Com amor, Eloise

Capítulo 8

Eloise

Minhas mãos suam de ansiedade. Talvez eu esteja cometendo um ato inconsequente, talvez me arrependa, mas nada é mais suave do que o sabor da liberdade. Mesmo que seja por um breve momento, estou me sentindo dona de mim mesma. Eu não tive coragem de ir contra as regras sociais para manter minha amizade com Theo, mas dessa vez, estou destemida. Não estão todos vivendo sua vida como bem querem, por que eu não tenho direito de tomar uma única ação que seja da minha vontade?

Apesar do meu ímpeto, depois de um tempo de viagem comecei a ficar nervosa, não que estivesse arrependida, mas já é tarde demais para voltar atrás. Estou indo sozinha para a casa de um homem, não é algo que acontece todo dia. Acabei tirando um cochilo e quando acordei o sol já estava dando seus primeiros sinais e uma leve claridade entrava pela janela. Havíamos chegado. Romney Hall não é muito longe de Aubrey Hall, então se ele for algum tipo de louco eu posso voltar para casa. Mas eu sei que essa probabilidade é mínima.  

Está muito cedo, espero que ele esteja acordado para me receber. Desci da carruagem com minha pequena mala observando o lugar enquanto caminho até a entrada. É uma propriedade grande e muito bem cuidada, é possível ver um belo jardim e um lago bem próximo da casa. Um bom lugar para morar. Respirei fundo antes de bater a porta e demorou alguns minutos até que alguém aparecesse, o mordomo, evidente. O rosto dele denuncia seu espanto. Lembrei de que deveria ter avisado quando vinha, mas como sempre agi por impulso. Ele me disse para esperar na sala que chamaria o Sir Crane. Sentei-me no sofá e percebi que o interior da casa não é tão cuidado quanto o exterior, a decoração é um pouco ultrapassada e os móveis são de qualidade, mas antigos. Mesmo assim eu gostei. Estou tão curiosa para vê-lo, imagino a reação dele sabendo que aceitei sua proposta e estou aqui. Olhei em volta batendo os dedos contra minha coxa, espero que ele venha logo.

Phillip

O sol ainda não havia raiado por completo quando me levantei. Não gosto que criados que me vistam ou coisa do tipo, gosto de estar só, gosto da penumbra que existe antes do sol nascer, principalmente quando o dia está chuvoso. Nem sempre foi assim, na época da faculdade eu costumava ser mais alegre, talvez porque naquela época eu era apenas o Phillip. O Sir Crane não vê tanta graça na vida.

Fico imaginando se Eloise recebeu minha carta, pelas minhas contas não tarda dessa semana. Terei que esperar mais alguns dias até sua resposta que espero ser positiva. E então farei os preparativos para sua chegada. Quero a casa mais limpa do que nunca, vou colher as mais belas flores para os vasos, já que ela parece gostar, mandarei a cozinheira fazer os melhores pratos que conhecem para as refeições e ela ficará no melhor quarto. E evidente, vou procurar alguma dama de companhia, embora acredite que ela traga uma. Sua família não permitiria que ela viesse sozinha. 

Quase não recebo visitas, então gostaria que minha convidada fosse tratada da melhor forma possível. Olhei no espelho da penteadeira. Talvez eu deva fazer melhor a barba, creio que dará uma imagem mais londrina, quem sabe comprar algumas roupas novas. Desde que me tornei viúvo descuidei-me um pouco da minha aparência. Talvez eu não deva me preocupar tanto, será apenas a visita de uma amiga.

Uma amiga que desejo que se torne uma esposa, quem sabe. Suspirei. Ela é uma Bridgerton, mora em Londres, frequenta os melhores bailes, tem quatro irmãos homens ( me disse em uma carta que eles seguem a ordem alfabética, o que achei bem original) se eu desejo que ela se case comigo terei que me esforçar muito mais que isso.

Hoje passarei o dia na estufa plantando as novas sementes que desenvolvi, não posso usar nada elaborado demais, uma camisa e um colete vai servir, já que vou sujar-me de terra. Coloquei minhas botas e sai apressado do quarto, antes que meus filhos acordem e venham atrás de mim. Deus sabe como são manhosos quando acordam.