Capítulo 9 - Ato I: Falhas e Oportunidades

28 5 25
                                    

Os dias no Castelo pareciam todos iguais

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Os dias no Castelo pareciam todos iguais. Havia luxos, belezas e requintes, todos adoráveis aos olhos curiosos. Bailes, saraus, espetáculos. Todo o reino parecia igual.

Os meus dias também eram iguais. Eu acordava e era rigorosamente penteada, vestida e maquiada. Descia as escadas centenárias e me sentava no canto inferior da mesa, às vezes com Victor, sentado no lado superior, às vezes sozinha. Leopold quase nunca estava presente, entretido em estratégias e prováveis combates. Em seguida, Victor se despedia, deixando-me acolhida pelo silêncio do local. E pelos momentos seguintes, bordava, pintava e tocava, alheia ao sentimento sufocante que me rondava.

Eu não sabia que estava imersa em um mar de solidão até reencarnar neste mundo. Para mim, estar sozinha era uma condição natural para uma garota que perdeu sua mãe muito cedo, e que tinha um pai que não ligava muito para o seu bem-estar. Não sabia como nomear aquela pontada aguda que às vezes, quando eu encontrava refúgio nas flores, tocava o meu coração.

Estar alheia aos sentimentos significava não saber como lidar com os sentimentos das outras pessoas. E reencarnar em um mundo onde centenas de sentimentos me atravessam como foguetes em pleno ar, é equivalente a cair de um penhasco sem paraquedas. A queda é iminente, e dolorosa.

Naquele momento, senti faíscas me acertarem na mesma proporção de fogos de artifício. Elas borbulharam e se alastraram, encontrando abrigo no meu cérebro turbulento. Ao fundo, o burburinho dos alunos evidenciava o que estava acontecendo. Na porta, o corpo inerte de Aono dilacerava o meu coração.

- Aono, espera! - Pedi, seguindo o garoto. O corredor caótico impedia que eu tivesse êxito. - Por favor, espera!

Desvencilhando-me, ultrapassei o engarrafamento de rostos curiosos, chegando ao telhado aberto. O vento estava forte e constantemente balançava os fios do meu cabelo, por isso, quando o chamei novamente, as palavras pareciam voar em sua direção:

- Aono.. - Sussurrei, ensaiando um passo. - Você precisa acreditar que não foi eu que escrevi aquilo.

- Preciso? - De costas para mim, as feições do garoto estavam indecifráveis. Mesmo assim, o tom de mágoa em sua voz era nítido, além de um pouco de escárnio. - Não havia mais ninguém naquela sala. Devo acreditar que fantasmas escrevem boatos?

- Sim.. Não. - Pigarreei. - Eu não sei como isso aconteceu. Tenho uma certa desconfiança, mas..

- Eu não sou idiota. - Me cortando, Aono se virava em minha direção, encarando os meus olhos. Os dele, mas noturnos do que o habitual, estavam marcados com um crescente rancor. - Você não cansa de ser mesquinha? Tudo o que você faz.. É tão falso. Você é uma pessoa falsa. Vive em função de parecer mais do que é. Passa por cima de todos por aprovação. Eu tenho nojo de respirar o mesmo ambiente que você.

Aquelas palavras me acertaram com a intensidade de um raio. Catastrófico e ensurdecedor. Na minha mente, milhões de caquinhos de vidros perfuravam as memórias embaralhadas entre o passado e o presente. Sophie poderia merecer aquelas palavras, mas eu não era Sophie. Eu estava ali para consertar as coisas, mas estava piorando tudo? O que eu faria se estivesse no Castelo?

Minha Nova Vida Sendo a EstrangeiraWhere stories live. Discover now