Capítulo 4

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Eles saíram quase ao mesmo tempo. O jardim estava quase vazio, o que os fez refletir sobre quanto tempo tinham passado ali dentro. 

Sentiam o corpo formigar. Uma adrenalina correndo nas veias. Os rostos corados eram difíceis de disfarçar e o calor noturno não se comparava ao que se instalava dentro deles. Faziam comentários típicos sobre o calor apenas para manter as aparências, mas não registravam uma palavra do que diziam. Suas posturas eram rígidas, como deveriam ser e seus rostos eram quase inexpressivos, mas os olhares falam mais que palavras. 

Levaram um susto quando um homem pareceu brotar do chão à frente deles. Se olharam rapidamente, recuperando-se da batida errada de seus corações. Tentaram reviver mentalmente a imagem que aquele homem poderia ter visto, mas optaram por não pensar nisso. Deus do céu, Kelvin sempre foi cuidadoso, principalmente agora, com sua reputação em jogo, como havia se permitido dessa forma?

Ramiro também estava surpreso com o seu lapso racional. Seu comportamento nunca seguiu os padrões da sociedade, mas também sempre foi cuidadoso com a imagem que passaria de si. Ninguém havia visto nada de comprometedor, mas qualquer pessoa poderia ligar os pontos se tivessem visto a entrada deles no labirinto ou ver seus rostos corados. 

Precisavam sair dali. Juntos ou separados, não importava. 

— Boa noite, cavalheiros. Vejo que já se conheceram. — Visconti falou com um tom simpático, mas havia um pouco de dúvida em seu olhar — Bom saber. 

Os dois estavam confusos. Era óbvio que eram conhecidos, mas por que isso seria importante para Visconti? Kelvin tinha uma suposição, mas acreditava fielmente que estava errado. Tinha que estar errado.

— Sim. — Ramiro confirmou — Mas qual o motivo da surpresa, Visconti? 

— Ah, você não sabe ainda. Kelvin, lembra do outro pintor que eu havia comentado com você? É este homem: Ramiro Neves. — Estendeu o braço, dando tapinhas no ombro do cacheado — Comentei esta noite com Kelvin sobre você, sem citar nomes, e sobre você ser uma das opções para a minha exposição. Aliás, este moço também é um forte candidato. Vocês dois estão me deixando em conflito! 

Se havia algo febril entre eles, certamente havia reduzido à temperatura normal. Eles se entreolham. Ainda havia desejo, mas também existia um toque de competitividade, um instinto que os via como uma ameaça. 

Alguém havia chamado Visconti, provavelmente Irene, e ele se retirou, se despedindo dos rapazes. O jardim agora estava praticamente vazio. O baile já devia estar acabando. 

— Visconti teceu vários elogios a você enquanto conversava comigo. — Kelvin falou, mas seu tom era um pouco irônico — Disse que suas obras estão bem posicionadas. Engraçado que nunca havia ouvido falar de você antes. 

— Assim como eu também não tinha ouvido sobre você. — Ramiro retornou, percebendo a mudança do clima entre eles. Entretanto, aquilo apenas acordava uma parte específica do seu corpo — Estou percebendo um pouco de sarcasmo na sua voz, Kelvin? 

— Não sei. Está? — Ele rebateu, com os olhos cheios de malícia e ironia. 

Ramiro deu um sorriso de canto que poderia facilmente manipular qualquer pessoa, mas o pintor não se rendeu. Percebendo isso, o cacheado se aproximou mais um pouco, controlando sua linguagem corporal e olhando para os lados rapidamente antes de sussurrar em seu ouvido: 

— Se me permite, devo dizer que você está muito atraente com esse seu sarcasmo e carinha irritada. 

— Você tem gostos estranhos. 

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