Acordo no meio da noite, com uma luz vermelha estranha vindo das frestas da janela. Abro os olhos, e levanto, ainda um pouco sonolenta, tentando descobrir o que era. As meninas dormiam pesadamente em suas camas, e o silêncio da noite dominava o ambiente.
Percebo que a luz está vindo de fora do orfanato, por um momento desisto de investigar. Se a madame Pierce me vê saindo da cama essa hora da noite, não quero imaginar do que ela seria capaz para me castigar.
Quando decido voltar para a cama, já sem sono e me preocupando como voltaria a dormir, vejo uma silhueta bizarra na janela, e com um gesto grotesco, me vejo puxada em direção a janela. Fecho os olhos com medo e o vidro é estilhaçado com meu corpo sendo jogado contra ele.
Fico atordoada e sem conseguir respirar por ter caído do segundo andar da construção, minha visão está turva, e sinto meus batimentos aumentarem a cada segundo que passa. Percebo vários cortes por todo o meu corpo, e vidros fincados na minha pele. Tem sangue por todo lado, sinto uma dor aguda.
A luz agora está mais forte, me impedindo de abrir os olhos. Mas ouço um barulho. Um grunhido vindo das sombras.
Tento abrir os olhos, e vejo a terrível imagem de um bode, em pé, com chifres enormes e garras assustadoras. Ele sorri maléficamente para mim. Dou um grito abafado por uma força maligna. Tento me levantar mas sinto todo meu corpo doer devido a queda. O bode se aproxima de mim.
Grito mais uma vez, e agora me vejo na cama, com Chiara e Aurora do meu lado me perguntando o que tinha acontecido.
- Calma Grace, o que foi? Você teve um pesadelo? - Disse Aurora.
As meninas do quarto acordaram com o meu grito, mas vejo que já é de manhã.
- Acho que sim, preciso de um tempo para respirar. - Digo ofegante.
- Tudo bem, Grace. Mas seja rápida, daqui a pouco é o café da manhã, e você sabe que a madame Pierce não gosta de atrasos. - Disse Chiara
Minhas amigas me dão um abraço breve, mas reconfortante, e vão trocar de roupa.
Foi só um pesadelo Grace. Digo a mim mesma. Ótimo jeito de começar uma semana.
Consigo levantar da cama. Estico os lençóis e dobro os cobertores. Vou a minha cômoda pegar meu uniforme e parto para o banheiro a fim de tomar um banho e tentar esquecer do sonho horrível que tive. A água estava quente, o que me conforta. Tomo um banho breve e coloco minhas roupas. O clima hoje permanece o mesmo, gélido, e caindo lindos e branquinhos flocos de neve do céu. Decido então colocar mais roupas para enfrentar o clima.
Desço as escadas e vou ao refeitório. Todas as meninas estavam lá, e madame Pierce me olhava com raiva.
- Atrasada mais uma vez, senhorita Grace.
Abaixo a cabeça, sabendo que não importa o que eu diga, serei castigada.
- Sentem-se por favor, meninas. - Diz ela
Me surpreendo com sua fala, mas logo percebo o porquê. Philip entra pela porta do refeitório com um aberto sorriso, nos dando bom dia. Trazendo consigo uma enorme cesta de café da manhã, com diversos pães, croissant, doces e bebidas quentes.
- Decidi fazer uma surpresa a vocês hoje, meninas. - Disse Philip calorosamente.
- Isso tudo é pra gente? - Perguntou Sophia empolgada. Ela é a mais nova do orfanato. Tem 6 anos. Só anda com a Mia, por terem idades próximas.
- Claro que sim! Podem se deliciar, meninas.
Philip dispõe o café da manhã na mesa, todas nós nos sentamos e aproveitamos tudo o que tínhamos direito. Dava para ver que a madame Pierce não estava gostando nada daquilo, mas Philip era um bobo, sequer percebeu.
- Meninas, o orfanato passará por uma reforma, reparei que suas camas já estão velhas, as paredes descascando e o piso faz barulho ao passar por cima dele. Durante este período, vocês ficaram hospedadas na minha casa.
Ao ouvirmos essa boa notícia, todas comemoramos com pulos e gritos de alegria.
- Meu amor, será mesmo necessário? Eu tenho uma residência não muito longe daqui, é grande o suficiente para elas, assim não precisaremos doar nossa privacidade. - Disse madame Pierce com um sorriso no rosto.
- Bem, isso não estava nos meus planos. Irei verificar a casa. Se for comportar todas, então vocês ficaram lá.
Nos entre olhamos, mas não dissemos nada.
- Não se preocupem meus amores, a titia vai resolver tudo logo logo. Agora vocês podem ir para a escola. A Van já está esperando. - Disse a Madame Pierce.
Me da nojo ver ela falando desse jeito, é bem óbvio a falsidade dela, está estampada em seu rosto. Vou em direção a saída do orfanato junto das outras meninas.
Amélia passa bem na minha frente e coloca o pé entre meus passos, despenco com o rosto no chão. Ao levantar vejo sangue. Um ódio passa por dentro de mim, essa menina me aguarda.
- O que está acontecendo aqui?! - Diz madame Pierce irritada.
- Amélia colocou o pé para Grace tropeçar! - Disse Savannah, que viu toda a cena.
Philip já havia ido embora, então agora madame Pierce poderia voltar a ser ela mesma.
Coloco a mão sobre meu nariz e sinto uma dor forte. Sinto também um líquido saindo, era sangue.
- Amélia e Grace, vocês vem comigo. O restante quero direto para a escola.
As meninas se olham, com medo do que fazer.
- Agora! - Gritou a madame.
Todas saíram correndo do orfanato, sobrando apenas eu, Amélia e essa mulher. Ela me da um pano umedecido e pede para eu colocar no nariz. Tento estancar o sangue, mas sem sucesso.
Enquanto isso, vejo ela pegar no braço de Amélia com força e a levar para a sala da diretoria. Após um curto momento, ouço a menina gritar. São gritos de dor, e a todo momento ela implora para madame Pierce parar.
Ela volta com Amélia, e vejo uma queimadura feia em seu braço.
- Vamos ao hospital. As duas.
Por um momento senti um pouco de pena dela, seu rosto estava inchado de tanto chorar, e a queimadura parecia grave. Ela não merecia isso.
Enquanto caminhávamos até a saída do orfanato, sinto um calafrio percorrendo minha espinha, e com minha visão periférica vejo uma sombra. Era aquele bode.
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O orfanato de Madame Pierce
HorrorGrace cresceu em um orfanato sombrio, atormentada por pesadelos e uma marca misteriosa que queima em seu pulso. Enquanto tenta desvendar os segredos de seu passado, descobre que sua vida está conectada a uma poderosa e perigosa seita. - Você não pod...