Apenas uma Conquista - Jogadores #3

Capítulo 5

EVIE LOVELY

Confesso que perdi um pouco o foco entre comprar comida e voltar para casa. Deveria ser um trajeto simples e prático, não mais do que meia hora. O meu grande obstáculo foi a lojinha infantil que encontrei no trajeto, mais precisamente um conjuntinho amarelo de tricot na vitrine que ficará a coisa mais linda no bebê da minha prima.

Eu precisei entrar na loja, uma necessidade real e totalmente justificada. Minha prima ficará tão feliz com o presente. Os presentes, para ser sincera. Eu não consegui me limitar ao conjuntinho na vitrine. Havia tantas opções que não pude escolhar apenas uma. 

É por isso que não me surpreendo quando estaciono em frente ao meu prédio e vejo Kane encostado em seu conversível mexendo no celular. Salto para fora da minha caminhonete vintage segurando muitas sacolas de roupinhas de bebê e de comida.

Kane vem até mim ao notar minha presença me ajudar com as sacolas. Eu esperava que ele pegasse apenas uma parte do peso, como um verdadeiro cavalheiro, mas Kane pega tudo como se não pesasse mas que um disco de hóquei.

— Obrigada pela ajuda. — Digo ao passar por ele e correr para abrir a porta. — Desculpe pela demora, eu me distrai no caminho com uma loja de coisas de bebês.

— Eu não te julgo. — Fala ao passar pela porta de entrada e seguir para as escadas. — Comprei mini equipamentos de hóquei pela internet. Estou esperando chegar para que eu possa entregá-los ao Smith.

— Kelly vai enlouquecer de tanta fofura! — Sorrio ao passar por ele novamente e abrir a porta do apartamento.

Quando Kelly se mudou para o rancho do Smith eu praticamente ganhei seu apartamento. Confesso que o estilo é um pouco diferente do meu com toda a bomba de cores e texturas, mas não deixa de ser um espaço acolhedor e aconchegante.

— O que são essas latas? — Ergue o queixo apontando para um amontoado de latas de tinta no canto da sala enquanto ele deposita as muitas sacolas no sofá e eu aproveito para pegar as sacolas de comida.

— Kelly me autorizou a pintar o apartamento para ficar mais parecido com a minha personalidade.

Kane vai até as tintas e observa com atenção. Leva meio segundo até que as sobrancelhas se arqueem e ele não consiga esconder a surpresa ao ler "cinza", "branco", "rosa" nas latas. Rio de sua reação, organizando as porções de comida.

— Rosa? — Ele finalmente se manifesta.

— Gosto de rosa claro, acho que fica bem harmônico com cinza e branco. As decorações ficam lindas também.

— Não imaginava que você gostava dessa cor.

— Não sou fã de cores tão vibrantes como a minha prima, mas rosa é uma cor bonita.

— Quando o pintor vem para começar o trabalho?

— Você está olhando para a pintora. — Dou-lhe um meio sorriso e estendo a caixa com macarrão e frango para ele. — Comida chinesa.

— Obrigado. — Aceita o hashi que o ofereço. — Vai pintar tudo sozinha?

— Nada que um tutorial no youtube não ajude. — Prendo o hashi no macarrão. — Gosto de fazer esse tipo de trabalho, me sinto mais conectada com a casa. Parece besteira?

— Não. Trabalhos manuais são uma boa maneira de relaxar e se conectar com a sua casa nova. — Empurro as sacolas para um canto do sofá e nos acomodamos. — Aceita uma ajudinha para pintar?

— É claro que eu aceito! Trabalhar sozinha é bom, porém terminar mais cedo que o esperado é melhor ainda.

— Quando quer começar?

— Quando você pode vir? Você está no meio da temporada!

— Tenho um jogo na quinta, mas estou livre no fim de semana.

— Bom. — Como um pouco de macarrão com calma antes de entrar no assunto de verdade. — O que você queria falar?

— O que?

— A sua vinda até aqui. Você disse que queria conversar e aqui estamos.

— Eu queria te pedir desculpas pela abordagem no churrasco, não foi legal da minha parte e eu sinto muito.

— Está tudo bem. — Respondo com sinceridade. — O que tivemos foi divertido, mas voltar para Missoula me fez perceber que estou procurando por coisas que não pareciam importantes antes.

— Como assim?

— Eu quero criar raízes. Passei a vida inteira me mudando de uma cidade para outra, de um estado para o outro. Tudo sempre foi passageiro para mim e cheguei a uma fase da minha vida em que sinto falta de ter um lugar para chamar de lar, pessoas que se importem comigo e ter relações de verdade. Não foi algo que você fez ou sobre a nossa noite, Kane. Acho que estamos buscando coisas diferentes por agora.

— Pensei que não acreditasse nas regras da sua avó.

— E eu realmente não acreditava, mas estou percebendo que vovó sempre esteve certa e eu que não tive paciência para esperar as coisas acontecerem como deveriam acontecer. O ideal exige paciência, tudo é um processo.

— Amigos, então? — Kane pergunta. — Não precisamos nos evitar mais.

— Amigos. Sem benefícios.

— Ok.

Por algum motivo eu sabia, no fundo da minha mente, eu sabia que não estava ok e que não conseguiríamos manter a parte de "sem benefícios", mas eu preciso ser firme se realmente quero um relacionamento com alguém.

Kane dificilmente será esse alguém.