Capítulo 1: O Boneco de Neve.

684 72 211
                                    

27 de novembro

João Vitor Romania:

Eu odeio o Natal.

Não me leve a mal, normalmente quando eu digo que eu odeio o natal, sou atingido em cheio com olhares de pena e falas escandalosas me perguntando o porquê de odiar o feriado mais aguardado da vida dos brasileiros, e a resposta é simples; como não odiar?

Convenhamos, o natal é uma desculpa esfarrapada para as pessoas se entupirem de comida e vinho enquanto julgam a vida alheia se convencendo de que todos alí são uma família unida.
O natal é a porra de uma mentira.

Sem dúvidas, isso era o que mais me irritava. Todo mundo se convenceu tanto dessa comicidade que mal conseguem reparar que quando o sol se vai e por fim o feriado acaba todos voltam novamente para sua pequenez.

Que magia é essa que dura só até o entardecer?

Sem contar das bobagens que cercam todo o mês de dezembro. Árvores de Natal, papai Noel, panetone, renas e aquelas músicas insuportáveis, tudo está alí por um único objetivo: lucrar em cima de idiotas que se sentem encantados por toda aquela farsa.

É uma felicidade fajuta que insistem em empurrar sem que ninguém questione o porquê.

E nesse exato momento sinto um formigamento típico nas minhas bochechas, eu queria rir, rir não, gargalhar pela hipocrisia diante dos meus olhos.

Meu hotel estava cercado de um canto a outro com todos os tipos possíveis de enfeites natalinos, uma árvore gigante que se encontrava no meio do saguão ao lado de várias renas artificiais com bochechas cor-de-rosa e sorriso angelical, além da típica música estrumental natalina que eu jurava poder escutar nos meus piores pesadelos.

Por que, por mais que eu não suportasse tudo aquilo eu sabia que tinha uma tradição a zelar.

O Hotel RB tem uma tradição desde a década de 20 onde o local é responsável por promover a maior noite de natal do Rio de Janeiro, e infelizmente quando o Hotel foi passado das mãos do meu pai para as minhas, no início desse ano, eu tive a responsabilidade de arcar anualmente com toda a tradição.

Respiro fundo vendo o meu melhor amigo se aproximar. Viria problema.

— Você já pensou João?
Renan para do meu lado pondo as mãos na cintura. Consigo ver que o topo da sua cabeça está mais grisalho do que da última vez que eu lhe vi ontem.

O hotel estava tirando a sua juventude. Coitado.

— João!

Limpo a garganta enquanto tento encontrar o melhor jeito para responder.

Não existia.

— Eu não sei, ok? Você está perguntando para a pessoa que menos sabe sobre festas de final de ano e essas coisas.

— O seu avô vai ficar magoado se você não der um jeito nisso! Você sabe como é importante para ele as homenagens de final de ano.

Passo a mão no rosto na tentava de me controlar um pouco.

— Eu sei, eu sei. Vou pensar em alguma coisa.

Acaso, Natal! | Pejα̃oOnde histórias criam vida. Descubra agora