Capítulo 8 - Luto

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Caleb

Volto para casa a pé com o Caio, moramos perto um do outro porém a casa dele é duas ruas acima do nosso prédio.
Quando saio do elevador o meu celular toca no bolso da calça, abro a porta do apê e so depois que entro e a tranco de volta é que atendo o celular.

ㅡ Opa! ㅡ digo tirando os tênis e deixando minha mochila no chão ao lado da porta.

ㅡ Já chegou em casa? ㅡ escuto a voz do meu pai do outro lado da linha.

ㅡ Acabei de chegar, por quê?

ㅡ Só pra te lembrar de passear com o Batata hoje á tarde, ele parece tá um pouco agitado.

ㅡ Pode deixar.

ㅡ Beleza. Não esquece que a comida tá na geladeira, e põe algumas roupas para bater na máquina de lavar. Se tiver dever de casa faça depois do almoço para não deixar para última hora, acho que eu chego às sete horas como sempre, não precisa se preocupar com a janta pois devo levar alguma coisa. ㅡ diz tudo muito rápido e eu apenas balanço a cabeça em concordância mesmo sabendo que ele não está vendo ㅡ Se cuida aí, qualquer coisa me liga.

ㅡ Tá bom, pai, fica tranquilo. Até mais tarde. ㅡ espero ele desligar e abro a porta da varanda onde costumamos deixar o Batata, ele logo corre em minha direçao e pula em mim, faço carinho nele e me jogo no sofá em seguida.

Começo a refletir sobre como tudo mudou depois da partida da minha mãe, a casa ficou mais silenciosa, ㅡ o que para mim devia ser bom, mas ao lembrar do motivo o silencioso é agoniante ㅡ o Batata de vez em quando entra no quarto dos meus pais e procura por ela, eu sinto falta das broncas e sermões, e meu pai tenta lidar comigo da mesma forma que ela fazia...
Me manda lavar as roupas e fazer as demais tarefas de casa e da escola, e fica me lembrando do que eu preciso fazer porque sabe que sou tão esquecido quanto ela era.

Mesmo que por um segundo eu desejasse esquecê-la seria impossível. Em toda parte dessa casa, os lugares que frequentamos, o que fazemos... Em tudo ela está, tudo lembra o tempo que passamos juntos com ela e infelizmente o vazio que ficou nos deixa perdidos.
Parece que sem ela nada do que fazemos é certo.

Me lembro do conselho que a Garcia deu para o meu problema "tempo de chorar e tempo de sorrir", por mais que suas palavras tenham sido o que eu precisava ouvir, parece que o tempo de "sorri, de se alegrar" não virá para mim.
Na minha visão... Eu não vou ter sucesso na vida como as outras pessoas, no fundo confesso que eu gostaria de me tornar fotógrafo, ter uma boa vida financeira, quem sabe construir uma família... Mas são coisas fora de cogitação quando percebo que isso depende de mim, tudo que depende de mim tem um final negativo.

Porque eu não faço nada certo, consigo sempre estragar tudo que há de bom.

🕓

Quis faltar a aula hoje pela minha total falta de vontade para levantar da cama, mas o meu pai não permitiu e antes que jogasse um balde de água gelada no frio congelante que está, em cima de mim eu levantei e me arrumei em poucos minutos.
Parece que algumas coisas nessa manhã amanheceu cooperando com o meu humor, o tempo chuvoso e frio e as roupas totalmente de cor preta que estavam mais fáceis de vestir quando fui escolher, ㅡ inclusive a minha touca que tinha sumido semanas atrás, apareceu do nada ㅡ mesmo com o uniforme branco da escola por baixo do moletom preto, minha roupa claramente dizia "luto".

Afinal, todos os dias tem parecido dizer "luto" desde... Vocês sabem. Eu não poderia estar diferente então.

ㅡ O que aconteceu? ㅡ Caio pergunta assim que tira um dos fones do meu ouvido e me encara sério.

O Amor que vem do AltoWhere stories live. Discover now