Capítulo 12

350 48 1
                                    



O céu estava com os primeiros sinais de luz e o frio comum da manhã já estava no ar. Eu abracei o meu corpo com força ao caminhar pelo gramado da Universidade e não demoro a encontrar o carro de Gabe completamente abandonado.

O veículo estava com os faróis ligados, o rádio tocando uma música qualquer e a porta aberta, confirmando o que ele disse.

- O carro tá lá embaixo com a chave no quadro e a porta aberta, eu não consegui estacionar por causa do susto.

Eu me lembro da voz rouca do ruivo ao contar.
Sendo honesto, o estado que Gabe estava ontem foi desesperador, eu nunca vi ele tão triste e atordoado. Mas pensando bem, quando Deus me chamou eu também fiquei assim, sem saber direito como agir.

- Obrigado por chamá-lo, Pai. - Comento entrando no carro e o levando para estacionar. - Eu não sei o que o Senhor tem pra vida dele, mas sei que o cara é especial.

Comento parando o veículo na vaga reservada e caminhando até a entrada do dormitório. Para a minha surpresa, Tyler estava saindo com uma roupa de treino e fones de ouvido.

- Bom dia. - Cumprimento alto para que ele ouvisse.

- Oi. - Ele responde tirando um dos lados do aparelho.

- O que vai fazer tão cedo? - Começo mas já imagino a resposta atravessada.

- Vou caminhar e treinar um pouco. - O rapaz responde me olhando com cuidado. - Quer vir?

O QUÊ?
O TYLER ME CHAMOU PRA IR COM ELE?

Convenhamos, mesmo que eu quisesse fazer as pazes com ele, nunca imaginei ser tão rápido e simples.

- Pode ser, eu só tenho que trocar de roupa. - Aviso mostrando o conjunto de moletom.

- Tá, eu vou comprar um energético e te espero. - Diz apontando para a máquina de bebidas do corredor.

Sem acreditar eu subo as escadas feito louco e mesmo sem conseguir, tentei não acordar Gabe, que dormia no sofá.

- Juan, o que foi? - Ele pergunta rouco.

- Eu vou caminhar... - Grito do quarto enquanto troco de roupa com pressa. - O Tyler me chamou pra ir com ele. - Assumo ao chegar na sala com as mãos na cintura.

- Ae, finalmente vocês vão se resolver.

- Eu espero ! Se Deus quiser, no próximo jogo estaremos de volta. - Comento e pego o boné do ruivo que estava em cima da mesa.

- Vai dar tudo certo! - Gabe grita assim que eu saio de casa.

Quando eu volto ao hall, procuro por Tyler, mas nem sinal dele. Por um segundo imagino que ele pudesse ter ido sem mim e me sinto um idiota, porém alguns segundos depois ele aparece com um molho de chaves na mão.

- Pronto? - Pergunta se aproximando.

- Tô sim, isso aí é pra que? - Questiono apontando para as mãos dele.

- Você é curioso hein, mano. Essas são as chaves do ginásio, eu fui buscar na secretaria. - Ele avisa caminhando na minha frente.

- Ah, e a quanto tempo você treina nesse horário?

- Desde o ano passado. - Tyler conta e percebo sua voz falhar.

Decido guardar algumas das minhas perguntas para depois e apenas permaneço ao lado dele durante a corrida.
Nós demos duas voltas no quarteirão e decidimos ir para o ginásio, ao chegarmos no lugar, encontramos todas as luzes apagadas. Em poucos segundos Tyler resolve o problema fazendo tudo se iluminar e me causar uma sensação de "lar".

- É assim que são todos os dias pra mim. - Ele avisa voltando a quadra. - Eu chego, ligo as luzes, organizo os materiais e espero dar o horário de ir pra aula.

- Uau, até que você é responsável. - Digo em tom de brincadeira e ele ri.

- Valeu. - Comenta indo recolher as bolas espalhadas e lançando algumas.

