Bandeira Preta

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✨️Aviso✨️

Ooi gente, ai... esse capitulo me fez chorar um pouco. Ele vai falar de problemas familiares e pode ter gatilhos para pessoas sensíveis com o tema. Enfim, comentem muito, espero que gostem, achei necessário dar um passado para o Kelvin então esse cap vai focar mais nisso, enfim, dessa vez eu não demorei muito, né? kkkkkkkk, boa leitura e até o próximo.

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~ Eu vejo um mundo através dos seus olhos ~

- Rapaz. - Aquele timbre que a muito anos não ouvia o fez estremecer por completo. - Finalmente te encontrei.

Kelvin sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiarem, o loiro encarava aquela figura em sua frente sentindo um nó se formando em sua garganta, ele não podia aparecer daquele jeito, não hoje, não daquela forma, ele não tinha mais aquele direito. Deveria dizer a ele para ir embora, deveria gritar para que saísse, que não era bem vindo, mas não fez isso, não conseguia se mover, estava paralisado. Era como voltar ao passado, como quando ainda era menininho e tinha sua audição já muito bem treinada para perceber pelo som que seu pai se aproximava, mas ali, depois de tantos anos, tinha desaprendido a perceber sua presença.

Não tinha como dizer estar feliz pela visita, nem que estava curioso para saber qual o teor da mesma. Ele não queria saber, já havia se despedido a muito tempo atrás, para ele, seus pais já estavam enterrados.

Muitos anos atrás

Dona Lúcia estava - como sempre - atrás de um fogão a lenha, preparava para seu pequetito neto seu doce preferido, doce de leite caseiro. A mulher sentia-se suada com o calor das brasas, o pano de prato estendido do ombro servia para enxugar um pouco do suor de sua testa, era um dia daqueles insuportáveis de quente, mas não reclamava, adorava mimar seu garotinho.

Da janela da cozinha conseguia vigiar seu menino brincando no balanço na parte externa, tão doce, pequeno e delicado, aquele garotinho de oito anos parecia um casadinho enrolado em açúcar. Dona Lúcia tinha medo por ele, mas não verbalizava tais coisas, tentava ao máximo o fortalecer em outras coisas, tentava mesmo o educar para a vida, sabia que não viveria o bastante para ensinar tudo, mas enquanto estivesse naquela terra, o protegeria como poderia. Ela olhou para o relógio redondo no alto da porta e soltou o ar a contragosto.

- Joaninha. - Ela o chamou alto da janela e viu o menino virar o pescoço imediatamente em sua direção. - Rapá dentro.

Não era preciso continuar a sentença "seus pais estão chegando", o garoto correu rápido e adentrou a cozinha na mesma velocidade a abraçando pelas pernas. Suas despedidas eram sempre assim, ele chorava até ouvir o carro e então engolia o choro e os soluços, entrava no banco de trás e permanecia em silêncio até chegar em casa.

Ele gostava muito de ficar com sua avozinha, lá ele poderia fazer barulho, poderia brincar, poderia ajudar na cozinha, poderia comer a hora que quisesse e dormir também sem se preocupar com as brigas que porventura o acordaria no meio da noite. Ele poderia existir sem ficar assustado com o barulho de vidro sendo estraçalhado em alguma parede, sem ter que toda manhã recolher seus próprios sentimentos desordenados, ele não entendia porque não conseguia se sentir feliz e amado naquela casa enorme e cheio de gente e brinquedos, enquanto que quando estava ali, na casinha simples de madeira de sua avó, apenas com um balanço na árvore do quintal para o distrair, se sentia tão feliz. Era triste ter que se despedir e voltar para o gelado de sua vida. Mesmo sendo tão pequeno, ele já sabia, era choroso e carente e longe dali não haveria colos para se aconchegar.

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