Capitulo 8: O diário.

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A noite foi turbulenta. Pesadelos invadiram minha mente, e sinto que não dormi quase nada. Acordo no horário usual de todas as manhãs, com o som do relógio de parede dando badaladas agudas. Logo troco o pijama pelo uniforme.

O uniforme do orfanato é um vestido preto feito de lã espessa, perfeito para enfrentar os ventos cortantes de Londres. O colarinho é adornado com babados brancos delicados, que contrastam com o tecido escuro e acrescentam um toque de elegância ao conjunto. As mangas compridas também são ornamentadas com pequenos babados brancos nos punhos, mantendo a harmonia com o detalhe do pescoço. O corpete do vestido é ajustado, realçando a figura, enquanto a saia se alarga em pregas pesadas que caem até os tornozelos, garantindo mobilidade sem sacrificar a proteção contra o frio. Sob o vestido, há várias camadas de anáguas de algodão grosso, que adicionam volume à saia e fornecem calor extra. A combinação dessas camadas com o tecido exterior cria uma barreira eficaz contra o clima londrino.

Logo, Emma, Aurora, Chiara, Amélia, Sophia, Mia e Emma já estão devidamente trocadas e prontas para o dia. Descemos juntas a escadaria principal para tomarmos o café da manhã. A amizade entre Emma e Amélia fica evidente em seus sorrisos e na maneira como caminham lado a lado, cochichando segredos. Enquanto caminhamos, Emma e Amélia riem de alguma piada interna, o que traz um pouco de leveza ao ambiente pesado.

— Vocês parecem muito animadas hoje — comenta Aurora, sorrindo.

— É que a gente estava lembrando de quando caímos juntas no jardim, você lembra? — diz Amélia, tentando segurar o riso.

Aurora balança a cabeça, rindo também, e logo todas estamos rindo e lembrando momentos divertidos.

Apesar de ainda não termos sido realocadas, a reforma do recinto já havia começado. Haviam homens pintando as paredes do salão principal com uma tinta cor de lavanda, com algumas flores em traços finos e delicados percorrendo toda a extensão. O que me deixa surpresa, mas tenho certeza que a ideia disso foi Philip. Eles estavam a todo o vapor pintando as paredes, enquanto outros homens cuidavam dos canos, onde grande parte estavam entupidos ou gerando infiltração, que acabaram por gerar goteiras no teto e inchar as paredes com a água suja que vinha da rua. Até o cheiro do lugar já estava melhorando. Antes aqui fedia a mofo e decomposição, agora consigo sentir um cheiro agradável de pães saindo do forno e colônia masculina, dando a entender que Philip estava por perto. As meninas e eu, vamos até a cozinha, e somos recepcionadas por um abraço caloroso de Philip.

— Meninas, sei que deveria ter contado isso antes, e vocês devem ter notado a ausência de Savannah. Para nossa grande felicidade, ela foi adotada por uma família muito influente em uma cidade próxima daqui. Não precisam se preocupar — disse Philip com um sorriso estampado no rosto.

As meninas sorriem umas às outras, comemorando essa falsa notícia. Queria saber como Greta tem tanta influência sobre o marido. Ela usa ele como um fantoche ou algum tipo de boneco de voodoo.

As palavras de Madame Pierce ecoavam em meus pensamentos enquanto as meninas ao meu redor começavam a relaxar. Seus sorrisos e risos compartilhados pela notícia de que Savannah tinha sido adotada foram um golpe cruel para mim. Eu sabia que o que ela havia dito era uma mentira, uma forma de desviar nossa atenção de algo muito mais sinistro.

Enquanto as meninas festejavam a "boa notícia", eu me sentia cada vez mais desesperada. O ritual que testemunhei havia revelado a verdade horrível: Savannah não havia sido adotada. Ela havia sido sacrificada em um ritual sombrio, e agora, com a fachada de uma adoção para esconder o que realmente aconteceu, a situação era ainda mais desesperadora.

E como fiz aquele maldito pacto com aquele bode, preciso investigar isso sozinha.

Tomamos nosso café tranquilamente, com exceção de mim, que estava completamente perdida e sem saber o que fazer, com medo de descobrir quem de nós seria a próxima. As aulas, mais uma vez, foram canceladas devido às grandes tempestades de neve que assolaram a cidade. Todas as estradas estavam bloqueadas pela neve e os voos foram cancelados. Eu não tinha para onde fugir. Então me lembro do diário "Noite de Jade". Isso será o primeiro passo para entender mais no que estou envolvida.

O orfanato de Madame PierceOnde histórias criam vida. Descubra agora