Folklore -Severo Snape

My tears ricochet

Nós nos reunimos aqui, nos alinhamos

chorando em um quarto iluminado pelo sol

Lembrava-se exatamente do momento em que a havia conhecido, apoiada no balcão de um velho café em que adorava ir após um dia estressante de aulas para o ensino superior. O discreto professor de química tinha uma presença marcante, e havia sido notado pela ruiva. Mas nada passou de um primeiro olhar discreto.

As visitas do professor ao café se seguiram, e por vezes seus olhos se encontraram em meio à um café e outro.

Com o passar dos dias os olhares se tornaram sorrisos, e por vezes cafés compartilhados, e ele se quer se lembrava a hora de ir quando estava ali com ela.

Julianne era como um raio de sol, ao alcance da palma. E completamente irresistível ao toque.

-Você me deve um café... -O provocou ao depositar o pedido de sempre em sua mesa.

-Achei que tomávamos café sempre juntos. -Retrucou erguendo a sobrancelha e a viu sorrir, iluminando ainda mais o ambiente.

-Digo fora daqui. -Deu de ombros. -E não necessariamente um café. -Seus olhos se encontraram e ela deu de ombros deixando o sozinho.

O convite feito entre linhas foi aceito, e um suco ao redor do parquê se tornou um jantar no restaurante preferido dele, e dias depois um almoço no pequeno apartamento dela. E entre uma taça e outra o primeiro beijo.

Julianne sabia desde o primeiro momento em que o havia visto que Severo seria mais do que um cliente que cruzava os olhos com os seus. E naquele ponto, podia jurar que seria mais do que um caso de uma noite, um beijo perdido no meio do caminho, ou uma escolha errada.

Cada toque dele em seu corpo a queimava viva, era ele, ainda que não admitisse, sabia que daqui para frente sempre seria ele.

E se eu estou pegando fogo

você será feito de cinzas também

-Você nunca me conta sobre você... -Sussurrou contra a pele dele enquanto enrolava os fios pretos em seus dedos. -E eu sou sempre um livro, fodidamente, aberto. -Ele riu do comentário dela, e era verdade. Sabia mais sobre ela em três meses do que sabia sobre qualquer outra pessoa que cercava sua vida.

-O que quer saber? -A olhou nos olhos. -Sou professor de química, divorciado, tenho 38 anos, moro sozinho... -Deixou que seus dedos contornassem as sardas dela. -Tenho um gato, e sou filho único.

-Não quero que me diga as coisas que eu já sei, quero que me deixe desvendar o que ainda não sei.

-O misterioso é sempre muito mais interessante. -Devolveu a fazendo rir. -Mas é uma delicia desvendar você. -Deixou que seu corpo recaísse sobre o dela, e seus lábios se encontrarem, e preencherem o silêncio com o som do desejo que sentiam um pelo outro.

Os meses se passaram daquela mesma maneira irreal e irretocável. O pedido de namoro nunca tinha vindo, ele não queria rotular o que não precisava ser rotulado. Seus amigos sabiam da presença dela em sua vida, e era o suficiente para ele.

Mas não era para Julianne.

Lilian, agora Sra.Potter, era uma presença constante na vida de Severo, e sabia ser ela a ex-mulher dele, dona de uma história oculta pelo tempo. E a falta de um compromisso real com ele por vezes a entristecia.

E assim seguiram por mais e mais meses, como se a vida e a relação fosse fácil de ser vivida. Como se não precisassem de mais do que a presença do outro.