Cap.4

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Lizzie, me salva.
Levantei da cama com um sobressalto e rapidamente alcancei o
abajur da mesa de cabeceira. A escuridão do quarto era sufocante,
e não consegui respirar fundo até a luz amarela encontrar meus
olhos. Meu pijama grudava na minha pele encharcada, e a voz da
minha irmã ainda ecoava em meus ouvidos. Era um pesadelo, o
mesmo de sempre. Começava sempre igual, com nós todos no
carro em um dia tranquilo, curtindo o passeio juntos. Então uma
força invisível me arrancava do banco, e eu ficava impotente para
fazer qualquer coisa exceto assistir enquanto a terra engolia minha
família.

Era cedo demais para correr, mas meu coração estava batendo
forte, e eu sabia que ficaria me revirando na cama até o sol nascer.
Empurrei as cobertas e decidi descer até a cozinha, esperando que
um copo de leite morno com mel ajudasse a acalmar os nervos.
Katherine fez isso para mim quando estávamos em Nova York. O
nervosismo de me mudar para o Colorado tinha deixado meus
pesadelos piores do que o normal, e certa noite que acordei gritando
ela acordou também.
Desci as escadas em silêncio. Era ainda mais difícil do que
durante o dia, porque a falta de luz impossibilitava ver qualquer
tralha que estivesse no chão. Alguma coisa devia ter surgido ali -
sempre que eu subia ou descia, tinha um novo filme, livro ou jogo
nos degraus.

Quando meu pé esbarrou numa bola, respirei fundo, e ela desceu
as escadas levando outros itens consigo. Mantive a respiração
presa até a bola ter parado; queria ter certeza de que ninguém tinha
ouvido o barulho. Apesar de Cole dizer que estava tudo bem, eu
sabia que alguns dos garotos ainda deviam estar com raiva de mim,
e não queria deixar as coisas piores acordando-os no meio da noite.

Depois de chegar ao pé da escada sem causar outro acidente,
tracei meu caminho pelo corredor da entrada, um suave brilho azul
indicando o caminho. Ao chegar na cozinha, ouvi o barulho quase
inaudível da TV.

- Olá? - sussurrei, indo em direção à sala de estar.
Quando pisei no tapete, vi que a TV estava ligada em uma série
policial - o detetive inspecionava um cadáver ensanguentado na
tela. As almofadas do sofá estavam jogadas no chão e, na mesa de
centro, havia um pacote de batatinhas aberto, mas a sala estava
vazia.

Minha descida não tão sutil escada abaixo não acordou ninguém,
mas avisou quem estava acordado que eu estava chegando.
Parecia haver outro insone na casa além de mim, e, a julgar por sua
personalidade retraída, eu sabia exatamente quem era.

,

A semana de aulas estava no fim,durante as aulas que eu falei a professora passou um projeto de artes. E precisávamos terminar o projeto
de artes na sala. Cada grupo deveria apresentar o que havia feito na
segunda-feira, mas Jackie,Heather, Riley e eu não estávamos nem perto
de terminar. Elas tinham escolhido fazer uma colagem de fotos, mas
além de conseguirmos uma câmera, não tínhamos feito qualquer
progresso. Heather e Riley andavam distraídas, nos perguntando
sobre os Walter constantemente.

- O Isaac usa cuecas boxer ou normais? - perguntou Heather,
puxando o chiclete da boca em um longo fio.

- Como é que eu vou saber? - respondi, tentando ajustar o foco
da câmera.

Eu sabia a resposta dessa pergunta, pela cena aterrorizante da cozinha. Mas esse não era o foco.

Não conseguia descobrir como desembaçar a lente. Queria gritar.

- Você mora com ele - apontou Riley, como se eu passasse todo
meu tempo livre na casa dos Walter vasculhando as gavetas de
cueca deles.
Pensando nisso agora, era o que Heather provavelmente faria.

Black Hair- Isaac WalterWhere stories live. Discover now