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— Tá bom, agora me conta porque você achou que eu fosse te achar um louco? — Hoseok perguntou minutos depois, enquanto permanecíamos deitados sobre a grama na margem de um rio bem próximo à minha casa, debaixo da copa de uma árvore enorme

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— Tá bom, agora me conta porque você achou que eu fosse te achar um louco? — Hoseok perguntou minutos depois, enquanto permanecíamos deitados sobre a grama na margem de um rio bem próximo à minha casa, debaixo da copa de uma árvore enorme.

Hoseok assim como eu, é filho de pais asiáticos, mas ao contrário de mim que nasci e cresci em Bakewell, o garoto nasceu e morou até os seus dezesseis anos na grande e agitada Londres. E após completar dezessete anos, sua vida mudou drasticamente e literalmente, pois o garoto veio morar em uma cidade pequena juntamente com o pai após o recente falecimento de sua mãe.

E apesar de ser apaixonado por música, demorou a se situar na escola, demorou a sentir que realmente estava em casa. E naquele dia, era a primeira vez que Hoseok tocava seu amado violino após a morte de sua genitora.

As coisas com ele se desenrolaram fácil demais, eu não tinha me enganado quando senti a sensação de calmaria que me invadiu naquele momento quando o vi pela primeira vez. Já tinham se passado dois meses desde aquele dia e ainda assim, ver amarelo no som da sua voz ou sentir o cheiro adocicado em sua presença, ainda me deixava eufórico.

O amarelo sempre me deixou eufórico, sempre tive a sensação de alegria e um toque de animação quando via alguma comida, carro ou qualquer outro objeto desta cor. E naquela tarde, após ouvir sua voz, eu não tive dúvidas de que Jung Hoseok era o meu amarelo, o meu girassol.

Apesar do tom preto, agora um pouco mais acinzentado, ainda permanecer ao seu redor.

— Eu não queria parecer um estranho. — O respondi por fim, após virar a cabeça minimamente para o lado e poder lhe observar melhor.

Coisas estranhas aconteciam comigo quando eu estava em sua presença, sentia um frio no estômago e um sensação estranha quando vez ou outra, ele se aproximava um pouco mais. Nunca tinha sentido nada parecido antes. E eu não me sentia incomodado com a sua presença, longe disso, eu passei a apreciá-la.

— Você pode ser tudo, menos um estranho, Yoongi. — Ele olhou para mim sustentando um sorriso delicado.

Desde aquela tarde, Jung e eu havíamos criado uma amizade, já que ele foi insistente demais e todos os dias praticamente implorava para que eu fosse tocar consigo. E por algum motivo, alguma razão qualquer, eu não conseguia lhe dizer não. Eu sentia que deveria permanecer ao seu lado, mesmo que muitas das vezes eu não fosse uma boa companhia. E tocar nossas músicas preferidas enquanto ouvia sua risada amarela passou a fazer parte da minha rotina, até que chegou o momento que eu mesmo ia até sua sala de aula — já que Hoseok e eu não estudamos na mesma sala — e praticamente implorava para que fossemos tocar.

Hoseok estava deitado ao meu lado, me olhando de baixo com a cabeça apoiada em sua mão, sustentada por seu braço. Era fim de tarde e o sol já estava se pondo, todavia, o restante dos raios solares serpenteavam pelas folhas das árvores refletindo contra o rosto do Jung, o deixando iluminado, e muito, muito bonito. E seus cabelos estavam grandes, caídos sobre os seus olhos e eu queria tocar seus fios, sentir a textura e ver qual sentido me despertaria.

— Você é amarelo. — Eu disse depois de um momento em silêncio.

Hoseok sorriu estranho, ou fez uma careta, não sei dizer. Em seguida, franziu o cenho.

— Amarelo? — Perguntou confuso e não deixei de observar quando sua destra quebrou um raminho de uma plantinha que estava ao nosso redor.

— É — olhei para o céu de um tom alaranjado, sentido na ponta da língua o gosto de terra molhada e colocando ambos os meus braços embaixo da minha cabeça, voltando a o encarar. — Lembra que eu disse que via cor nas pessoas, você é amarelo.

Hoseok fez um pequeno bico, como se estivesse pensando.

— Lembrei, você disse também que às vezes sente o cheiro das pessoas.

Fiz uma careta me perguntando o porquê de eu ter dito isso. Tudo bem que realmente sinto o cheiro de algumas pessoas, mas nem todas tinham um cheiro agradável. E não falo do odor natural, apenas um cheiro diferente.

— Sim, mas não são todas.

— Você sente algum cheiro estando comigo? — Perguntou, seu olhar sobre mim em busca de alguma resposta.

— Sim — Resolvi dizer a verdade, não é nada demais então não teria porque mentir.

— E é bom?

— Sim, eu não sei o que é, mas é adocicado e eu tive a sensação de estar em um campo de girassóis quando te vi pela primeira vez.

Jung sorriu e levou o raminho em sua mão ao meu rosto, passando sobre a minha testa suavemente, uma carícia bem leve. Em seguida ele traçou sobre a lateral do meu rosto e seu semblante estava um pouco mais sério desta vez, após uns instantes ele resvalou sobre o meu nariz, fazendo cócegas na qual não consegui me segurar e acabei sorrindo. Todavia, Hoseok não parou, o raminho desceu para os meus lábios, onde ele fez alguns movimentos circulares tão lentamente que mais parecia com o vento roçando em minha pele.

— Eu acho que gosto de ser amarelo. — Disse depois de alguns segundos me encarando e pousando sua mão perto do meu rosto.

— Eu acho que amarelo se tornou a minha cor favorita.

Hoseok sorriu, desta vez seus dedos tomaram o lugar do pequeno raminho, acariciando a maçã do meu rosto, passando o polegar sobre minha derme e me fazendo sentir várias coisas ao mesmo. O seu toque era quente e macio, me deixava tremendamente tranquilo e relaxado.

— Eu gostaria muito de te beijar, Min Yoongi. — Hoseok sussurrou, sua respiração batendo contra o meu rosto e seus olhos fixos nos meus, ou em meu rosto. Não sei... não sei dizer.

Eu nunca havia sido beijado antes, não porque eu não quisesse ou não tenha tido oportunidades, todavia, por medo da reação do meu corpo com esse momento tão íntimo. No entanto, com Hoseok tudo parecia ser tão mais simples, agradável, quente e alegre. Eram tantas coisas que eu sequer conseguia pensar direito.

Mas após permitir com um leve menear de cabeça, ter os seus lábios sobre os meus foi como sentir milhares de pequenas bolinhas explosivas à minha volta, como se tudo ao nosso redor tivesse paralisado por um instante, como se eu sentisse tudo e não sentisse nada ao mesmo tempo. Com muita gentileza e delicadeza os seus lábios se moviam sobre os meus, me fazendo amolecer e prender a respiração. Ter a sua mão, mesmo que tão singelamente sobre a lateral do meu corpo, me fez dançar em êxtase enquanto milhares de fogos de artifícios explodiam dentro do meu peito.

E mesmo com seus lábios generosos colados aos meus, ainda consegui sentir um toque melancólico, um beijo triste e agridoce. Não sei porque sinto isso, mas é exatamente essa impressão que tenho.

Todavia, eu soube no mesmo instante que o beijo de Jung Hoseok tinha gosto de sol. 

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Amarelo em Você | sopeOnde histórias criam vida. Descubra agora