Cap. 5

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— Eu nunca fiquei com tanta inveja de alguém – anunciou Heather.

Era sábado à noite, e estávamos todas deitadas na minha cama e na de Jackie,os cotovelos pressionados um contra o outro. Era apertado no
colchão de solteiro – Heather tinha trazido Kim sem me avisar.
Espremer cinco corpos no espaço limitado era difícil.

Tinha acabado de falar sobre Isaac ter me levado para conhecer a
fazenda ontem, algo que prometi contar só depois que
terminássemos o trabalho, Jackie disse que Cole tinha feito a mesma coisa quando chegamos. Kim foi surpreendentemente útil; ela
sabia como controlar as amigas e fazê-las retomar o foco quando
elas se distraíam. Ainda assim, nossa fofoca pareceu a motivação
perfeita para Heather e Riley.

– Deus do céu – disse Riley, se abanando. – Por que um dos
irmãos Walter não podem me levar num encontro?

– Não foi um encontro. Ele só me mostrou o lugar – falei,
corrigindo-a. – O que, aliás, Isaac só fez porque o Lee estava sendo mané.

– Vocês andaram de cavalo e assistiram ao pôr do sol juntos –
observou Heather, deslizando ao lado de Riley para se levantar.
Havia um pote de pipoca pela metade abandonado a alguns metros,
e ela pegou um punhado. – Essa é a definição de “encontro
romântico” no dicionário.

– O que você acha, Kim? – perguntou Riley, estendendo as mãos
para checar as unhas.
O esmalte azul estava lascado em todos os dedos.

– Do quê? – perguntou Kim, sem erguer os olhos da página do gibi
jogado a sua frente.

Durante a fofoca sobre garotos, ela ficou quieta e se concentrou
na leitura. Riley tentou puxá-la para a conversa com perguntas
ocasionais, mas Kim tinha o dom de desviar delas imediatamente.
Ela dizia algumas palavras rápidas e acenava com a mão antes de voltar a ler. Era um talento que me deixou mega impressionada.

– Você acha que o passeio conta como encontro?

– As meninas que estavam lá – respondeu Kim. – Elas que tem que saber.

– Falou, falou e não disse nada – comentou Riley. – Meninas, vocês
tem esmalte?

– Claro. – Pulei da cama, feliz pela mudança de assunto. – Quer
acetona também?

– Isso, e um pouco de algodão.

Abri meu armário, procurando a caixa pesada que eu sabia que
estava lá dentro.

– Uau – disse Heather quando abri a porta do guarda roupas da Jackie- Qual é o lance do arco-íris?

As bochechas de Jackie avermelharam.
– É só um hábito

Depois de arrastar a caixa para fora com certa dificuldade, deixei-a
cair ao lado de Riley, fazendo vidros de dentro chocalharem juntos.
Todas ficaram em silêncio enquanto observavam o estoque.
Com os olhos arregalados, Riley olhou para mim.

– Só isso? – perguntou, sarcástica, o ar saindo de sua boca em
descrença.

– Sério – acrescentou Heather, deslizando de volta para o lado de
Riley para poder dar uma olhada melhor. Ela enfiou a mão na caixa
e puxou um esmalte vermelho vivo. – Tá querendo largar a escola e
começar seu próprio salão?

Balancei a cabeça. Não eram nossos. Lucy era obcecada por pintar
as unhas da mesma forma que Heather era obcecada pelos irmãos
Walter. Ela trocava de cor todos os dias para combinar com a roupa.
A coleção de esmaltes ficava sempre espalhada pela casa, enfiada
em gavetas e armários ou em qualquer lugar possível. Chegou a um
ponto em que minha mãe teve que montar uma penteadeira no
quarto de Lucy especificamente para ela ter um lugar de manicure.
Mesmo assim, de vez em quando os vidrinhos de esmalte apareciam entre as almofadas do sofá ou debaixo de uma estante,
para onde tinham rolado depois de caírem no chão e serem
esquecidos.
Ela estava sempre tentando pintar minhas unhas também, mas eu
não gostava do jeito como o esmalte lascava depois de algumas
horas, fazendo os dedos parecerem desleixados.

Black Hair- Isaac WalterWhere stories live. Discover now