7. Hilltop.

104 14 16
                                    

Um dia de viagem era a distância de Alexandria até Hilltop, a comunidade de onde Paul Rovia dizia ter vindo e onde ele residia. O homem em questão tinha sido encontrado por Rick e Daryl durante uma busca por suprimentos que não teve nenhum outro rendimento além do homem de cabelos longos sendo levado para a enfermaria em Alexandria. Tinha sido Denise a atendê-lo, dada a hora da noite e portanto o fato de quê Esme estava em casa, tendo um total de zero interações com ele até então, mas Maggie tinha convidado Esme para ir junto com eles conhecer a tal Hilltop. Ela não disse não.

Mas depois de doze horas sentada naquele trailer, oficialmente metade da viagem, Esme começou a se perguntar porquê aceitou ir. Talvez não quisesse dizer "não" para uma grávida, mas essa grávida não podia ter lhe pedido outra coisa?

O jeito de Daryl de se sentar ocupava mais espaço do que precisava, ou essa foi a impressão que Esme teve depois de horas dentro daquele trailer sem fazer nada além de olhar para o chão, quando não estava cochilando. Era sobre isso que estava incomodada, na verdade. Odiava ficar tanto tempo dentro de um veículo fechado. A ansiedade lhe provocou inquietação, e sua inquietação começou a incomodar o Dixon que, sendo como era, não aceitava quieto.

Os dois passaram boa parte do tempo cutucando um ao outro até cansarem, Daryl resmungando na maior parte das vezes. As vezes, ela voltava a empurrar o braço dele com o cotovelo, e ele devolvia empurrando a perna dela com a dele. Não tinha nada demais acontecendo, mas os dois pareciam se esforçar para se incomodarem com a presença um do outro. Abraham riu calorosamente quando o trailer passou por um buraco no trajeto, e graças a isso ele pôde assistir Esme cair com as costas sobre as pernas de Daryl, ao tentar dar outra cotovelada nele. Esme não poderia ter se levantado mais rápido, recebendo uma careta em desaprovação dele e fazendo o mesmo em resposta.

— Vocês parecem duas crianças. – repreendeu Maggie, embora seu rosto tipicamente gentil desse a impressão de que ela queria rir.

...

Emburrados pelo resto do caminho e encolhidos em cantos opostos do banco acolchoado, Daryl e Esme se mantiveram em silêncio para evitar novos conflitos entre si. Não voluntariamente, mas com um pequeno incentivo de Michonne, quem tinha lhes chamado a atenção uma vez e, convenhamos, não havia uma alma viva que não respeitasse o poder que Michonne exalava de tudo sobre ela. Seu jeito de se comportar, de falar... Tudo sobre ela inspirava poder.

— Chegamos. – Paul finalmente anunciou, aliviando o clima dentro do trailer depois do que pareceu uma eternidade.

Os sapatos de Esme deslizavam no chão por causa do barro. Estava evitando pensar que a qualquer momento isso poderia a fazer cair sentada na piscina de lama que era a entrada de Hilltop, isso quando seu pés não afundavam. Esme também não deixou de reparar nas lanças nas mãos dos homens de guarda no portão, enquanto eles discutiam com o grupo.

Principalmente com Dixon, na verdade, que não deixava uma única provocação passar sem revidar. Não confiar em Jesus – ironicamente o apelido do cabeludo de olhos claros e touca que vinha incomodando Daryl e Rick desde o dia anterior –, era até aceitável, mas não via necessidade naquela discussão. Mas não iria entrar nela: deixou os dois homens com lanças e o caçador com eles rosnando uns contra os outros, enquanto tentava analisar as lanças e se quem as portava realmente tinha capacidade para arremessá-las contra o grupo.

— Eles são dois, nós somos sete, e temos mais cinco dos deles conosco. Um médico no meio.

Ela costatou para si, chamando a atenção de Rick e de Daryl. O olhar dela era tranquilo, até divertido. Nunca pensou que iria viver para ver um mundo onde lanças tinham voltado a ser consideradas armas em uso ao invés de decoração.

— Esme 'tá certa. Ninguém vai fazer nada contra vocês, vocês estão em vantagem aqui. – Jesus concordou em uma tentativa de tranquilizar a todos, se virando para os homens no portão e gritando: – Abram!

...

Tinha duvidado que Daryl iria tomar banho, como todo o grupo foi "orientado" a fazer assim que chegaram, mas parecia ter tomado, o que extinguiu todas as piadas que Esme tinha em mente. Gregory causou uma péssima impressão, tirando a paciência do próprio Rick, que chegou ao ponto de pedir para que Maggie negociasse com ele em seu lugar. Esme não poderia gostar menos de Gregory após notar o teor do interesse dele em Maggie, estreitando os olhos em uma reação particularmente incomum vindo dela: estava expressando exatamente o que sentia. Estava enojada por Gregory e sua insistência em forçar uma interação com a mulher de Glenn, mesmo que ela tentasse se esquivar e no entanto, fosse a única que ele iria ouvir. Queria proteger a primeira amiga que fez dentre aquelas pessoas, e protegeria todos eles.

Após longos minutos esperando, a negociação finalmente parecia ter acabado e Maggie saiu do escritório de Gregory para se juntar aos demais, aliviando o coração de Esme ao fazê-lo. Os tópicos a seguir foram como Jesus precisava de alguns dias para convencer Gregory a mudar de idéia e fazer um acordo com o grupo de Alexandria, que precisava de comida – sendo a escassez e até a falta de comida um problema familiar para Esme, mas ainda não sentia que tinha direito de opinar, sendo ela uma adição relativamente recente ao grupo.

A seguir, uma dúvida em comum surgiu: Quem era Negan? Algo que interessava Esme e ela tinha de admitir, porque tinha ouvido muito esse nome ultimamente. Por exemplo, quando Sasha, Abraham e Daryl encontraram aqueles motoqueiros na estrada, e agora, em Hilltop.

Quando Jesus contou como o tal Negan agiu, invadindo Hilltop e matando um garoto de dezesseis anos para demonstrar poder através do temor – e assim consequentemente ganhar algum respeito ali, além do acordo por metade dos suprimentos, Esme sentiu seu coração gelando dentro do peito. Seus lábios se partiram em um suspiro repentino e audível, breve como um susto. Alguém notou seus olhos levemente arregalados, encarando vagamente um ponto fixo.

— Tudo bem, Esme? – Michonne pareceu preocupada.

— O garoto tinha praticamente a idade do Carl, e alguém simplesmente o matou a sangue frio. Não é assustador? – Articulou a cabeça para olhar para a mulher de dreads.

Michonne pareceu aceitar sua justificativa, embora o olhar de Daryl ainda fosse o mais julgador e desconfiado possível, queimando sobre Esme como se pudesse enxergar através dela e ver o que não estava contando. Era uma reação frequente a tudo que ela fazia, ele não confiava nela e deixava isso claro. Mas ele também não tinha confiado em Jesus no começo, e da mesma forma como não confiou em Esme e ainda assim Rick a admitiu ao grupo, ele estava confiando em Jesus. Então não adiantaria se queixar: Ele quem a levou até Rick, e o xerife confiou nela. Não se tinha muito o que fazer agora.

Way Down We Go [TWD]Where stories live. Discover now