- Vamos tentar uma coisa? - Proponho e ele me olha intrigado. - Uma cesta e uma pergunta, topa?

- Tanto faz, você vai perguntar de qualquer forma. - Tyler dá de ombros e eu me junto a ele na linha de três pontos.

- Se acertar, faz a pergunta. Mas se errar, o outro faz. - Explico ao passar a bola pra ele. - Vai...

- Hum, qual é a da garota? Samy, eu acho. - Ele começa a falar antes mesmo da bola cair no cesto e me encara.

- Somos amigos, a gente se dá bem e nada além disso. - Confesso incomodado e para minha infelicidade, meu lançamento passa longe da cesta.

- Não é o que parece. - Provoca e acerta mais uma. - Já saiu com ela?

- Não, e se falar dela de novo eu vou perder a paciência. - Ameaço olhando com raiva.

- Ok, sua vez. - Comenta me dando a vez.

Há meses que venho remoendo essa pergunta e nunca encontrei uma explicação pra ela, agora finalmente acertando, de uma vez por todas espero conseguir entender tudo o que aconteceu.

- Porquê ficou tão chateado com o lance da sua irmã? - Digo de uma vez, sem enrolação.

- Eu não vou responder isso. - Ele murmura e sai andando até a arquibancada. - Te chamei aqui só pra sair do banco, não pense que quero ser seu amigo.

- Pode não responder, tudo bem, mas eu vou continuar questionando por quanto tempo precisar. - Sigo até lá e paro de frente pra ele. - Você nunca proibiu ninguém de falar com ela, mas quando descobriu que nós saímos virou outra pessoa.

Ele se senta e me olha com o maxilar trincado, mas não demora e vira o rosto.

- Olha Ty, eu só quero saber pra me desculpar direito. - Confesso.

O mais alto permanece calado tempo suficiente para que eu também me sentasse e perdesse as esperanças de resposta. Em silêncio, o rapaz me olha e é quando percebo seus olhos avermelhados.

- O problema não foi você ter saído com ela, essa foi a parte mais tranquila. Acontece que na mesma época os meus pais se divorciaram e a Tasha começou a sair com você pra chamar atenção em casa. Ninguém ligou porque todos te conheciam e sabiam que você era legal, mas quando terminaram, a pirralha inventou que estava grávida. - Ele conta e eu me levanto assustado.

- A Tasha o que? - Grito sem conseguir assimilar.

- Era mentira, só que quando ela me contou eu acreditei e comecei a odiar você por ter terminado com ela assim. Sabe como é, eu não penso direito antes de defender a minha família. - Tyler confessa apoiando os cotovelos nos joelhos. - Desculpa pelo soco aquele dia e por não ter ido falar contigo antes.

- Tudo bem, eu imaginei que tivesse os seus motivos, mas não pensei nessa situação. - Comento piscando várias vezes. - Como estão as coisas em casa?

- Melhor, a Tasha foi morar com o meu pai e a minha mãe voltou pra Tijuana. - Ele explica levantando o olhar pra mim.- Ai, como conseguiu me aturar sem revidar? Eu fui um idiota todo esse tempo pra tentar te odiar de verdade, mas você não me deu motivos.

- Mateus 6,14... só isso. - Digo jogando a bola pra ele e indo até o meio da quadra.

- Ah qual é, você tá igual ao Blake? Aceitou Jesus? - Provoca vindo até mim, batendo a bola no chão e se preparando pra jogar.

- É cara, uma hora acontece com você também. - Avião e roubo a bola de sua posse fazendo uma cesta de três pontos. - Amigos? - Proponho.

- Vai com calma, Juanito. -- Tyler diz rindo.

- Colegas de time? - Insisto e ele não nega. - É, colegas de time

Curado Pelo Amor | Romance Cristão  [ Revisado ]Onde histórias criam vida. Descubra agora