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Capítulo 47

Wang Yibo

Ele não acordava, e cada dia que passava a probabilidade de ele acordar era menor. No domingo de manhã, eu estava cansado de ficar olhando para o meu pai na cama do hospital, mas não sabia ao certo o que eu poderia fazer. Não podia sair por longos períodos porque sentia que ele poderia morrer sozinho porque eu não estaria com ele quando isso acontecesse.

Sei que parece besteira, mas, quando perdi meu mamã, ele estava sozinho. Ele morreu sozinho, sem ninguém, e eu não conseguia imaginar aquilo acontecendo com meu pai.

Eu nunca me perdoaria se não estivesse ao lado dele quando ele acordasse ou partisse para sempre.
— Logo chegará a hora em que teremos de tomar algumas decisões importantes — informou Peng no quarto de hospital enquanto Zhan estava em um canto.

Sempre que ele chegava, Zhan soltava minha mão, só para facilitar as coisas para todo mundo.

Peng começou a falar sobre as opções e, então, mencionou que meu pai talvez nunca saísse do coma. Assim, os próximos passos precisavam ser considerados.
— Você quer dizer, desligar os aparelhos? — perguntei.
— Estou dizendo que temos que fazer a melhor escolha para a vida dele. Vou dar a você algum tempo para pensar em tudo.
Eu assenti e, antes de ir embora, ele olhou mais uma vez para Xiao Zhan.
— Ele ainda ama você — sussurrei, baixando a cabeça e olhando para as minhas mãos. Eu não sabia por que aquilo me incomodava, mas incomodava.

Eu não conhecia Zhan há tanto tempo assim, e nós deixamos bem claro o que um significava para o outro. Mesmo assim, ver como Peng olhava para ele me magoava.
Uma parte de mim se perguntava se, com o passar do tempo, ele voltaria a olhar para Peng do mesmo jeito.

— Ele ama a ideia de mim — declarou. — Mas, para dizer a verdade, ele nem me conhece mais. Além disso, acho que é mais um lance de “querer o que não pode ter”. Ele só me quer porque acha que você me tem.

Eu me virei para ela e dei um sorriso triste. Eu queria falar tudo que estava passando pela minha cabeça. Queria abrir meu coração e dizer a ele o que eu estava sentindo, mas segurei a língua.

Mais tarde naquela noite, Xiao Zhan voltaria para Atlanta para seguir seu futuro, e eu ainda estaria em Chester, preso ao meu passado.

Se houvesse uma maneira, porém, eu gostaria que ele pudesse ser meu porque tantas partes de mim queriam ser dele.

— Eu estava pensando — começou ele, voltando para o sofá. Ele se sentou e cobriu as minhas mãos com as dele.

— Às vezes, minha família recebe uma pessoa que está passando por dificuldades, e nós rezamos e oferecemos um jantar para ajudá-la a superar os tempos difíceis. Achei que você talvez pudesse ser nosso convidado esta noite, antes de eu voltar para Atlanta.

Arqueei uma das sobrancelhas.
— Achei que você tivesse parado de rezar.

Ele deu de ombros.
— Parei, mas comecei a rezar de novo.
— Por mim? — perguntei.

Ele concordou com a cabeça.
— Por você.
Eu não rezava, não acreditava em Deus, mas, por algum motivo, aquilo significou tudo para mim, mais do que ele poderia saber.

— Sua família me odeia.
— Só minha mãe, e não se preocupe, porque ela talvez me odeie mais do que odeia você — brincou ele.
— Claro que não.
— Como você sabe?
— Porque ninguém consegue odiar você, Zhan. Pode acreditar.  Acariciei a palma das mãos dele com os polegares. — Eu tentei.

— Eu não vi nem falei com a minha mãe desde a última briga que tivemos, então talvez seja um pouco estranho vê-la, mas, quando ela vir quem você é, quem você é de verdade, ela vai entender o que eu vejo.

Shame my Shame Where stories live. Discover now