Capítulo 8

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— Então, Petra, conte-me… — Kelvin falou, pousando sua xícara de café no pires — Luigi San Marco. 

A pergunta claramente deixou a jovem incomodada. Remexeu-se na poltrona fofa, misturando agressivamente o açúcar em seu chá de camomila. O cabelo solto, diferente dos outros dias, e um lindo vestido de verão amarelo com fitas de cetim azul marinho. As bochechas mais coradas, um sorriso mais fácil e um pouco fora de órbita. Petra bateu a colher contra a louça fina portuguesa e a acomodou no pires. 

— O que tem ele? — Cínica, bebericou seu chá. 

— Bom, vocês claramente se divertiram no baile de carnaval. Estou enganado? — Kelvin perguntou escondendo um sorriso por trás de um biscoito amanteigado — Apenas fiquei curioso. 

— De fato, foi divertido. — A moça deu de ombros, exibindo um sorriso tímido e suas bochechas ficaram levemente rosadas, mas quase não havia empolgação em sua voz — Dançamos umas duas vezes antes de você desaparecer naquela noite. Onde você estava? 

— Nada de desviar o assunto aqui, Petrinha! — Interrompeu, balançando o dedo indicador e estalando a língua. — Quero que me diga as intenções desse Luigi com você. É um cortejo sério? 

Petra suspirou, soltando uma risada fraca ao ver aqueles olhos cor de mel brilhando com a possibilidade de uma fofoca. No fundo, sabia que seu amigo apenas estava feliz de saber que estava se aproximando de alguém. Sabia bem de sua insegurança sobre casamentos. Apenas temia que ele não entendesse caso dissesse quem, de fato, chamou sua atenção naquela noite. Não, ele não entenderia. 

— Ainda não sei. Uma dança não significa muita coisa, não é? — Falou, dando de ombros novamente. 

Se sua mãe visse a sua postura naquele momento, talvez a repreendesse com um beliscão na costela ou arranhando-a sutilmente. Estava inquieta na cadeira, incomodada tanto com o espartilho antiquado que usava quanto com o vazio em sua barriga. Olhava os biscoitos amanteigados no prato de Kelvin, seus favoritos. Poderia roubar um, ele não se importaria. 

Isso se Angelina não estivesse prestando atenção em sua alimentação e contasse cada passo dela para sua mãe. Balançou a cabeça, dispersando o assunto e encolhendo um pouco a barriga. Talvez assim ficasse mais magra, talvez a fome incomodasse menos. 

— Uma só, não. Já duas… — Falou erguendo as sobrancelhas e voltando a beber seu café, mas logo franziu a testa — Você está bem, querida? 

— Uhum. — Sorriu e logo fingiu uma timidez conveniente — Acho que você está certo mesmo. Talvez seja um cortejo. 

— Eu não tenho dúvidas. Seria um casamento muito vantajoso para você, com certeza. A família San Marco não é muito conhecida por aqui, mas nem precisa. Apenas o fato de ser rico já cobre qualquer origem, principalmente se for de outro país. Nunca ouvi boatos negativos sobre ele e também não frequenta o cabaré, o que já é um bom sinal. — Kelvin explicou, parecendo animado com a situação — Você gosta dele? 

Aquela pergunta pareceu pegá-la de surpresa, já que arregalou sutilmente os olhos e abriu a boca.

— Você citou tantas qualidades sobre ele para mim que fica até impossível não se interessar. — Respondeu com um pouco de deboche, revirando os olhos — Minha mãe já tem uma outra pessoa em mente, mas acho que San Marco pode fazê-la mudar de ideia. 

— Quem é a pessoa que ela cogita? 

— Ah, você não conhece. — Dispensou com uma das mãos, encarando sua xícara de chá quase vazia. Uma leve tontura a atingiu, a fazendo recortar na poltrona, mas ainda mantendo sua expressão simpática. 

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