e foi embora. Dando as costas para as investidas. Tom teve uma epifania. Cecil constantemente fazia isso. Um hábito muito comum o deixá-lo falar sozinho.

Aquela marra deixava o pai da família bobo. Suspostamente ser passivo a mulheres de beleza demasiadamente matadora, era hereditário. Toda essa situação o deixou pensativo. O que lhe rendeu horas miseráveis, não ironicamente, olhando para o teto em completa análise. Tendo um sopro de vida, apenas para tocar sua guitarra e sair daquele transe comtemplativo. Apertava as cordas com uma devoção melancólica, enquanto passava 'Pierrot Le Fou' do Godard no mudo. Cecil era ardilosa, com certeza agiria igual ou tão pior quanto a personagem de Anna Karina. Riu solitário, suspirando as estrofes de 'Little Death' do The Neighbourhood. — "Touch me, yeah. I want you to touch me there..." — Sentia a vibração das notas explorando seus dedos. Momento sublime. — "Make me feel like, I am breathing. Fell like I am human" — estava em transe. "Sabe que tocar essa música pensando nela, é o equivalente a bater punheta, né?" O irmão surgiu igual uma entidade em sua porta, o matando de susto. — SAI DAQUI! — Ficou completamente desnorteado e envergonhado.

Não sabia lidar com aquilo. Não queria aceitar tamanho absurdo. Sempre achou ela totalmente insuportável. Cada comentário em aula. A mais chata. Falava mal dela pelas costas, piadas maldosas pela sua solidão. Espertalhona, tentava se sobressair como esperta em cima de todos. Maldito sorteio feito em aula. Careta. Agora estava tendo seu coração massacrado pela primeira com tamanha sinceridade. Facadas fundas, podia sentir o ardor dos nervos rompidos. Cecil era cruel. A achava um monstro por ter feito crescer esse parasita dentro de si. Deu um soco na parede. Não admitia estar lidando com isso em um momento como esse. Cruciante, sem dúvidas. Com o cenho franzido, rosnava para si próprio. Mas, em algum momento, ele olha para nós. Nos achou. Estar sendo engolindo para o mundo daquela miserável, estava o fazendo sair do ideal para o lúcido. Primeira vez. — Eu sou uma piada, não sou? — Suspirou. "Sim, é" foi o que o de cabelos espetados ainda na porta, disse.

CINEMATIC | TOM KAULITZWhere stories live. Discover now