Capítulo 121

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Capítulo 121 - Jogador

Passo a mão na barriga da Lorena, que dorme nos meus braços, e espiro fundo próximo do pescoço dela, pra sentir a porra do cheirinho que me traz um pouco de paz.

Na época que nós ficamos separados eu sentia falta disso todo dia. Vivi o inferno na terra longe dessa mulher. O mundo pode tá pegando fogo lá fora, se tiver eu e ela nessa cama, eu tenho força pra fazer o impossível.

Demorou pra caralho pra ela conseguir pegar no sono. Fiz de tudo pra ela descansar, mas eu mesmo não consigo nem fechar o olho pensando no Chocolate e na Kemilly nessa missão que eu botei eles.

Ouço o vibrar do celular na mesinha de cabeceira e estico o braço pra tocar no aparelho. Lorena vira na cama, deixando a barriga linda pra cima e meu coração parece que não deixa eu esquecer um segundo o quanto que eu amo essa mulher e essa criança.

Essa vida sempre foi meu sonho e não vou deixar ninguém abalar nós três.

Pego o celular e vejo mensagem do Pretinho avisando que Chocolate e Kemilly chegaram na favela. Respiro fundo, levanto da cama, calço o chinelo e desço pra encontrar os dois na frente de casa.  

— Caralho, os dois tão vivos — olho pra Kemilly apoiada na moto e o Chocolate já mais perto do portão.

Confesso que meu deu um puta alívio ver os dois bem, porque eu meti eles numa responsa fudida.

— Toma, aproveita que a patroa tá dormindo — Pretinho me estende um baseado e eu pego, rindo. Desde que a Lorena engravidou eu não tenho fumado muito perto dela pra não dar vontade nela.

— Salvou, menor — olho pra Kemilly que sorri, mas o Chocolate continua sério e do jeito que eu conheço esse moleque, sei que vem problema — Manda teu papo, Chocolate, fica me olhando com essa cara aí. Deu tudo certo com os cara lá que te levou?

— Deu, po. Os caras são parceiro, teve k.o nenhum com isso não. Parada foi outra, vim direto pra cá por isso — acendo o baseado enquanto ouço ele dizer — Nós entramos de boa, rodamos um pouco por lá aí tu não acredita quem eu vi... — levanto o olhar pra ele de novo — Sabonete.

— Aquele que tava na segurança do Dom um tempo atrás? — solto a fumaça e franzo a testa.

— Esse aí mermo. Aí eu fiquei na merda né, porque o moleque me conhece, já troquei ideia com ele uma vez que nós tava de plantão — Chocolate olha pro Pretinho que confirma — Pensei em meter o pé logo, mas precisava conferir e, mano, sei nem como te falar essa parada, Chefe.

— Mando o papo logo, o Dom tava lá? — sinto meu sangue ferver com a possibilidade e trago o baseado mais uma vez tentando acalmar meu corpo.

— Tava.

— Caralho... — ouço o Pretinho xingar baixo, mas eu mesmo não consigo ter uma reação.

Não é como se eu esperasse ou que essa possibilidade tinha passado na minha cabeça, mas depois das facadas que nós tomou, as paradas não me surpreendem mais. Meu padrinho e sogro matou meu irmão e tentou matar minha mulher, não tenho mais fé em ninguém.

— Mais o que? — Olho pro Chocolate e pra Kemilly.

— Nada, nós veio avisar assim que deu... Demorou mais um pouco porque o filha da puta do Sabonete ficou em cima da Kemilly.

— Tu falou com ele? — Pergunto e ela concorda.

— Ele chegou em mim, mas tava de plantão então não deu pra ele tentar nada.

Passo a mão no rosto e penso na Lorena dormindo lá em cima sem nem imaginar que mais uma pessoa fingiu confiar nela pra tentar crescer.

— Sei nem o que te falar, Chefe, papo reto — Chcolate passa a mão na cabeça — Fiquei o caminho todo pensando nessa porra, mas te juro que não tem erro, era o Dom, eu olhei bem.

— Era ele — Kemilly me olha com confiança — Quando tava saindo eu reparei bem, era ele. Tanto que os caras esvaziaram o camarote pra ele, só que não tinha como eu pegar o celular quando fiquei de frente porque o Sabonete tava me secando.

— Confio em vocês, po. Mandei os dois nessa missão por isso mermo, sei que com vocês não tem erro — desço os degraus e bato nas costas do Chocolate — Não tem k.o, mano. É sempre assim, eles tentam, mas um dia a vida mostra quem tá com nós e quem não tá. Nosso bonde vai ser sempre nós aqui, o resto que tiver a favor de nós vai ser bem tratado, quem tiver contra, vai se fuder no meio do caminho.

— Qual vai ser agora? — Pretinho apagou o baseado dele e jogou o fuzil pra frente.

— Tenho que pensar — dou o último trago — Tem uma criança envolvida nessa porra e ele tem o domínio da facção ainda.

— Como nós vai provar essa porra? Porque é óbvio que ele vai se fazer de sonso, ele não vai assumir isso nem fudendo — Kemilly amarra o cabelo e olha em direção a minha casa.

— Chegaram já? — ouço a voz da Lorena e vejo ela caminhando até a gente — Foi tranquilo?

Ela tá vestida na minha camisa do flu porque fica larguinha e um short de academia, a carinha de sono mostra que conseguiu descansar um pouco.

— Dormiu bem? — pergunto antes de pegar na mão dela com o anel da inicial do meu vulgo.

— Dormi, mas teu filho me acordou — sorri de leve e olhar pra Kemilly, fazendo um biquinho de quem tá estudando a postura da cria dela.

— E como foi lá? — pergunta de novo, dividindo o olhar entre os dois que me olham sem saber o que dizer.

— Loira — chamo e levo a mão até o rosto dela, tirando uma mecha de cabelo do olho. Ela me olha nos olhos me estudando e eu escolho dizer verdade, porque esse é o nosso combinado. Nós dois somos picas separados, mas juntos somos mais — Kekel e Chocolate viram o Dom e a rapaziada dele lá na Vila Aliança.

Sonho dos crias [M]Where stories live. Discover now