Capítulo 6

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Observação: o instrumental acima é recomendado durante a leitura do baile para ambientar melhor, mas não é obrigatório.

vindo aí uma coisa muito forte...

Boa leitura ♡.

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15 de fevereiro de 1895. 

Ramiro estava sentado sozinho na mesa de desjejum. A casa era modesta, afastada das regiões onde comumente as pessoas mais ricas seriam encontradas. Morava a uma distância considerável dos cortiços, em um limbo social. 

Longe o suficiente para não ser uma escória; perto o suficiente para não ter influência ou significância. Sua cor da pele ainda era o obstáculo. Mesmo que houvessem leis que libertaram sua mãe e a si mesmo, ainda eram aprisionados pelos estigmas errôneos que permeiam aquela sociedade branca e aristocrática. 

Era um sábado, dia santo para a maioria das pessoas e, em especial, seu chefe. A santidade não era usada em um sentido literal, obviamente. No entanto, quem nunca usou uma data de cunho religioso para cometer atrocidades? Embora estivesse com uma certa folga, ainda sim exercia sua função de guarda-livros. Analisava as contas do negócio, franzindo as sobrancelhas e crispando os lábios. Nunca tinha visto uma bagunça contábil daquela magnitude, principalmente sob seus cuidados. Poderia não ser o melhor escritor ou leitor do mundo, mas números eram o seu domínio, além das artes plásticas. 

Seus cálculos foram interrompidos por batidas na porta principal. Não tinha empregados. Não ganhava bem o suficiente para isso. Caminhou vagarosamente até a entrada, usando nada além de uma calça folgada e camisa com alguns botões abertos. O calor absurdo de fevereiro não permitia roupas mais pesadas e muito menos janelas fechadas. 

Ao abrir a porta, deu de cara com um homem alto de pele retinta, vestindo roupas quase inadequadas para andar na rua. Uma regata de algodão cru puída, calças com um péssimo tecido marrom e sandálias de couro gastas. Tirou seu chapéu em sinal de respeito ao homem que pensou ser um aristocrata que o olharia com repulsa, mas encontrou um igual. O rosto sofrido, marcado pelo sol e com uma grande cicatriz enrugada, tinha um olhar de respeito. 

Sinhô Ramiro Nevis? — Disse o rapaz com um sotaque diferenciado. 

— Sou eu. 

— Eu trusse um recado di sua mãe, dona Crara — Falou, tirando do bolso um papel amarelado dobrado várias vezes, junto com um envelope preto aveludado com um selo dourado, que destoava completamente de uma correspondência de sua mãe — E um moço todo engumado me pagô pra eu entregar esse cumvite aqui. 

— Obrigado. — Recolheu os papéis, tirando algumas moedas do bolso e entregando ao rapaz — Qual o seu nome? 

Mim chamam de Paulo. — Ele deu de ombros, como se não soubesse se aquele era mesmo seu nome — Minha mãe num tá aqui pra cumfirmá

— Certo. Agradeço, Paulo. Cuidado na rua. — Respondeu, esperando o homem se despedir para fechar a porta. 

Olhou a carta de sua mãe com um sorriso no rosto. Quase sempre recebia cartas dela, mas a saudade nunca era extinta. Depois que viu como o filho tinha potencial para crescer, o mandou com um tutor para que tentasse se misturar com a sociedade, mesmo sabendo dos obstáculos que seriam enfrentados. 

Entusiasmado, desdobrou o papel que continha várias linhas escritas por uma letra familiar que não era de sua mãe. Redonda e caprichada, deveria ser de uma das moças que tinham amizade com a senhora. 

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