Capítulo 3

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EVIE LOVELY

— Relacionamento sério?! — Kelly praticamente grita e preciso olhar ao redor para garantir que nenhuma cliente está ouvindo a nossa conversa. — Está falando sério?

— Sim.

— Como?!

— Será que você pode se surpreender mais baixo? — Olho ao redor outra vez. — Eu não sei, acho que pode ser uma experiência interessante.

— Mas você sempre fugiu de relacionamentos.

— Eu sei, mas estou curiosa sobre o mundo dos relacionamentos. — Dou de ombros. — Por que não?

Kelly me olha pelo que pareceu uma eternidade. Uma mão apoiada no balcão e outra apoiada em sua cintura, hoje ela está usando um vestido rodado azul claro extremamente fofo. De repente, pareceu que uma pequena chave se virou em sua mente e minha prima abre um lento sorriso conhecedor.

— As regras da vovó.

— O que?

— Você voltou a acreditar nas regras da vovó.

— Tudo bem, eu confesso que não as acho tão impossíveis assim. Pelo menos não acho mais.

Seu olhar desconfiado deixa claro que Kelly tem muitas perguntas a fazer, porém se contenta em concordar com um movimento de cabeça. Uma das clientes na loja a chama e observo como ela se afasta com uma clara expressão de "essa conversa ainda não acabou, mocinha".

Fui uma jovem sonhadora que acreditava até demais nas regras da vovó mas nunca teve paciência para segui-las, tentando modificá-las para sua própria interpretação e tempo. É óbvio que sofri por mais corações partidos no ensino médio do que poderia contar até desistir das regras bobas.

Por que manter o manual bobo da vovó para encontrar o homem certo? Homens certos não existem. Não é como se um belo dia você encontrasse o homem ideial dos seus sonhos... certo? Alguns meses atrás eu responderia um "não" com muita convicção, mas hoje? Minha prima nunca deixou de acreditar e seguir as regras da vovó e encontrou o cara dos sonhos com um rancho. 

Que tipo de jogador de hóquei tem um rancho?

É claro que vovó discursava bastante sobre os níveis de cobrança. Não é possível que uma pessoa carnívora sonhe em se casar com uma vegana, entende? Não dá para pedir ao universo um homem extramamente sociável se você é do tipo que tem ciúme de qualquer coisa. As pessoas são como são, ela dizia, mudar o imutável resultará em sofrimento.

Pego minha bolsa com os equipamentos, me despeço de Kelly e corro até meu carro. O ensaio com os noivos está marcado para o final da tarde, assim conseguimos brincar com as luzes do céu durante o entardecer. Durante o trajeto não paro de pensar sobre meus planos de voltar para Montana antes mesmo de Kelly ligar pedindo ajuda com a loja.

Passei grande parte da minha vida em constante mudança, sempre trocando de escola, encaixotando minhas coisas e me preparando para recomeçar tudo em outra cidade. Papai era transferido de base praticamente todo ano e nunca era tempo suficiente para nos estabelecermos de verdade em um lugar. Não posso culpá-lo por fazer seu trabalho por nosso país, mas as mudanças atrapalhavam muito na minha vida social.

A maior parte das pessoas na escola já se conheciam desde a infância, os grupinhos eram oficialmente fechados para os novatos e todos os meus relacionamentos amorosos encerravam em poucas semanas. O mais longo terminou quando recebemos a notícia de outra mudança, estávamos na cidade há pouco mais de oito meses.

Na vida adulta minha rotina não mudou tanto. Eu ainda me encontrava em constante desejo de mudança, de costa a costa do país, variando dos climas praianos para a neve extrema, sempre procurando um lugar para me estabelecer. Kelly sempre foi minha melhor e única amiga e em um último ato de mudança no país, eu estava voltando para Missoula e tentando me estabelecer.

A expectativa de criar raízes pela primeira vez aquece meu peito, fazer amigos e construir uma base aqui, mas se nada der certo, quando Kelly estiver bem para assumir a loja após o nascimento do bebê, posso tentar a vida no exterior. Quem sabe a felicidade que vovó sempre desejou para as netas não se encontra do outro lado do Atlântico?

O trajeto até o parque foi tranquilo e o casal apaixonado já esperava no estacionamento junto com alguns parentes próximos. O noivo estava empolgado, mas parecia não ter ideia de como agir; a noiva, por sua vez, mal conseguia parar quieta, enérgica e feliz como alguém que está segurando uma boa notícia por tempo demais.

Reservei um tempo necessário para explicar como funcionaria o ensaio e permitir que ambos conseguissem relaxar. É importante que o fotografado confie no fotógrafo e relaxe o máximo possível durante o ensaio. São esses pequenos detalhes que fazem a diferença em uma foto. A expressão corporal dita a beleza da fotografia.

Os registros ficaram lindos e confesso que me emocionei quando organizamos o momento das plaquinhas. O noivo segurava uma plaquinha com a data do casamento e a noiva tinha a plaquinha escrita "você vai ser papai". O céu estava no mais perfeito tom de laranja, os sorrisos em seus rostos eram relaxados e descontraídos, mas nada poderia me preparar para a beleza das fotos quando eles se viraram e o noivo leu a placa da noiva.

Consegui fotografá-lo chorando e logo em seguida o abraço e o beijo sincero dos dois, as cores quentes no céu contrastando com as roupas brancas que ambos estavam usando. Sinceramente, uma das sequências mais lindas que já consegui captar.

Espero que as fotos fiquem perfeitas após um bom tratamento antes de enviar para eles. O brilho nos olhos dos dois e os sorrisos emocionados me farão chorar outra vez quando estiver revendo as fotos no meu computador mais tarde.

O problema de ser uma fotógrafa emotiva e romântica.

Ao final, estava colocando meus equipamentos de volta no carro quando me lembrei de retirar o modo silencioso do meu telefone e já havia uma notificação de mensagem de Kane. Quando abri o chat, era um vídeo de uma coraruja com uma cantada barata. Era bobo, de humor pastelão, mas conseguiu me arrancar uma boa risada.

Apenas uma Conquista - Jogadores #3Onde histórias criam vida. Descubra agora