Capítulo 45 *BÔNUS*

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**Bônus**

Tricia

E nos dias que se passaram, meu tempo ficou dividido entre os preparativos do noivado de Cristian e Betina, as aulas da faculdade e meus encontros furtivos com Rick.

Como ele dividia um apartamento com outros dois policiais e eu ainda morava com meus pais naquela casa pequena, se tornou difícil ter um lugar onde pudéssemos nos encontrar intimamente. Além disso, ir ao motel todas as noites gerava um custo que nenhum de nós ainda tinha condição de arcar. Então as vezes o policial apenas me buscava na faculdade com sua moto, me levava para comer alguma coisa e depois de uma noite agradável conversando e namorando decentemente, ele me deixava no portão de casa.

E assim as coisas foram acontecendo até aquela noite, antevéspera do evento que eu estava organizando na Mansão Toledo.
Minha mãe avisou a todos que deveríamos jantar juntos e que teríamos convidados especiais. A casa em que vivíamos agora era modesta, mas eu consegui decorá-la com alguns arranjos de flores e cortinas, além de realocar parte dos móveis da sala.

Enquanto me arrumava no meu quarto, ainda dividida entre usar o vestido azul de uma alça só ou o preto curto, minha irmã Raissa entrou, já arrumada e maquiada.

- Vista o azul, você fica incrível nele. - Ela disse, se sentando na cama.

Eu agradeci a opinião com a cabeça e comecei a me vestir.

- Tricia, aquilo que você falou sobre o emprego...

- Sim.

- Eu fiquei interessada. - Raissa falou. - Nunca pensei em trabalhar, sabe, porque éramos ricos. - Ela falou de um jeito engraçado. - Mas depois que você falou sobre isso naquele dia, eu fiquei pensando que seria bom. Eu não quero que meu futuro dependa totalmente do sucesso do meu pai. Estou decepcionada com ele.

- Eu entendo você Raissa, nosso pai errou feio. - Passei o batom na boca. - Mas somos família e vamos contornar isso. Fico contente que você gostou da ideia. Vou conversar com o Cristian Servantes depois que essa festa passar e tenho certeza de que ele vai conseguir alguma coisa para uma garota inteligente como você.

- Sim. E quem sabe, ele me apresente um dos amigos ricos dele. - Ela disse, dando uma risadinha e antes que eu pudesse repreendê-la, Raissa saiu do meu quarto.

Minha irmã não tinha jeito, com certeza desejava voltar aos tempos de fartura e eu não poderia culpá-la. Além disso, saber que ela aceitaria trabalhar já era um grande passo para aquela garotinha mimada.

Quando me preparei para ir à sala, percebi que estava atrasada e que a visita já tinha chegado. Um casal já bem idoso sorriu largamente quando me viram e começaram a elogiar minha aparência. Depois notei o filho deles, um rapaz de quase quarenta anos, muito alto e muito magro que usava um terno extravagante demais para um jantar simples. Eu já o conhecia de algum lugar, só não estava lembrando de onde.

- Filha, esse é o sr. Jorge e a sra. Caetana Albuquerque. E claro, o filho único deles, Conrado.

Eu cumprimentei a todos.

- Veja filho, como a Tricia é bonita e educada!

- A mulher rechonchuda falou
exageradamente animada.

O rapaz apenas torceu o nariz e se sentou na mesa. Meu irmão e meu pai já estavam em seus lugares e eu fiquei ao lado dos dois.
Então me lembrei deles.

O casal Albuquerque estava há algum tempo a sombra dos holofotes depois que o filho caçula morreu tragicamente num acidente de lancha. Infelizmente o casal não tinha outros filhos além do estranho Conrado, aliás ele parecia ter algum "probleminha", pois ficou olhando para todos os lados, o corpo encolhido como se estivesse assustado, com os pensamentos distantes e falava muito pouco.

O clima do jantar foi animado, com os dois casais mais velhos falando dos filhos sem parar e eu comecei a entender do que aquilo tudo se tratava. Raissa olhava para mim em claro sinal de pena, pois todos entendemos que Conrado tinha problemas psiquiátricos. Com certeza o casal Albuquerque estava atrás de uma jovem de boa família desesperada o suficiente para gerar um herdeiro para eles.

