Capítulo 24: Eu não sou sua!

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O silêncio que se seguiu à risada do Diabo foi tão assustador que eu quase podia ouvir meu próprio coração batendo alto. O quarto parecia estar encolhendo, como se as paredes estivessem se fechando em volta de nós. O frio estava ficando mais forte, e eu sabia que tinha alguma coisa horrível ali. As meninas – Aurora, Emma, Sophia, Mia, Chiara – todas sabiam também. Elas não falavam, mas eu via no rosto delas. O ar estava pesado, e até respirar parecia difícil.

Eu estava com tanto medo que meus pés não se mexiam. Estavam grudados no chão, como se algo invisível os tivesse prendido ali. As velas que iluminavam o quarto começaram a piscar, e as sombras nas paredes ficaram estranhas, se mexendo de um jeito que não era normal. Parecia que as sombras tinham vida própria, avançando devagar em nossa direção.

— Grace... — Aurora sussurrou, puxando minha blusa com força, os olhos arregalados de medo. — Vamos sair daqui... por favor...

Ela tinha razão. A gente tinha que fugir. Mas como? O Diabo estava ali, e eu sabia que ele queria alguma coisa de mim. Ele deu mais um passo e o chão pareceu tremer, como se a casa inteira estivesse viva e do lado dele. O cheiro de enxofre era tão forte que eu queria vomitar, e a risada dele, ecoando na minha cabeça, parecia me empurrar para o chão.

— Vocês não podem escapar de mim... — a voz dele era como um trovão, grave e cheia de maldade. — Grace, você sabe que isso está no seu sangue.

Eu olhei para a marca no meu pulso. Ela estava queimando, um vermelho brilhante, quase como fogo. Doía tanto que eu queria gritar. As meninas choravam ao meu redor, abraçadas umas às outras. Emma soluçava tão alto que eu achei que ela fosse desmaiar, e Mia estava de olhos fechados, balançando a cabeça como se quisesse que tudo fosse só um pesadelo.

Mas não era.

Eu me lembrei do que o bode tinha dito quando me deu essa marca. Ele me deu poder. Poder para ser invisível aos meus inimigos. Eu não estava indefesa!

Respirei fundo, tentando ignorar a dor no meu pulso e o medo que estava me sufocando. Eu tinha que ser forte por mim e pelas meninas. Fechei os olhos e pensei no bode, na marca e no que ele disse.

“Use isso com sabedoria. Use para escapar.”

— Eu não sou sua! — eu gritei de repente, sem nem pensar. Minha voz saiu mais forte do que eu imaginava, e o Diabo parou. Seus olhos vermelhos brilharam com raiva, e eu sabia que ele não esperava aquilo.

— O que você disse? — ele rosnou, dando mais um passo na minha direção.

— Eu... não... sou... sua! — gritei mais alto, sentindo algo estranho se mexer dentro de mim. A marca no meu pulso brilhou tão forte que parecia iluminar todo o quarto, e a dor que eu sentia se transformou em uma energia que tomou conta do meu corpo.

O Diabo rugiu, furioso, e as sombras ao redor dele começaram a se mexer rápido, como se estivessem tentando agarrar a gente. Mas a luz da minha marca estava empurrando ele para trás. A cada segundo que passava, ele ficava mais fraco, mais distante.

As meninas estavam abraçadas, mas agora olhavam para mim com esperança. Aurora, Emma, Mia, Sophia, Chiara, Améllia... todas estavam vendo o que estava acontecendo. E eu sabia que eu também estava lutando por elas.

— Isso não acabou! — o Diabo gritou, sua voz cheia de ódio, enquanto a forma dele desaparecia, se dissolvendo na escuridão.

E então, ele sumiu.

O quarto voltou ao normal, como se nada tivesse acontecido. O ar frio desapareceu e as sombras voltaram a ser só sombras. Eu caí no chão, exausta, sentindo o corpo todo tremendo. As meninas vieram correndo, chorando e me abraçando.

O orfanato de Madame PierceWhere stories live. Discover now