Melissa TRIBUTE

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A Melissa chegou à nossa casa em 2010. Lembro-me claramente: eu tinha cerca de catorze anos naquela época. Saímos de casa com o objetivo de retornar com um cachorrinho. Era o desejo da minha mãe naquela época. Nesse mesmo período  eu estava na oitava série, e não foi um ano muito agradável para mim. Estava em uma turma ruim e sem muitos amigos.

Fomos à Feira dos Importados de Brasília e encontramos uma lojinha que vendia cachorros de raça. Minha mãe decidiu e escolheu Melissa, um Lhasa Apso que, na época, tinha um pelo bem branquinho, mas que na adolescência se tornou marrom escuro. Lembro-me de carregá-la no colo no carro voltando para casa. No primeiro dia dela em casa, enquanto todos foram para a igreja, fiquei responsável por cuidar dela. Era tão pequena, com apenas alguns meses de vida.

Melissa nunca foi um cachorro tranquilo; era bem arrombada na maioria do tempo, sempre destruía tudo pelo caminho, desde sapatos e tênis até cadernos. Até mesmo o celular da minha irmã não escapou. Era um animal egoísta, preocupado apenas com seu próprio prato de comida. Lembro-me de uma vez, quando ela ainda era filhote, deixei cair um osso de frango do meu prato, e ela rapidamente o agarrou com os dentes. Preocupado com o risco de engasgamento, coloquei a mão na boca dela, resultando em um ferimento no meu dedo, um rasgo e na perda da unha. A cicatriz permanece até hoje. Também recordo uma visita do Batata por volta de 2013. Ao preparar um hambúrguer, ele o deixou cair no chão, e Melissa não hesitou em devorar sua refeição, deixando-o sem nada. Ficou com fome.

Melissa realmente tinha uma personalidade difícil, metida a brava. Ela era territorial e agressiva, avançando até mesmo na minha mãe, o que resultou em momentos dolorosos, como o dia em que minha mãe chorou depois de ser atacada por ela, se recolhendo ao quarto em lágrimas. Houve também situações perigosas, como quando minha mãe escorregou em bosta da Melissa na cozinha e quebrou a perna, precisando de 45 dias de gesso para se recuperar. Além disso, Melissa deixou sua marca em muitos dos meus tênis, destruindo até mesmo uma bota e um All Star da minha esposa quando começamos a namorar em 2015.

Mas tenho duas histórias de parceria com ela. A primeira foi quando quebrei o antebraço voltando de bicicleta da escola. Não imaginei que estivesse quebrado porque o braço parecia intacto, mas lembro que cheguei em casa com muita dor, suando e dormente. Fui para a cama dormir e lembro da Melissa deitando ao meu lado e lambendo meu braço quebrado, trazendo algum conforto e carinho. Isso foi em 2012.

Por volta de 2017, lembro-me da primeira e única vez que vi um fantasma, e Melissa estava ao meu lado, testemunhando o evento e até correndo atrás da assombração. Havia algo que ela sempre fazia e eu nunca entendi o motivo: se sentava na frente da porta do meu quarto e ficava olhando para o nada. Nunca descobri o que a atraía ali, mas ela repetia esse comportamento quase todos os dias, sempre na frente da porta do meu quarto. Nunca dentro, sempre na porta. Sempre considerei que pudesse ser algo sobrenatural, especialmente porque sentia uma energia estranha em meu quarto. Experimentei muitos pesadelos e episódios de paralisia do sono lá, algo realmente perturbador.

Teve muitas outras histórias com a Melissa, mas a história acaba aqui. Melissa faleceu alguns dias atrás, aos catorze anos de vida. Não vou dizer que era um cachorro perfeito, sempre foi um tanto bagunceira, mas fazia parte da família. Me viu passar pelo ensino fundamental, médio, faculdade, namoros, saída de casa e casamento. Com 28 anos, metade da minha vida teve a presença dessa cachorra. Senti uma grande tristeza quando ela se foi.

Ainda mais pelo fim trágico, um tumor irreversível que levou ao sacrifício. Manter ela viva só prolongaria o sofrimento. Estava cheia de feridas, surda, não enxergava mais direito; até para comer, era preciso explicar onde estava a comida. Ou seja, estava na hora dela partir e descansar. Você era um membro da família, com um temperamento difícil ou não, era nosso mascote.

Descanse em paz. Melissa.

Tankando a Vida - Diário 2024Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt