Capítulo 1: O orfanato

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Dia 15 de setembro de 2002.
Não, essa não é a data de hoje, é o dia do meu nascimento. Não que seja tão importante, já que desde que me entendo por gente, nunca comemorei. Ninguém nunca comemorou. Eu sou a simples garota que foi largada na porta de um orfanato qualquer quando bebê.

Aliás, meu nome é Grace, só Grace, por enquanto. Digo isso porquê logo terei um sobrenome, uma família veio aqui há alguns dias querendo minha adoção. Só não sei se ainda vão voltar, já que a madame Pierce faz questão de contar tudo o que a de pior nesse mundo sobre mim. O orfanato da madame Pierce, é aqui que eu moro, mas não posso chamar de lar.

Aqui temos uma rotina bem rígida. Horário para café da manhã, horário para se trocar, tomar banho, passatempos, quero dizer, o único passatempo que temos é cuidar das plantas, já que a madame Pierce odeia

Apesar do lugar se chamar Orfanato da Madame Pierce, o verdadeiro dono é seu marido, Philip Pierce. Ele costuma nos visitar ao menos 2 vezes no mês, e são nesses dias que agradecemos, já que ele é o completo oposto da esposa. Sinceramente, não sei como são casados. Adultos são complicados.

O Senhor Pierce se casou com a Madame Pierce após misterioso falecimento de sua mulher, Lily. Eles formavam um lindo casal. Cuidavam do orfanato juntos e ela sempre foi muito atenciosa com todos, especialmente comigo. Mas após sua morte, tudo mudou.

Além do orfanato, Philip é dono de uma grande empresa que exporta produtos farmacêuticos. E sem alguém ao seu lado, tanto sua empresa, quanto O orfanato, começou a afundar. Até que ele conheceu Greta. Logo se casaram, e ele a colocou como diretora do orfanato. Tornando-a Madame Pierce.

É estranho pensar como eu sei de tudo isso, só tenho 7 anos, mas é simples. Eu sou ótima em escutar. Histórias correm a todo o momento pelo orfanato.

- Você não olha o relógio, Grace? Acabou o horário do passatempo, você se quer cuidou das plantas e está aí escrevendo nessa droga.

- Terei mais atenção, me desculpe Madame...

Não pude terminar meu discurso de perdão. Ela já veio com uma régua de madeira e a bateu com toda a força nas minhas mãos.

- Acho que isso serve de lição. Assim não vai escrever e nem cuidar das plantas com as mãos desse jeito.

Eu a odeio. E eu a odeio muito. Se eu pudesse, colocaria fogo nesse lugar. Saio de cabeça abaixada para não levar outra, e subo as escadarias que dão para o 1° andar. Já estávamos no fim do dia, horário do banho, então já me preparei para ir. Apesar da fila não ser demorada, gosto de ir cedo. Aqui, somos em 6 garotas. Amélia, Mia, Sophia, Chiara, Emma, Savanna, Aurora e eu. Mesmo que tenha tantas garotas, as únicas que eu chego dizer que são minhas amigas são Aurora e Chiara. Aurora tem 8 anos e Chiara a mesma idade que eu.

Ao adentrar o banheiro, avisto minhas colegas, já se aprontando para o banho. Fico feliz em vê-las e vou em direção a cabine do chuveiro. Quando me preparo para abrir o registro ouço uma das meninas gritarem, parecia ser a voz de Mia. Um grito agudo de susto, a pequena tem 6 anos.

- A água está gelada! - Diz Mia eufórica.

Ouço passos vindo do lado de fora do banheiro e uma porta se abrindo.

- Eu não suporto gritaria. Disse a Madame Pierce amargamente.

- Madame, a água está completamente gelada, e está um frio tenebroso. Não podemos tomar banho assim.

Essa é Savanna, tem 11 anos e é a garota mais velha daqui.

- Agradeçam a senhorita Grace, que descumpriu com os horários hoje. Portanto, se quiserem tomar banho, será na água fria.

