Prologo

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Em algum lugar do México, 15:30.

Dizem que durante todos os anos em que passamos vivos na terra, vivemos duas vidas.

Uma antes do amor.

Uma depois do amor.

Depois de você as coisas foram esquisitas.

Existem várias formas de encarar o luto, as pessoas choram, surtam, imploram pra alguma força trazer aquela pessoa amada de volta, mas comigo não foi assim.

Ao invés de chorar, me descabelar ou implorar, eu me fechei no dia do seu enterro, me tranquei dentro de mim mesmo e guardei no meu coração todas as memórias que eu tinha de você, memórias que me manteriam vivo até então.

Desde que você se foi, meu carro está estacionado na garagem, eu não aposto mais corridas.

Minha arma está aposentada na gaveta, sem as balas obviamente, Deidara as tirou de lá, ele teve medo que eu tentasse contra a minha própria vida.

Eu não faço mais trabalhos, não desde o último, se não tivéssemos levantado daquela cama naquela manhã, você ainda estaria vivo.

Ainda me culpo todas as manhã, as vezes culpo a minha equipe também, e então, me sinto culpado por sentir essas coisas.

Sai dos meus pensamentos quando ouvi a campainha da minha porta, me obriguei a sair da cama, mas fiz isso bem devagar. Passei a mão por cima da minha barba, já estava grande demais, mas eu não tinha vontade nenhuma de tirar ela, não havia porque me arrumar ou melhor, não havia para quem eu me arrumar.

Desci as escadas da minha casa e senti vontade de espirrar, estava tudo impuerado por ali, passei por cima dos papéis amassados no chão e finalmente cheguei até a maçaneta.

Estava gelada e um pouco engordurada também, mesmo assim a virei bem devagar. O homem entrou na minha linha de visão, estava vestindo um terno fino e preto, seus olhos negros pararam em mim e me analisaram de cima a baixo, normalmente eu teria me sentido envergonhado ou intimidado, mas não senti nada, além de uma tremenda vontade de voltar pra cama.

— O que está fazendo aqui Shikamaru?

— É assim que recebe um velho amigo? - ele perguntou seriamente - É isso que 500 mil dólares roubados compram?

Ele estava falando da minha casa, não era uma grande mansão, ficava em um pequeno bairro, escondido no México, eu tinha dois vizinhos e ambos eram idosos, quase nunca saiam de casa, não havia crianças ou cachorros, ficava perto da praia caso eu quisesse me afogar e o mais importante, não tinha internet, sem conexão com a vida civilizada.

— Eu chamo de "pequena liberdade" - eu disse indo em direção a cozinha, acenei para ele me seguir - Tenho tudo que eu preciso aqui, um mercadinho no final da rua, dois vizinhos, whisky a vontade - peguei a garrafa que estava em cima da mesa e coloquei em dois copos com gelo - O que mais eu iria querer?

— Uma faxineira talvez? - ele passou o dedo pelo balcão - Esse lugar tá um nojo e você também.

Respirei fundo dando um gole do whisky, queimou ao descer pela minha garganta, mas eu não fiz careta, não era mais um garotinho de quinze anos provando pela primeira vez.

Analisei Shikamaru, nos conhecemos a um ano, ele estava me caçando e caçando a minha equipe.

Como devem ter notado, Shikamaru disse que eu roubei 500 mil dólares, eu não roubei isso... Eu e minha quipe roubamos o quíntuplo, foi um golpe de sorte, precisávamos daquele dinheiro para sumir do mapa de vez e começar a construir nossas vidas, cada um em uma parte do mundo... Ao menos esse era o plano.

Shikamaru tentou nos prender, até que a pessoa que estávamos roubando assassinou a equipe dele, então nos unimos e hoje somos quase amigos, a diferença é que eu ainda sou preocupado e Shikamaru ainda é da polícia.

— Não foi difícil te achar sabia? - Shikamaru perguntou enquanto girava o copo em sua mão - As pessoas comentam, eu saí perguntando sobre um loirinho todo tatuado de olho azul e bum... A moça do mercadinho logo disse onde você morava - sorri de canto

— Ela está doida pra sair comigo - balancei a cabeça rindo - Olha que eu já disse que sou casado...

— Viúvo - ele me corrigiu

— ... E gay - eu finalizei

Shikamaru riu de canto dando o primeiro gole no copo dele. Ele fez careta, isso me deu vontade de rir, um homem de quarenta anos que ainda não aprendeu a beber.

— Por que o trabalho todo pra me achar? - quis saber - Não me diga que ficou com saudades?

— De você? - ele perguntou em ironia - Pra falar a verdade eu queria nunca mais ver a tua cara... Mas preciso de ajuda.

Levantei minha sobrancelha interessado, aquilo nunca aconteceu, Shikamaru preferia socar a minha cara, comer pedra ou doar um pé, a vir na minha casa pedir ajuda.

— O nome do homem é Yahiko, ele corre como um relâmpago e some como um raio... O fato é, ele está trabalhando na bomba atómica mais eficaz do mundo e dizem que ele só precisa de mais uma peça pra finalizar... Se ele conseguir vender pro comprador certo, essa pessoa vai ter um poder de destruição inimaginável.

— E o que eu tenho haver com isso?

— Preciso de você e da sua equipe, eu vi o que vocês são capazes de fazer - eu sorri de canto passando a mão pelos meus cabelos - Fala sério, vocês correram por uma ponte inteira, carregando malas e malas de dinheiro enquanto a polícia toda estava atrás de vocês... Eu realmente preciso de ajuda.

— Olha cara - respirei fundo bebendo tudo o que estava no copo - Eu queria ajudar, mas não faço mais essas coisas, minha irmã teve um bebê e...

Shikamaru não terminou de falar, ele jogou fotos na mesa e meu mundo parou ali.

Era ele, ainda estava com o mesmo corte rebelde no cabelo, estava usando a sua jaqueta de couro preta que eu dei para ele se aniversário de dezoito anos junto com a moto, as fotos estavam de longe, mas eu conseguia ver o pirceng na sua sobrancelha e a sua famosa cara de deboche.

Estava saindo de um carro preto, a foto parecia ter sido tirada de longe, como se um stalker tivesse feito esse trabalho perfeito.

Mas isso não importava, era ele.

— Onde consegui isso? - perguntei baixo.

Por que ele não me procurou?

— O que eu ofereço é muito alto Naruto, ofereço seu marido de volta.

Meu marido...

Meu marido...

Meu...

Uma onda de fúria me dominou, me levantei da cadeira, segurei Shikamaru pela gola de seu terno e o joguei na mesa da cozinha, ele tentou se soltar, mas eu segurei os seus braços em cima da cabeça, com a mão livre puxei a arma que estava na cintura dele e coloquei em sua testa

— ONDE CONSEGUIU PORRA?!

— FOI TIRADA A UMA SEMANA EM LONDRES! - ele gritou contra mim - Sasuke está vivo Naruto... E ele está trabalhando com o Yahiko.

Meu Sasuke...

Meus dedos tremiam sobre o gatilho da pistola, eu já não era tão novo assim, por isso minha visão estava um pouco turva, não sabia se era pela ansiedade tomando cada particula do meu corpo, ou por saber que ele estava vivo

— Naruto... - senti os dedos dele segurarem meu pulso - Atirar em mim agora, não vai mudar nada

— Yo lo se (eu sei) - respondi baixinho

Soltei Shikamaru bem devagar, me voltando para a cadeira, encostei minhas costas e respirei fundo.

Ele estava me oferecendo a chance de completar a minha família.

— Quando começamos?

Depois De Você Where stories live. Discover now