Tensa

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Carla e Shalom já saíram de minha casa no carro da italiana.

Shalom pediu alguns minutos antes de sair pela porta, para deixar seu carro em minha garagem, eu tinha achado estranho, mas ela me disse que talvez ela não precisasse usar seu carro até o Ano Novo, tudo dependeria da "escolha" de Carla. Ao ver pelas câmeras de segurança da garagem, que ambas partiram no carro de Bruni, eu pude confirmar que o plano de Shalom foi feito com sucesso, fico feliz por ela.

Ainda é uma surpresa ter descoberto que elas já haviam tido um relacionamento no passado, e que hoje mesmo elas vão prosseguir com sua relação. Fico feliz por elas, mas não posso evitar sentir uma aflição, um sentimento de insegurança e ansiedade por não saber ao certo que rumo minha vida tomará agora, sabendo que duas de minhas clientes agora não serão mais minhas.

Por outro lado, é um alívio. É um alívio saber que Shalom não me fará mais propostas insistentes para me fazer sua, e é também um alívio saber que Carla não sofrerá por seu amor por mim e que finalmente reencontrou a verdadeira pessoa com quem deve estar junta para ser plenamente feliz ao lado.

Pensando bem agora, elas realmente se merecem, combinam juntas e fazem um bom casal. Não devo ser amargurada ao ponto de passar o dia frustrada por perder clientes, devo focar mais no alívio de não ter mais problemas em relação a seus sentimentos por mim e também apreciar mais o florescer de um amor que aparentemente é muito valioso e real para elas.

O amor é valioso, sem dúvidas. Considero uma dádiva amar, ser amada e passar a vida amando quem você quer. Muitos não conseguem, muitos não possuem essa dádiva incrível da vida, é uma pena, mas por enquanto, posso afirmar que amo, sou amada e todas as semanas encontro meu amor. Minha princesa.

Tenho a ideia de ligar para ela e chamá-la para me visitar, se ela puder. Não tenho mais que me preocupar com Carla ou Shalom. Gisele não me visitará essa semana e as irmãs Hadid ainda não deram certeza.

A noite já chegou e não quero passá-la sozinha, se eu conseguir passar a noite com Leonor, ou melhor ainda, passar o natal com ela... ah... seria perfeito.

Pego meu celular e disco os números de seu telefone.

— Alô?

— Está ocupada? — pergunto direta.

— Boa noite, Elle, no momento não. — fala educada como sempre.

— Quer passar aqui? Estou me sentindo tão solitária, amor. — falo muito dramática.

— Elle, eu não sei... amanhã é véspera do Natal, minha família está preparando algo especial entre eles e... — a interrompo na ligação.

— Não vai poder mesmo me visitar? Nem hoje?

— Olha... vou falar com minha mãe, vou tentar muito, tá? Mas não crie expectativas.

— Isso! Pode falar com ela, quando tiver resposta me retorne. — desligo a linha.

Espero alguns poucos minutos e logo escuto o barulho do toque do celular.

— Vai vir? — já pergunto ansiosa pela resposta.

— Ela deixou eu passar a noite aí, e tenho uma boa notícia, não só hoje, mas amanhã também poderei passar o dia com você, só tenho que retornar até às cinco horas da tarde para o jantar.

— É sério? Que bom, meu amor, venha o mais rápido que puder, e não traga malas ou roupas, posso te dar algumas para você usar.

— Ah, não se preocupe com isso, eu não quero incomodar.

— Eu insisto, tenho roupas que adoraria ver você usando.

— Tudo bem, então. Me espere aí, tá?

— Não vou sair do lugar, meu bem.

— Tchau, Elle. — ela me chama pelo nome ao invés de algum termo carinhoso por medo de alguém de sua casa ouvir.

— Tchau, meu amor. — declaro cheia de ternura.

Ela desliga o telefone e eu vou direto para o banheiro, tomar banho, aplicar um bom perfume e colocar um lindo pijama. Faço tudo rápido, para não perder a oportunidade de recebê-la sem demoras, mas termino de me arrumar rápido demais. Espero por Leonor por quase uma hora inteira. Quando finalmente escutou o barulho da campainha, vou correndo para a porta.