Não consegui comer nada. Nem o assado que parecia delicioso, nem mesmo o vinho caro que meu pai comprou com sei lá qual dinheiro. Quando todos terminaram a sobremesa, seguimos para a sala onde a pior parte viria.

- Vamos querido, faça a proposta! - Caetana falou para o marido, sem esconder a animação.

- Ah sim, claro. - O velho homem respondeu, se preparando para falar a proposta, uma vez que o filho não tinha condições de fazê-lo. - Tricia, Caetana e eu ficaríamos muito felizes se aceitar se casar com nosso filho e gerar um neto para a família Albuquerque.

Eu fiquei petrificada. Nada tinha me preparado para aquilo. Minha mãe começou a bater palmas efusivamente enquanto meu irmão, que até então tinha ficado mudo durante todo o jantar, me pegou pelo braço e me arrastou para fora da sala.

- Nos deem um minutinho...

Saímos para o quintal da casa. Logo minha mãe apareceu atrás de nós. Eu ainda estava muda, mas meu irmão Rui começou a fazer questionamentos.

- Mãe, que loucura é essa?

- A família Albuquerque é riquíssima e se comprometeu a investir no novo negócio que seu pai está montando e assim poderemos retomar nossas vidas, isso não é ótimo? Eles prometeram uma soma bem grande, bem generosa mesmo, mas tem um preço: o filho deles já está ficando velho e não deu um herdeiro para eles ainda.

- O problema daquele cara não é a idade e a senhora sabe muito bem!

- É só um detalhe. - Minha mãe se virou para mim. - Eu sei filha que você tem feito tanto por nós, mas nenhum emprego vai nos levar para o lugar em que estávamos tão rápido quanto esse casamento. O Conrado é um rapaz de boa família, limpo e bem educado que não vai te tratar mal.

- Mãe, como eu poderia me casar com ele?! Provavelmente deve ter a mente de uma criança ou ser agressivo. Como eu poderia gerar um herdeiro assim?

- Já conversei a respeito com os pais do Conrado e a inseminação artificial é uma boa opção. Não importa de que maneira essa criança vai vir, desde que venha. Os Albuquerque viram que você tem bons genes e dará um neto muito bonito e saudável para eles.

Meu irmão ficou aflito com toda aquela conversa e percebendo o quanto eu estava quieta, começou a me defender.

- Mãe, pelo amor de Deus, não é possível que a senhora e pai estejam dispostos a sacrificar a vida da Tricia por causa disso. Além do mais, como podem garantir que minha irmã não vai gerar uma criança dele? Não está certo...

- Fácil para você falar Rui, pois vive as custas daquela senhora que te banca. Quando o marido dela descobrir sobre você, vai voltar para essa casa como um cordeirinho e desejando que Tricia tivesse aceitado o trato. Não é nada demais, é apenas um casamento por contrato.

Minha cabeça estava a mil.

Eu entendi o que minha mãe queria dizer. Parecia muito simples ter tudo de volta apenas assinando um contrato de casamento e deixando que gerassem um filho em mim. Não seria a primeira vez que algo assim aconteceria no mundo e nem a última. Muitas vezes eu sonhei em conseguir reverter toda aquela situação e tinha a solução bem nas minhas mãos.

Eu tinha pedido para o Universo uma chance para mudar tudo, não tinha? Talvez aquela fosse a resposta e eu estava ali, duvidando da sorte.

Olhei para minha mãe e percebi o quanto aquela história a enchia de esperança e devolvia-lhe o sorriso. Me doía ver o quanto tudo aquilo tinha afetado principalmente a ela e ao seu casamento. Não era só sobre mim, era sobre todos nós. Respirei fundo e voltei para a sala. Olhei para o homem idoso que me aguardava e tentei esboçar um sorriso.

- Sr. Albuquerque, eu ficarei encantada em ser a esposa do seu filho.

INABALAVEL: Me Rendendo ao Ex-cunhado Where stories live. Discover now