09 VINTE ANOS

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Thiago correu para abrir a porta e impedir Marina de quebrar as prateleiras de tempero. 

— Pare! Você pode ir!

— Vai me levar de volta?

— Não posso! Está cheio de tubarões lá fora! Eles me viram quando salvei você e me perseguiram!

— Por que?! O que isso tem haver?! 

— O meu povo está em guerra contra os tritões e sereias. Por isso estou escondido, eu disse que perdemos Atlântida, eles não podem descobrir esse lugar...

A humana olhou impaciente sem acreditar na história. Vendo a reação dela ele tentou explicar:

— Os tubarões viram quando eu salvei você. Tive que fugir e despista-los, eles servem de olhos para o inimigo. Mas agora que sabem devem estar fazendo rondas e me procurando. — Os olhos dele já estavam vermelhos e rasos de lágrimas, estava se segurando.

Thiago desviou o olhar e limpou as lagrimas com a manga da bata. Marina novamente se compadeceu daquele homem. Ela estava brava e não queria ceder, mas era impossível, principalmente quando o atlante começou a esfregar o próprio ombro se auto consolando. 

— É por isso que precisa de um mês? — perguntou como se saísse de suas entranhas com seus pequenos olhos verdes tremendo as pálpebras.

— Sim... — a voz do rapaz saiu vacilante e insegura. 

— Eu não posso esperar um mês! Minha família está preocupada comigo! — falou forçando impaciência. 

— Eu a teria levado de imediato se eles não tivessem me visto.

— Você vai mesmo me levar depois de um mês? Não está me enrolando? — questionou tentando ler suas reações e ele virou o rosto frustrado — Ei! Vai me enrolar novamente?! Eu não posso ficar aqui!

— Não vou te enrolar! Mas pode ser mais complicado que isso. Eu não posso sair sem ter certeza. Não posso me arriscar.

"O esquisito não parece está mentido. Parece mais um bebê chorão."

"Ela parece uma orca raivosa. Todos os humanos são violentos assim? Quebram tudo, para conseguir o que querem?"

Marina cruzou os braços e naquele silêncio notou Thiago cabisbaixo esfregar o próprio ombro — Ele está se consolando novamente. É de dar pena, coitado. — pensou ela antes de se aproximar.

O rapaz levantou o rosto vendo a sombra dela se aproximar. Se preparando para outro confronto parou de se consolar e olhou com raiva já esperando outro desaforo da humana.

Contudo Marina segurou os dois ombros dele ao mesmo tempo e esfregou com um olhar entre séria e brava. Surpreso o atlante logo aliviou a expressão e se aproximou dela devagarinho, abraçando com hesitação.

Por fim colocando a bochecha sobre o ombro dela. Marina esfregou as costas dele mecanicamente e ficaram assim por mais tempo do que ela gostaria.

— Vamos, se anime logo

— Só mais um pouco. — a voz dele foi tão doce que Marina não reclamou e ficou mais um tempo consolando o esquisito até que decidiu fazer perguntas.

— Ei.

— Hum.

— A quanto tempo está sozinho?

— Vai fazer vinte anos em um mês... — demorou um pouco para responder

— Vinte anos?! —  surpresa desfez o abraço só para olhar a cara dele.

Trinta Dias Em AtlântidaWhere stories live. Discover now