Capítulo 6

96 15 20
                                    

F R E Y A

O verão estava acabando, mas o sol em Mônaco simplesmente não dava uma trégua, e era por isso que eu agradecia todos os dias a todos os Deuses pela vida da minha amiga Estela, que tinha escolhido a casa perfeita com uma piscina pequena e aconchegante para morarmos.

Sem Fernando e sem trabalho, o que me restava era esperar que algum cliente me chamasse enquanto nadava sozinha na piscina na parte de trás da casa que eu dividia com Estela. A parte boa era que o meu bronzeado ficaria em dia novamente.

Eu estava terminando de tomar meu refrigerante extremamente gelado à beira da piscina quando Estela saiu pela porta de trás da casa vestindo um biquíni roxo e com uma toalha na mão.

— Ué, plena quarta-feira? — Falei quando ela chegou perto o suficiente da toalha que eu estava deitada em cima, pegando sol, e ouvi a risada feliz dela.

— Cancelaram a festa que ia ter no fim de semana, então deram folga para todo mundo hoje e amanhã. — Ela explicou enquanto abria a toalha ao meu lado para poder pegar um pouco de sol também. Me sentei na toalha para alcançar o bronzeador e ela sentou com as costas viradas para mim, esperando que eu aplicasse o produto nela. — E você, tem falado com o Fernando?

Respirei fundo, sentindo um nó se formar em minha garganta como em todas as outras vezes que pensei em Fernando.

— Não, ele deve estar bem ocupado com o GP de domingo e eu disse a ele que ia respeitar o espaço que ele me pediu. — Expliquei tentando segurar o choro e Estela respondeu com um barulho em concordância. — Você pode passar nas minhas costas também? Eu não consegui retocar sozinha depois que saí da água.

— Tuuuudo bem, vira aí. — Ela pediu e eu me virei de costas para ela e de frente para a piscina, observando a luz do sol brilhando na água preguiçosamente. — Caramba, amiga, você tem uma mancha de nascença aqui nas costas... Nunca tinha reparado.

— Tenho, né? Minha mãe dizia que ela ficava mais visível no inverno do que nas outras estações, mas eu não consigo ver para poder comparar. — Falei rindo e Estela me acompanhou. Ela terminou de aplicar o bronzeador no resto do corpo e nos deitamos lado a lado sob a luz solar. — Você acha que o Fernando vai me procurar em algum momento?

— Eu tenho certeza disso. — A firmeza no tom dela fez com que eu abrisse os olhos e virasse o rosto para poder olhá-la, um pouco confusa. — Para de me olhar com essa cara, você também sabe que ele vai te procurar. Ai, Freya, você é muito boba, o jeito que aquele homem te olha não é comum. Ele não te olha com aquele desejo carnal igual seus clientes olhavam, ele te olha com admiração. E eu só vi vocês juntos uma vez, hein.

— Você está enlouquecendo, minha amiga. — Falei rindo enquanto voltava a fechar os olhos para tomar sol e ouvi Estela bufar em irritação ao meu lado.

— Pois então quando ele voltar te pedindo em namoro, você vai ter que me aguentar jogando na sua cara que eu te avisei.

(...)

O barulho da televisão era a única coisa que rompia o silêncio da sala de estar. Eu não estava tão interessada na corrida até a metade dela, quando Fernando finalmente conseguiu sair de trás de Checo e garantir o terceiro lugar.

Meus olhos agora estavam fixos na televisão, esperando que Fernando ultrapassasse Charles Leclerc para garantir o segundo lugar. Em duas voltas, ele conseguiu ultrapassar e eu comemorei em silêncio, já que Estela estava trabalhando há poucos metros de mim, na mesa de jantar.

A corrida seguiu até o final do mesmo jeito: Verstappen em primeiro, Fernando em segundo e Leclerc em terceiro. Eu estava feliz por ver Fernando conquistar mais um pódio, mas queria vê-lo no degrau mais alto daquele pódio.

Por um momento, passou pela minha cabeça mandar mensagem a ele para parabenizá-lo, mas assim que abri a conversa dele, achei melhor me manter em silêncio. É isso que pessoas adultas fazem, respeitam o espaço do outro.

Voltei a fechar a conversa e deixei o celular no silencioso, em cima da mesa de canto ao lado do sofá.

O hino da Holanda começou a tocar na televisão quando Estela tirou os fones de ouvido e eu consegui ver, à distância, ela revirar os olhos.

— Caramba, será que o Max não cansa de ganhar? — Ela falou rindo ao se levantar da cadeira com o notebook na mão e vir sentar-se ao meu lado no sofá.

— Acho que não, porque ele continua ganhando. — Falei rindo também e continuei observando a televisão. Enquanto eles comemoravam, jogando champanhe um no outro, eu me imaginei lá, ao lado da equipe da Aston Martin, comemorando mais um pódio de Fernando.

— Tá sonhando acordada? — Estela falou ao meu lado e eu só percebi que estava devaneando há bastante tempo, porque a televisão já estava desligada.

— Tô, sim... Foi bom ver ele no pódio. — Forcei um sorriso e observei Estela me encarando intensamente, como se quisesse ler a minha mente.

— Cara, você tá muito apaixonada por esse homem... — Revirei os olhos e me levantei, deixando Estela sozinha na sala de estar.

— Eu vou tomar sorvete, você quer? — Peguei a chave da porta enquanto andava na direção da saída e ouvi Estela negar com um barulho. Abri a porta ao mesmo tempo que um entregador tocou a campainha, fazendo com que nós dois nos assustássemos.

— Desculpe, senhora, eu não quis te assustar. — O menino ruivo falou rindo e eu apenas balancei a mão para indicar a ele que estava tudo bem. — Tenho uma entrega para Freya.

— Sou eu mesma. — Respondi totalmente confusa, já que as entregas nunca chegavam aos domingos. Ele me esticou um envelope branco e um buquê pequeno de rosas vermelhas. Comecei a rir automaticamente ao ver as flores e assinei o papel que ele me pediu para assinar. O menino se afastou e eu fechei a porta para voltar para o lado de dentro.

— Que isso? — Estela perguntou quando voltei para a sala de estar e eu me sentei no sofá novamente, ao lado dela.

— Presente do Fernando. — Expliquei e abri o envelope, encontrando um papel dobrado e uma passagem de avião lá dentro.

"Querida,

Eu posso ter conquistado um pódio hoje, mas você é o meu troféu preferido.

Te espero em Monza.

Besos, tuyo Nando."

— Gente, o homem é o último romântico vivo... — Olhei para o lado e vi Estela esticada por cima das flores para poder ler o que estava escrito no bilhete. — Você vai, né?

— Mas é claro que eu vou. — Respondi ainda sorrindo e recebi um empurrão fraco da minha amiga, que agora estava sorrindo junto comigo.

— Eu sabia que ele ia falar contigo! — Apenas concordei com a cabeça e li o bilhete mais uma vez. Meu coração acelerou ao ver a passagem de avião e eu não consegui segurar o grito de animação que saiu da minha boca. Estela, ainda me observando atentamente, estava rindo e eu me virei de frente para ela, beijando seu rosto todinho em animação.

— Eu vou para Monza!!

Twenties | Fernando AlonsoWhere stories live. Discover now