Capítulo 1

452 26 3
                                    

— Abby, você sabe que se eu pudesse te ajudar eu o faria, mas não posso continuar pagando por seus serviços. Depois que papai morreu minha renda se reduziu muito — fala tristemente Elena, Abby não entendia como não tinha se casado ainda sendo tão bela e simpática.

Às vezes, sentia inveja dela. Gostaria de saber como era ser assim. Nem mesmo seus pais, que Deus os tenham, a queriam por perto. Abby nascera com uma mancha azul acinzentada horrível que cobria boa parte do lado esquerdo do seu rosto e seu olho do lado esquerdo era levemente mais escuro que o direito. Ela era feia e ninguém precisava dizer o contrário, não que algum dia alguém tenha dito que ela era bonita.

— Eu sei, senhorita Elena. Eu entendo, de verdade — e ela entendia mesmo, passara pela mesma situação quando seus pais morreram de forma repentina e a deixara sem quase nenhum dinheiro e com uma irmã mais nova.

Elena sorriu de um jeito triste. As duas se despediram e Abby saiu da casa em que trabalhou por cinco anos. O senhor e a senhora Davies a tinham acolhido quando ela era apenas uma adolescente de 17 anos que tinha uma irmã de 13 anos para criar.

Abby se sentia perdida, não fazia ideia do que iria fazer para sustentar si própria e a irmã, que se recusava a trabalhar pois tinha esperanças de que iria se casar com um nobre e acreditava que o trabalho iria deteriorar sua beleza. Não poderia trabalhar como vendedora na feira pois os comerciantes acreditavam que sua aparência iria afastar os fregueses, no albergue também não porque a esposa do dono achava que ela era fruto do coisa ruim.

Ela aproximou-se de sua casa e ao olhar para faixada viu ervas daninhas se erguendo para todo lado, inclusive na sua amada horta, e sentiu raiva e certa tristeza. Victoria, sua irmã, não poderia se dignar nem de fazer esse trabalho leve de arrancar essas plantas malditas antes que dominassem sua casa?

Sentia-se tão sozinha. Ela queria se casar e formar sua própria família, mas ninguém se interessava por ela, tanto é que evitava sair muito para escapar dos olhares maldosos.

Se arrastou para dentro da casa que foi de seus pais. Não era grande, mas era mais que suficiente para duas mulheres. Nunca ouve ostentação em sua vida, mesmo quando os pais eram vivos, mas nos últimos anos as coisas ficaram realmente ruins. Ela tinha conseguido um emprego, mas sua irmã não e Victoria gastava como se tivessem dinheiro sobrando, se sentia a maior estraga prazeres do mundo, mas não tinham como se manterem daquela forma.

— Victoria! — gritou. Uma jovem loira de grandes olhos azuis saiu da cozinha. Como era bonita sua irmã pensava Abby, talvez realmente um nobre se interessasse por ela e a tirasse da pobreza.

— Já voltou? — perguntou Victoria se dirigindo a uma cadeira na sala.

— Sim. E estou oficialmente desempregada — suspirou

— Tenho certeza que você vai arranjar outro emprego rapidinho, Abby! — Abby apreciava o incentivo, mas queria mesmo é que sua irmã começasse a se mostrar útil. Ela tinha deixado de ser criança a muito tempo.

— É o que espero. Mas e você?

— Eu o quê?

— Quando você vai arranjar um emprego? Os comerciantes não me contratariam, mas com você é diferente. Tenho certeza que eles a contratariam imediatamente — Victoria arquejou como se tivesse muito ofendida.

— Não acredito no que você tá sugerindo, Abigail Jones! — Abby apenas suspirou cansada.

— Esqueça então. O que você fez de janta? — estava morrendo de fome, mal poderia esperar para tirar aquela roupa suja, comer e dormir. Iria pensar no que fazer amanhã. Victoria tocou o pulso e deu um sorriso amarelo.

— Você sabe que eu não sei fazer nada, né? Eu estava esperando você voltar — Abby iria surta. É oficial. Ignorando a irmã seguiu para cozinha e pegou um pão que havia feito no dia anterior e passou geleia por cima.

Já entrando na cozinha Victoria começa a falar.

— Eu sei que você tá com raiva de mim, mas saiba que em breve vou tirar nós duas dessa miséria. O conde de Berkshire está voltando, é a minha chance de fazer um bom casamento — Abby se voltou para a irmã. Acabara de ter uma boa ideia.

— Sério? E como você sabe disso? — sorrindo amplamente Victoria respondeu.

— Todo mundo sabe que a temporada de Londres está chegando ao fim e é de praxe que os nobres venham para suas casas de campo, então deduzi que falta muito pouco para que ele volte. Ainda não sei como vou chegar até ele, mas escreva o que eu digo: eu vou me casar com George Wallace, serei a nova condessa de Berkshire. 

Renascer do Amor - Nicolle SouzaWhere stories live. Discover now