10. Birds of a feather

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De volta! Era pra ter vindo antes, mas antes tarde que mais tarde ainda =D

***

Ir à Promotoria era sempre um desgaste para qualquer policial que se prezasse. Por mais respeito que se tivesse à instituição — um respeito devido, que não devia ser questionado —, ter que prestar contas do trabalho para um promotor de Justiça era um pesadelo. Isso se dava por conta da natureza de cada profissão. Apesar de serem complementares, os serviços da Polícia e da Promotoria se focavam em campos diversos. Enquanto a Polícia fazia todo o tipo de varredura permitidos pelos meios legais para a busca da realidade dos fatos, a Promotoria precisava filtrar e encontrar, no meio de todo o inquérito, o que podia ou não ser utilizado num eventual julgamento. Nisso, acabava que a Polícia era chamada para prestar esclarecimentos redundantes ou até refazer seus trabalhos, e não tinha como algo assim não ser estressante.

Yoongi se afetava demais com esse tipo de situação. Eram raras as vezes em que passava ileso por reuniões de tal natureza. Costumava sair irritado, e estar nesse estado de espírito não era o seu habitual. Yoongi era um homem tranquilo, de natureza apaziguadora. Não à toa era o ponto de equilíbrio perfeito entre Jungkook e Seokjin. Conseguia transitar muito bem entre o caos do ex-hacker e a introspecção profunda do investigador. Naquele fim de tarde, porém, quem precisava ser apaziguado era ele. Estava com um ódio terrível da promotora de Justiça. Entendia muito bem que ela fazia apenas o seu trabalho, mas isso não o impedia de desejar que seu salto quebrasse no meio do caminho e sua echarpe agarrasse na porta giratória do prédio, a puxando para trás e a fazendo se chocar contra o vidro. Foi por isso que, mesmo sendo uma quarta-feira, e elas sendo sagradas para Seokjin, o detetive se decidiu por trocar o dia do plantão com Yoongi e ficar em seu lugar. O senhor Jung com certeza iria compreender a troca do dia. Quem ia ficar se sentindo culpado era Seokjin, mas podia lidar com a sensação. De todos os males que o atormentavam, esse seria o menor. Ter como remediar a falta num futuro próximo seria o bálsamo do qual lançaria mão para tanto.

— Tem certeza de que pode trocar comigo, sunbaenim? — Yoongi questionou pela enésima vez, enquanto dirigia a viatura de volta para a delegacia.

— Tenho. Se não tivesse, não teria oferecido.

— Eu só vou aceitar porque, sério... Que ódio dessa merda toda! Ficar perguntando mil vezes o que já tá no inquérito? Esse povo não sabe ler? — Quase ultrapassou um sinal vermelho, porém se conteve a tempo.

— Sabe. Não é essa a questão.

— Caralho, eu sei! Mas me dá raiva do mesmo jeito! — Retomou a direção assim que o sinal abriu. — O que não sei como leva tão tranquilamente essa chatice toda!

— Não acho que vale o estresse. — Deu uma olhada no menor, com um pequeníssimo sorriso de canto no rosto. — É engraçado que justamente você se irrite com esse tipo de coisa.

— Engraçado pra quem?

— Não pra você, por certo... — Voltou a olhar para frente, ainda sorrindo de leve. — De modo geral. Você é o cara das burocracias. Você é quem resolve e desembaraça qualquer tipo de papelada. É no mínimo esquisito que um passo burocrático te incomode tanto.

— Burocracia no papel é uma coisa, gente burocrática é outra. Você melhor do que ninguém sabe como pessoas podem ser irritantes.

— Eu?

— É, sunbaenim. — Foi a vez de Yoongi dar uma olhada de canto e formar um sorriso pequeno. — Não conheço ninguém que odeie tanto pessoas quanto você.

— Eu não odeio pessoas. Eu odeio certos tipos de pessoas.

— O certo tipo de pessoa em questão é do tipo que compõe a maioria, então, porque desde que começamos a trabalhar juntos que você não costuma gostar das pessoas.

FingerprintsWhere stories live. Discover now