O encontro

239 53 6
                                    


Ele avançava velozmente, seus pés tocando delicadamente a relva úmida, ainda ornamentada pelo orvalho matinal. A alvorada mal havia esboçado seus primeiros raios quando eles iniciaram sua jornada. O céu, tingido de tons suaves de lilás e laranja, testemunhava a determinação em seus passos. Ele liderava o caminho, mas os sons ofegantes e resmungos do companheiro logo atrás eram inconfundíveis. Seu próprio respirar era um modelo de eficiência: contido, rítmico, tal como uma máquina maximizando cada gole de oxigênio, vital para os músculos durante a longa corrida.

Uma respiração compassada era mais que uma técnica; era um mantra para manter o ritmo cardíaco estável. Alterações bruscas na respiração podiam levar a oscilações no ritmo cardíaco, o que não apenas reduzia a eficiência, mas também trazia riscos durante esforços prolongados. Além disso, a calma ao respirar ajudava a aliviar tanto o estresse físico quanto o mental.

Exageros na respiração podiam desencadear hiperventilação, um desequilíbrio no qual excesso de oxigênio e a falta de dióxido de carbono causavam tonturas ou fraquezas - uma desvantagem clara em qualquer corrida. Essas lições, ministradas por Amos, foram rapidamente absorvidas por Harry, mas Neville ainda lutava para dominá-las. Harry sabia que as corridas não eram maratonas contínuas; a primeira e terceira fases duravam apenas uma hora, mas a segunda fase era imprevisível. Recordava-se, graças aos vídeos analisados com Amos, de uma segunda fase que se estendeu por três exaustivos dias. A mensagem era clara: estar preparado para qualquer eventualidade.

Já havia um mês e meio desde que iniciaram o treinamento intenso. Cada dia que passava trazia um peso crescente, como uma sentença inelutável aproximando-se de sua execução. Harry, embora ansioso e temeroso, dedicava-se aos treinos com tal afinco que Amos e Alastor chegaram a adverti-lo para moderar o esforço. Não valia a pena se desgastar a ponto de comprometer sua capacidade de correr. Assim, consciente, Harry diminuiu o ritmo, permitindo que Neville o alcançasse.

As palavras de Diggory ecoavam em sua mente: "É uma corrida, mas nas primeiras fases, não buscamos vencedores, mas sobreviventes. Não se ganha nada por chegar primeiro". Harry não via os outros ômegas como rivais, não desejava vencê-los...O seu foco deveria ser os alfas.

Exausto, Neville finalmente o alcançou, apoiando-se numa árvore frondosa para recuperar o fôlego. "Não acha que... que já corremos o suficiente?" indagou, ofegante.

Harry retirou um mapa da pochete na sua cintura, analisando-o atentamente. "Devemos encontrar uma trilha para retornar à estrada principal daqui a alguns metros...".

A preocupação de Neville era válida. "Será prudente corrermos assim? Estas terras podem ser propriedade privada", argumentou, algo que já havia expressado antes, quando Amos propôs as maratonas pelas florestas e campos da região. De fato, transitavam por terras que possivelmente pertenciam a alguém, mas, sem cercas evidentes e apenas de passagem, o risco parecia mínimo. Era parte do treino experimentar a desorientação em um ambiente desconhecido, utilizando-se apenas de ferramentas básicas como o mapa e a bússola.

"Assim que encontrarmos a estrada, não precisaremos nos preocupar com invasão de propriedade privada ou algo assim. Sua ficha criminal continuará limpa, Neville... Por enquanto", disse Harry, com um meio sorriso sarcástico, arrancando um riso contido de Neville. A leveza do momento contrastava com a seriedade do treinamento, criando um breve respiro em meio à tensão da preparação.

Harry respirou profundamente, absorvendo o ar fresco da floresta, um gesto que Neville imitou. Este ato não era apenas para estabilizar a respiração; eles também estavam aprimorando uma habilidade vital em seu treinamento: a detecção de aromas. Os alfas eram notoriamente reconhecidos por seu olfato aguçado, mas os ômegas, sensíveis aos feromônios, não ficavam muito atrás. Alastor Moody teorizava que os ômegas nunca tinham sido estimulados a desenvolver seu olfato desde a infância, ao contrário dos alfas, que eram treinados na arte da caça e perseguição. Moody acreditava que os ômegas podiam se tornar excelentes farejadores, talvez não ao nível dos alfas, mas o suficiente para lhes conferir uma vantagem estratégica. Para ele, os ômegas não deveriam ser apenas reativos aos feromônios dos alfas.

A corridaWhere stories live. Discover now