passeio (pt 2)

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– Você vai gostar disso – disse ele, me lançando um olhar por
cima do ombro.

E ele estava certo.
Levou só cinco minutos para chegar à clareira, mas eu soube
quando chegamos lá. O mundo ao meu redor parecia ter saído de
um conto de fadas. Acima, um rio na floresta terminava em uma
pequena cachoeira, e a piscina no fundo formava um lago cristalino.
O sol refletia na água, fazendo-a brilhar como vidro, e a vegetação
ao redor estava coberta de gotas de água cintilando como pequenas
esmeraldas.

Os Walter tinham criado uma praia com areia branca, e a água
batia na costa como se fosse o oceano. Havia duas cadeiras de
praia azuis enfiadas na areia, bem-posicionadas, e, atrás delas, uma
mesa de piquenique na sombra. Uma árvore perto da borda da
piscina tinha tábuas de madeira pregadas para poder subir no galho
grosso pendurado em cima da água. Isaac sorriu, tirou a camiseta e
trepou na árvore como uma criança.

– O que você está fazendo? – perguntei, embora já soubesse a resposta.

Isaac gritou e foi seguido de um splash ao cair na água como uma
bala de canhão.

– Meu salto foi bonito? – perguntou ele ao emergir.

Dei de ombros.
– Ah, eu daria uns quatro e meio.

– De cinco.

– De dez – respondi, observando-o andar pela água.

– Beleza, me senti julgado no America’s Got Talent – disse ele,
voltando para a prainha. – Vamos ver se você se sai melhor.

Tirei as sandálias e mergulhei o pé na água para testar a
temperatura só para tirá-lo instantaneamente.

– Você tá doido? – perguntei, surpresa por não ter uma fina
camada de gelo cobrindo a piscina.

Um sorriso alarmante surgiu no rosto de Isaac.

– Talvez um pouquinho – admitiu ele antes de correr para a frente e travar os braços ao redor da minha cintura.

Levou menos de três segundos para que tudo acontecesse, mas
meu corpo reagiu no mesmo momento, todos os meus músculos se
tensionando a fim de se prepararem enquanto eu voava pelo ar. A
princípio, quando atingi a superfície da água, não senti nada. Um
segundo depois, quando meu corpo mergulhou na lagoa gelada, a
sensação de alfinetes e agulhas correu por meus membros como
uma reação em cadeia. Fiquei tão surpresa com a coisa toda que
acabei engolindo um pouco de água. Emergi tossindo, sentindo
meus pulmões congelados.

– Seu mergulho foi instável. – Ouvi Isaac dizer. – Vou te dar um
dois, e isso porque tô sendo generoso.

– Eu te o-odeio! – Meus dentes batiam tanto que quase mordi a
língua.

– Eu sei – concordou ele, assentindo. – Acho que você já disse isso várias vezes hoje.

Se não estivesse tremendo com sacudidas grandes e violentas,
não teria deixado sua ousadia passar despercebida, mas só
conseguia me concentrar em uma coisa:

– A água tá gelada!

– Sim – disse Isaac, boiando de barriga para cima, as mãos
balançando para se manter na superfície, como se estivesse no
Caribe. – Mas é ótimo no verão, quando tá muito quente.

– Jura? – falei, sem botar fé. – Parece que eu vou ter hipotermia.

– Não seja tão infantil – disse Isaac antes de mergulhar na água
como um pinguim.

Os Walter devem ter DNA de urso-polar , pensei enquanto dava
algumas braçadas em direção à terra firme. Eu tinha certeza de que
estava ficando roxa.

Black Hair- Isaac WalterWhere stories live. Discover now