— Por que demorou tanto? — faço a pergunta sem antes abraçá-la ou falar qualquer outra coisa.

— Boa noite, Elle, eu sinto muito, houve um imprevisto com meu tio, então o motorista estava ocupado levando ele para o hos...

— Não quero saber de desculpas, Leonor, achei que você viria mais cedo! Te poupei de arrumar malas justamente para você não demorar! — reclamo sem pensar, eu estou muito irritada para falar delicadamente com ela, minha raiva por ela ter demorado me fez acreditar que talvez ela tivesse mudado de ideia e desistido de dormir comigo, isso me entristeceu, por isso fiquei fora do calmo.

— Me desculpa... eu não sabia que meu tio teria um infarto bem na hora que você me ligou. — ela fala cabisbaixa como se estivesse se culpando por aquilo.

Na mesma hora me bateu um tremendo arrependimento por ter sido grossa com ela.

— Meu Deus... me perdoe, amor, eu não deveria ter falado desse jeito, você está bem? Está muito abalada por seu tio? — pergunto preocupada, colocando minha mão em sua bochecha e levantando seu rosto para olhar para o meu. — Entre, minha princesa, está muito frio para você ficar na porta da minha casa. — passo minha mão em suas costas e a guio para dentro.

— Eu não sou próxima dos meus tios. Vejo eles quase todos os dias, mas não é como se tivesse carinho por eles.

— Não precisa bancar uma de forte, Leonor, pode ser sincera para mim, você não estragará a noite por estar triste. Se permita.

— Não, eu estou falando sério. Eu realmente não os amo. Não amo meus tios, tias, primos, primas e nem... meus pais. — fala com peso em sua voz.

— Oh, amor, se quiser falar sobre isso, estou aqui para lhe ouvir. — seguro sua mão e sento no sofá, puxando ela comigo.

Leonor senta no sofá com o rosto pensativo, pronta para desabafar.

— Minha família sempre tenta parecer perfeita, mas ninguém ali realmente se ama. Todo mundo é tão egoísta, eles pensam só neles mesmos, em suas reputações, aparências e títulos... Não acho que meus pais realmente me amam pelo que eu sou, sabe? Eu só sou a herdeira do trono e não a amada filha deles. Eu sou só um título, e doeu perceber isso aos 11 anos de idade.

— Por que nessa idade especificamente?

— Porque foi nessa idade que eu comecei a ter mais noção das coisas sobre minha família. A forma como eles se tratam, a forma como são obcecados por cada coisa que a mídia cita sobre eles. A forma até como às vezes eles me olham friamente, o olhar vazio e cinza deles, foi finalmente percebido por mim nessa idade.

— Leonor, eu sinto muito...

— Não se preocupa, eu me sinto feliz agora. — ela abre um sorriso depois de sua expressão lânguida e melancólica ao falar sobre sua família. — Sabe porque me sinto assim?

— Por quê?

— Porque eu sei que pelo menos uma pessoa nesse mundo me ama de verdade. Eu sei que pelo menos uma pessoa não se preocupa somente com ela, não esconde as coisas de mim como tantas vezes meus pais fizeram, não me suporta só pelos meus títulos, mas me ama por completo. É por isso que agora eu sou feliz, por causa de você. — Leonor me beija carinhosamente, com a curva de seu sorriso ainda existente junto ao beijo.

Quase não consigo aproveitar esse momento. Fico tensa. 

"Não esconde as coisas de mim..." Ah, meu Deus... ela realmente não pensa nem em uma mínima possibilidade de eu ser uma mentirosa. Como vou explicar para ela a vida que vivo? A mulher que sou? 

— Eu também te amo muito, minha princesa, mas estou com muita fome agora. Vamos para a cozinha, vou preparar uma boa comida para nós. — seguro sua mão e me levanto junto a ela. Não quero pensar em mil cenários catastróficos sobre o abandono da minha amada princesa ao saber das mentiras de sua amada mulher.

Garota PrivadaWhere stories live. Discover now