Ela disse isso rispidamente logo antes de sair do banheiro em passos pesados.

- Tinha que ser a Grace, você sempre nos prejudica.

Amélia, tem 8 anos. Nunca foi com a minha cara e nem eu com a dela. Se acha superior só por ser 1 ano mais velha que eu. E ela tem o seu capacho, Emma, que tem 7 anos. Se Amélia pedir para Emma se jogar da ponte, acredito que ela faria.

- Ela só estava escrevendo, a culpa não foi dela. - Disse Chiara, tentando me defender.

Um clima tenso surge, e as garotas começam a se olhar. Começo a imaginar formas que eu poderia fazer para prejudicar Amélia. Talvez eu poderia afoga-la na pia? Jogar da janela? Mas seria muito difícil com aquela pulga da Emma sempre ao seu lado. Então pensei em algo mais prático.

- Você tem razão, Amélia. Sinto muito. Que tal um aperto de mãos em prol da paz? - Digo calmamente.

As luzes do banheiro começam a piscar, de forma assustadoramente bela. As meninas se assustam.

Ela me olha com desdém, contudo sinto uma pontada de medo em seu olhar, mas aceita a oferta. Então assim que ela estende a mão, eu a puxo para a cabine do chuveiro e o ligo. Não me importo com a água gelada caindo sobre mim. Sinto alguns calafrios, mas tudo o que me interessa agora é me vingar dessa garota. Ela pode ser mais velha, mas eu sou mais forte. Para mim, a água parecia apenas gelada, mas Amélia gritava e sua pele delicada começou a derreter. Parecia estar tomando um banho de Ácido.

Emma parte pra cima de mim, tentando tirar a amiga da água corrente, enquanto as outras meninas parecem fantasmas de tão pálidas que ficaram. Decido soltá-la, com medo que a Madame Pierce apareça aqui e aplique um castigo muito pior.

Quando Amélia está fora das minhas mãos, ela me olha aterrorizada. Está e completamente enxarcada, sua pele cheia de bolhas. Enquanto eu sinto apenas o calafrio da água gélida, não fazendo ideia do que aconteceu. Dado um certo tempo, sua pele volta ao normal, como se nada tivesse acontecido.

Vejo Sophia trazendo uma toalha para mim. Apesar de não sermos muito próximas, conversamos de vez em quando. Ela tem 5 anos. A agradeço e começo a me secar.

Devido ao acontecimento anterior, nenhuma menina se atreveu a entrar embaixo no chuveiro.

**

Após o episódio do banheiro, Amélia não disse sequer uma palavra, muito menos Emma. Fomos ao quarto colocar nossos pijamas como de costume, e descer para jantar. O prato de hoje seria um ensopado de legumes e pequenos pães para acompanhar. O ar gélido da Inglaterra está por toda a parte, e ás vezes, esse orfanato parece ser muito mais frio do que lá fora.

- Está tudo bem Amélia? - Digo com sarcasmo.

Ela evita me olhar, e segue seu caminho. Não poderia me dedurar, já que sua pele voltou ao normal.

Mas de fato, eu não sabia o porquê daquilo ter acontecido, mas sinto que estou mudando, e aquilo não me aterrorizou, aquilo me divertiu.

Comemos o ensopado que mais parecia água com legumes boiando, e pães secos.

Após o jantar, fomos enviadas para o quarto, onde as frias camas de metal nos esperam. O crepitar da madeira velha ecoa no corredor enquanto caminhamos em direção ao nosso destino.

No quarto, o silêncio se instala, apenas interrompido pelo vento uivante lá fora. A luz fraca revela as expressões desgastadas das garotas, cada uma carregando suas próprias cicatrizes invisíveis. O relógio na parede parece contar os segundos com um tic-tac monótono.

A noite avança, e o silêncio é quebrado apenas por sussurros contidos entre as garotas. A incerteza do amanhã paira no ar, mas, por agora, nos refugiamos nas sombras das camas, aguardando um novo dia.

O orfanato de Madame PierceWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu